HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP
SÃO PAULO - Deu no Datafolha que a ideologia interfere pouco na decisão de voto do eleitor. Embora o questionário do instituto mostre que 30% da população podem ser catalogados como de esquerda --enquanto a direita arrebanha 49%--, o PT, partido considerado de esquerda, vem governando o país desde 2003 e é o franco favorito para 2014. Como explicar o paradoxo?
Uma possibilidade é que nossa régua, que marca certos conjuntos de posições como esquerdistas ou direitistas, já não funcione tão bem. Esses conceitos eram suficientemente informativos quando surgiram na França pré-revolucionária do século 18. Os grupos que sentavam à direita da cadeira reservada ao rei na Assembleia (nobres e clero) defendiam as teses conservadoras, e quem se sentava à esquerda (a burguesia) queria mudanças. A distinção era nítida e dava conta dos principais dilemas políticos. O problema é que o mundo ficou mais sofisticado e essa dicotomia, embora satisfaça nosso apetite por classificar, não traduz nuances que ganharam importância.
O psicólogo Jonathan Haidt propõe que a ideologia seja decomposta em seis dimensões, às quais corresponderiam seis sentimentos básicos: proteção, justiça, liberdade, lealdade, autoridade e santidade (pureza). Eles constituiriam uma espécie de tabela periódica do instinto moral. O mapa ético de cada indivíduo seria uma combinação de diferentes proporções desses "ingredientes".
A esquerda se refere quase que exclusivamente aos dois primeiros: ajudar quem precisa e promover a igualdade. Já a direita destaca também ideias derivadas dos outros quatro: valorização do indivíduo, patriotismo, respeito à hierarquia e à religião.
Essa categorização ajuda a explicar não só por que pessoas com algumas ideias bem conservadoras votam no PT como também por que o partido parou de falar em liberação do aborto, legalização das drogas e outros temas que lhe eram caros.
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