segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Debret, defendendo o meu...cumpadi!!







Breves considerações acerca de involução social.



Escrever para mim vem se tornando um spa mental. Ver o lápis deslizando no papel, ou as letras logo após o teclar tem me feito bem, ao mesmo tempo que me sinto útil. Então,  raiar do terceiro ano da segunda década do século XXI vejo-me compelido a escrever para descrever o que penso, do que vi, de cenas cotidianas mas que estão, cada vez mais, preocupantemente pitorescas.

Quisera que o conceito pictorial de nossa sociedade fosse reforçado com bons valores, caso não possível, pelo menos com algo de palatável à coerência do bem-viver social, onde demais sociedades ao nos provar não nos veja como estranhamente aspirantes ao primeiro mundo, todavia com hábitos semi-trogloditas.

Talvez o troglodita seja pesado, reconheço. Contudo venho observando algumas contendas entre cidadãos "defendendo o deles" nas ruas vejo que o senso comum, sobretudo a preocupação com outrem, com o coletivo e público não prevalece. A perspectiva introjetada, goela abaixo, por nossa mui leniente Constituição de 1988, onde os "inalienáveis direitos individuais" prevalecem sobre o bem público, o bem-estar coletivo. O limite individual DEVA ser onde o limite de outrem começa. Pelo menos esse era o mantra ensinado por minha mãe em minha tenra infância.

Falar de coisas não lúdicas, pouco oníricas, no último dia do ano é lasca. Chá de boldo pré-congestão carregada de culpa. Ninguém gosta. Entretanto não que eu não goste do senso comum, tampouco chego ao exagero de Nelson Rodrigues que asseverava que "toda unanimidade é burra". É bem certo que por vezes é o que percebo, notadamente ao ver motos costurando carros em deslocamentos, proibidos por lei mas aceitos, tacitamente, pela sociedade, e com elas vários acidentes, várias furadas de fila nos postos de saúde em emergência -ademais, o idoso que chega às cinco da manhã na fila entende que sua vez será passada para um irresponsável motoqueiro com membros quebrados, peles estraçalhadas etc e com uma ENORME despesa no SUS onde a fatura final irá, inexoravelmente, para a conta de políticos corruptos. Essa miopia perceptiva não será corrigida jamais. Daí meus pendores a concordar, de vez em quando, com Nelson Rodrigues.

Sim, amigos, essas divagações introdutórias são deliciosas, sobretudo quando ainda não embaladas por um bom vinho de fim de ano. A sensação de inspiração lírica fica mais genuína (talvez eu considere mudar essa palavra para não passar a idéia de simpatia mensaleira, enfim...)

Tais prolegômenos servem para antecipar um texto que dará barra de rolagem pequena, ou seja, será longo. Contudo, são divagações que podem, de chofre, ir para a lixeira a um clique da mouse.

Debret, intelectual e artista francês, caricaturou nossa sociedade com um afresco quando retratou um senhor carioca, mijando na parede de uma ruela com um negro escravo com uma sombrinha a lhe proteger do sol. ( Jean Baptiste Debret, Viagem pitoresca e histórica ao Brasil) Para quem quiser busque no google a capa do livro A nação mercantilista, diga-se de passagem, excelente livro, e entenderá o que digo. 

Retratava ele o comportamento do Brasil colônia. Mijar na parede ou poste não era afeto, apenas, a cães. Imagine-se o ambiente no qual a dengue proliferou ao chegar no país vinda da Rep Dominicana. Saneamento talvez fosse apenas nas casas mais nobres. Nas ruas eram excrementos colhidos em vasos e jogados janela fora, com eventual aviso, eventual mesmo, por vezes as escravas nem olhavam janela para fora. Aquele misto de fezes e urina espatifava-se nas ruas e lá ficavam até secar pelo sol e calor escaldantes. Melhor ambiente para proliferação de fungos, bactérias e demais micro-organismos perniciosos não havia.

Evoluímos até o segundo ano da segunda década do século XXI, o século onde, de acordo com os Jetsons, deveríamos ter carros voando, empregadas robôs e tele-transportação física. Deparo-me nas cidades onde passo que o mijadinha na árvore ou nas paredes já é lugar comum, e a vista dos demais transeuntes que já não se importam. Conseguimos, com nossa morena e irresponsável idiossincrasia social, involuir. Faça-se justiça, o que evoluiu foi a condição humana do escravo. Os direitos humanos deram dignidade aos negros. A visibilidade, contudo, está tanta que há uma comissão no Congresso Nacional que quer fazer com que a sociedade expie tais pecados cometidos quatrocentos anos antes. Querem nos impor, goela abaixo, uma indenização moral de 4 trilhões de reais a título compensatório a todo e qualquer descendente de escravo. A comissão existe, a mamata tem que ser institucionalizada. Como vamos, com 1,1 trilhão de PIB, em esforço máximo de produção com uma vexatória infra-estrutura, eu não sei, mas que é objetivo de vida dos espertos, lá isto é.

De paredes, postes de árvores venho constatando uma involução significativa, dentre elas após carreatas e muita bebida, presencio em minhas caminhadas moças acocorando-se para fazer xixi em cantinhos improvisados entre carros estacionados. Ontem mesmo, ao descer com meus cachorros, cinco da manhã, deparei-me com uma jove suspendendo a saia, apoiada pelo namorado, e na esquina de minha casa, ambos vendo-me passar, elas despejou o excesso de bebidas acumuladas na bexiga. Um dantesca cena. Lamentei por sua vestimenta cara, por sua maquiagem cara já em petição de miséria e um casal, ao amanhecer, representando-me toda evolução social guardada somente para a geração Y, tão celebrada por consultores. 

Nas calçadas da praia de Boa Viagem, ao caminhar estes dias, tive que desviar-me, a cada cem metros, de carroceiros conduzindo cadeiras de praia. Deveriam estar na rua devido a seu veículo, entretanto passeiam livremente, acuando transeuntes, nas calçadas. Junto a este "féretro" da ética social e cidadã, caminhões em petição de miséria, fazem parte do circo de horrores de apoio logístico, parando e empatando o trânsito, para distribuir gelo, cadeiras, cervejas, etc etc. Tudo tudo sem recolher impostos tampouco o lixo a sua volta, ao fim do dia. Barraqueiros defendem o dele sem recolher impostos, "informais" (tenho bronca de neologismos politicamente corretos e socialmente irresponsáveis) levam para casa uma gorda "féria".

Ontem presenciei algo horripilante. Um casal aguardando no sinal para atravessar a rua, ambos falando ao celular (acesso a tecnologia - gostaria que Castells e a sociedade do futuro socialmente responsável, de acordo com suas ilações em "A sociedade em rede" presenciasse um contraponto cartesiano, pragmático, a sua visão onírica de mundo europeu.) enquanto uma filha pequena, em torno de cinco anos, apoiava uma outra filha menor, em torno de dois anos, para que esta tirasse a fralda, fizesse coco na calçada com os pais complacentemente falando ao celular e presenciando. Após o "serviço" o bebe vestiu a fralda ante a meu espanto e cruzaram serelepemente a rua passando por dois guardas municipais, que com eu, presenciaram a cena. Nada fizeram, tampouco uma mera observação ainda que jocosa para ver se o casal se tocava. Nada, nadinha, nadica.

Uma das coisas ruins que atribuo a ascensão da esquerda ao poder (não sou de direita, não gosto de política, entretanto a esquerda vendeu uma imagem, ao longo dos últimos trinta anos, que não pratica, demagógica como sempre) é a sensação objetiva de permissividade, e a impunidade decorrente, que o cidadão tem. Ele faz na certeza de que nada lhe acontecerá. A noção morena e irresponsável de "justiça social" imposta por esta esquerda anacrônica, é leniente com esses absurdos e pesada com quem ganha bem, fruto de esforços e recolhimento de impostos enquantos os "informais" são tolerados, quando não celebrados.

Prefiro caminhar ao por do sol, contudo, ante ao fortíssimo cheiro de urina e cerveja, além de cenas degradantes no calçadão, aliado ao trânsito das infernais carroças em recolhida, captulo, preferendo o frescor da manhã. Ledo engano se achava ser mais serena e tranquila, ontem e hoje presenciei discussões de "comerciantes informais" defendendo o seu em dicussões agredindo, sobretudo, a língua mãe, também diante de homens representando a Lei. De tão normal ninguém mais se importa. Ao seguir para a quitanda encerrei, pelo menos assim espero, a cota de perplexidade ao deparar com uma inusitada discussão. Dois idosos prepararam banquinhos com isopores de cerveja, nas ruas de um cruzamento. Claro está que os banquinhos estavam nas ruas e os isopores impedindo a circulação da calçada. Presenciei o esforço de um jovem guarda municipal procurando impedir. O reforço que ele pediu chegou em duas motos. Ambos desceram e começaram a retirar os banquinhos aos brados de um dos idosos: "Isto é um absurdo, isto é truculência, é arbitrário!!  (a esquerda e sindicatos devem ter falado tanto estas palavras ultimamente que acho que se perguntaram eles não devem saber, apenas repetem) Tô defendendo o meu, cumpadi!!

Enfim, pensara em desejar aos amigos um alegre e serelepe ano de 2013. Vejo, entretanto, também ser prudente e cristão desejar CUIDADO!! Tenham muito cuidado em 2013, pois teremos crise de gás devido a leniência governamental, crise energética devido a quase quarenta por cento de fios estarem e petição de miséria causando apagões e despesas não ressarcíveis com eletrônicos, aumento da exclusão de postos de trabalho e substancial aumento de informais e com este a violência e desrespeito. 

Nossa percepção do que é certo, ético e legítimo está seriamente comprometida, portanto, ser abordado ou apanhar de um informal, ou  motoqueiro nas ruas é uma perspectiva bastante realista. Ontem vi a lateral de um Duster ser maldosamente arranhada por uma carroça com o condutor dizendo..."Ele tem dinheiro, conserta logo..."

Fico imaginando um diálogo imaginário entre Debret e Nostradamus. Debret, meu infante, este país estará muito pior no futuro!! Ao que o francês retrucaria: "Velho louco, todas sociedades evoluem. O Brasil, muito por certo, estará bem melhor e evoluído no futuro.

Tristes trópicos!!

Ainda assim, Feliz 2013, amigos leitores que tiveram paciência de chegar até o fim.
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