Imigração é um tema distante para o brasileiro comum. Retirante soa mais "in" ainda mais com o sucesso do atual presidente oriundo de tal categoria. Contudo o tema sempre aparece nos principais debates e resoluções de países europeus.
A questão da imigração poderá se tornar um problema para nós nos próximos três ou quatro anos intensificada pela melhor qualificação de mão-de-obra, notadamente a de tecnologia de ponta e a de prospecção de petróleo.
O texto abaixo, apesar de ser um tanto hermético brinda o paciente leitor com uma posição que vem se consolidando nos demais países desenvolvidos europeus. A imigração é um fantasma mal resolvido, notadamente pelo envelhecimento da população e por se sujeitarem a atividades e empregos de menor expressão na escalas de valores daquelas sociedades.
Há uma outra questão a se considerar e acompanhar: O crescimento do islamismo na Europa, via imigrantes, já comentado na mídia, apesar de ter sido de forma bem discreta.
Vale a pena ler.
.Que político, o presidente Nicolas Sarkozy ou Jean-Marie Le Pen, a voz do extremismo de direita daqui por mais de uma geração, disse o seguinte a respeito do papel dos imigrantes, particularmente os muçulmanos, no futuro de seu país?
Os recém-chegados devem evitar “a vitimização autoatribuída”. “O sucesso do processo de integração é atrapalhado pelo número desproporcional de não-nativos envolvidos na criminalidade e em problemas, pelas burcas, por homens que se recusam a apertar as mãos de mulheres.” E “a rua também é minha. Eu não quero ter que me desviar caso estejam no meu caminho”?
Resposta: nenhum francês. Os comentários foram feitos por Liliane Ploumen, a presidente do Partido Trabalhista holandês, o maior grupo político de esquerda da Holanda, ao lutar no ano passado para deixar seu partido mais próximo da relevância no dia da eleição, em uma das sociedades tradicionalmente mais tolerantes da Europa.
Uma segunda pergunta: que país de língua francesa votará em 28 de novembro se transforma em lei constitucional a proposta de expulsar moradores estrangeiros condenados por crimes, que variam de atos de violência até exploração indevida da ajuda do bem-estar social?
A resposta: a Suíça realizará um plebiscito com duas opções, com a principal diferença entre elas sendo se a perda do visto de residência dependerá do tamanho da sentença ou da natureza do crime. Mas é principalmente Sarkozy que enfrentou uma enxurrada de críticas na França e no exterior por defender –após a polícia francesa ter atirado em um bairro de imigrantes– que indivíduos com cidadania adquirida a menos de dez anos a perdessem por matarem policiais.
Michel Rocard, um ex-primeiro-ministro socialista, disse que a medida cheirava a nazismo e ao regime de ocupação de Vichy durante a Segunda Guerra Mundial. Membros do Comitê para a Eliminação da Discriminação Racial da ONU, com sede em Genebra, acusaram a França de xenofobia. O editor do semanário esquerdista francês “Marianne” reconheceu que o presidente francês não é um “xenófobo, racista ou fascista”, mas mesmo assim, “Nicolas Sarkozy é um rufião”.
A realidade está além deste tipo de ataque. E sugere que nos países no coração das tradições democráticas do continente europeu, há uma nova noção de normalidade. Após anos em que essas sociedades de forma passiva ou atrapalhada se adaptaram aos imigrantes de países islâmicos e da África negra, uma noção central reversa agora insiste que o comportamento dos recém-chegados deve se adaptar ao da maioria.
As políticas que cercam a mudança variam de estridentes a populistas. Mas como afirmou um documento de posicionamento emitido pela liderança de Ploumen, governos e políticos há muito ignoram os sentimentos de “perda e alienação” enfrentados pelas sociedades nacionais diante das comunidades imigrantes, que desrespeitam ou zombam de suas leis e costumes.
Há um pequeno lado positivo em ignorar um videoclipe como o atualmente descrito na imprensa francesa como “Atire nos Policiais”, do rapper Abdul X. No evento, o Partido Trabalhista holandês, diluindo a abordagem de Ploumen, perdeu as eleições deste ano e deixou o governo. O papel dos trabalhistas na liderança nacional está em processo de ser substituído por uma coalizão minoritária dos liberais e democratas-cristãos que depende do apoio tácito do Partido da Liberdade anti-imigrantes de Geert Wilders.
Por seu apoio, Wilders quer algo de peso em troca. Ele não conseguirá tudo, mas sua lista inclui: o fechamento de escolas islâmicas, a proibição da construção de novas mesquitas, um imposto sobre lenço de cabeça, uma proibição da imigração de países islâmicos, nenhuma ajuda do Estado aos imigrantes até após 10 anos de residência, os chamados contratos de “assimilação” que exigem o cumprimento pelos imigrantes sob pena de expulsão e a classificação dos imigrantes ilegais como sendo criminosos. Em comparação a este padrão holandês, a ferocidade das críticas ao plano de Sarkozy assume um aspecto cômico.
Na Suíça, o referendo constitucional de novembro sobre a expulsão de estrangeiros condenados por certos crimes segue uma votação no ano passado proibindo novos minaretes de mesquitas. Ambos os plebiscitos democráticos suíços foram pedidos pelo Partido do Povo Suíço populista. Desta vez, os socialistas, democratas-cristãos e radicais suíços apoiaram uma proposta concorrente semelhante, também pedindo pela expulsão dos criminosos estrangeiros. Ela inclui trapaças ao bem-estar social, mas apresenta penas gradativamente mais altas. Isto representa claramente a política seguindo a opinião pública.
Quão profunda é essa tendência?
Após Sarkozy ter dito que queria uma lei que fizesse os imigrantes matadores de policiais perderem sua cidadania, e seu ministro do Interior, Brice Hortefeux, pedindo medidas semelhantes para punir a poligamia e a extirpação do clitóris –uma medida condenada pela esquerda como voltada a um segmento da comunidade islâmica– “Le Figaro”, um jornal que apoia o presidente, publicou uma pesquisa mostrando que 70% a 80% da população apoia as duas medidas.
No sábado, o “Marianne” reagiu, com sua própria pesquisa sugerindo uma maior divisão na postura francesa. Mas seu impacto dificilmente fará Sarkozy pensar que cometeu um erro político terrível. O fato é que é difícil saber se Sarkozy realmente pretende lutar para transformar em lei sua revogação da cidadania.
“Le Figaro”, que tem bom ouvido para os ocasionais nuances sarkozyanos, descreveu plausivelmente alguns assessores como tendo dito que seu pedido foi mais um gesto simbólico, visando acentuar as diferenças como o Partido Socialista antes das eleições presidenciais de 2012.
Entre os talentos do presidente está em viver à vontade com contradições. Com o tempo, ao lidar com questões de imigração e identidade nacional, Sarkozy tem pedido tanto por ação afirmativa quanto por tolerância zero –antes de abandonar a primeira e fazer pouco, diante da oposição do sindicato da polícia, para estabelecer a segunda de forma significativa.
De certa forma, isso aponta para a essência (e uma explicação) para o estresse da Europa em relação aos imigrantes muçulmanos. Lugares como a França, Holanda e Suíça nunca passaram pela formação sistemática de confiança e investimento psicológico em seus recém-chegados que uma ação afirmativa promoveria.
Ao mesmo tempo, por conforto e hábito de pagar para não se envolver em encrenca, eles também evitam um confronto com os imigrantes a respeito das exigências de integração de seus países – e as exigências de respeito por parte das civilizações– que uma política consistente de tolerância zero demonstraria. Da forma como segue a nova normalidade, esta incoerência dificilmente parece uma fórmula para criação de calma ou de uma diversidade mais administrável.
Tradução: George El Khouri Andolfato
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