EDITORIAL
ZERO HORA (RS)
O governo está diante do desafio de corresponder às expectativas criadas, não só entre aliados políticos e o meio rural, com duas decisões tomadas num só dia, na última quarta-feira. A primeira foi o acolhimento do pedido de demissão do ministro Wagner Rossi, que não resistiu às denúncias de irregularidades na pasta. A segunda, logo depois de confirmado o afastamento, foi a indicação do deputado Mendes Ribeiro para o ministério. Ao se desfazer do ministro envolvido em desmandos, a presidente da República dá continuidade ao esforço para moralizar a administração. Ao indicar o deputado gaúcho, a senhora Dilma Rousseff contempla politicamente o PMDB, que já ocupava a Agricultura e apoia o nome escolhido e, ao mesmo tempo, leva para a esplanada alguém com quem tem antigas afinidades, fortalecidas durante o governo.
O novo ministro vinha atuando como líder do governo no Congresso, tem experiência parlamentar e um currículo que inclui a gestão de outras áreas, como ex-secretário da Justiça, de Obras e da Casa Civil do Estado. Poderá compensar a falta de maiores vínculos e conhecimentos técnicos do setor primário com outras virtudes reconhecidas pela presidente para definir a indicação. Foi pela capacidade de mediação que o deputado gaúcho assumiu a liderança no parlamento. Suas qualidades como gestor serão testadas agora numa área que, a partir das informações divulgadas pela imprensa, foi exposta como um dos redutos tomados por desmandos.
Não é uma situação nova, mas agravada pela batalha interna pela ocupação de espaços, com as partilhas partidárias que o ex-ministro Wagner Rossi vinha administrando da pior forma possível. O novo ministro tomará posse somente na segunda-feira, mas já anunciou que a atribuição de apurar eventuais delitos na pasta cabe à Polícia Federal, que vem realizando investigações. Sua percepção é apenas parcialmente correta. Também é atribuição do ministro comandar sindicâncias administrativas que esclareçam o que de fato acontecia no ministério.
A tarefa é grandiosa, pois são muitos os indícios de que a Agricultura, a exemplo dos Transportes e do Turismo, foi contagiada pela promiscuidade nas relações de servidores com representantes de interesses privados. Tanto que um ex-dirigente da Companhia Nacional de Abastecimento, afastado em meio às suspeitas, assegura que o ministério foi loteado entre apadrinhados do PMDB, PTB e PT. Se depurar o ministério e se cercar de técnicos – e não de protegidos sem habilitação para as funções –, o ministro estará no caminho certo, para que o setor primário e o país continuem desfrutando do bom momento proporcionado pela valorização mundial das commodities. Espera-se igualmente que a proximidade com a presidente se traduza na garantia de que a produção primária contará com recursos que atendam às demandas do agronegócio e da agricultura familiar.
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