JOSÉ PAULO KUPFER
O Estado de S.Paulo
Está prevista para hoje a divulgação, pelo IBGE, da evolução do PIB, no terceiro trimestre de 2011. Mas já se sabe faz algum tempo que será zero ou muito perto disso, em relação ao trimestre anterior - e um crescimento abaixo de 2,5% sobre o mesmo período de 2010. Quando o Banco Central, em fins de agosto, começou o atual ciclo de corte nos juros básicos, com o objetivo de aliviar os freios da economia, o trem já vinha reduzindo a marcha.
As primeiras informações oficiais definidas para o quarto trimestre - as referentes à produção industrial em outubro, que completou três meses de quedas consecutivas - não apontaram para recuperação, nos últimos três meses do ano. Nas estimativas dos departamentos de pesquisas econômicas dos bancos e das consultorias, o PIB do quarto trimestre mostrava uma expansão de 0,5% ante o terceiro. Mas, pelo andar da carruagem, depois do resultado da indústria em outubro e dos indícios colhidos em novembro, não seria surpresa se o crescimento, entre outubro e dezembro, se limitasse a 0,3% ou até menos.
Evidências de enfraquecimento da atividade econômica podem ser obtidas na própria ação do governo. Além do afrouxamento na política monetária, Brasília voltou a oferecer medidas de desoneração fiscal, dirigidas a setores específicos. As providências deixam transparecer onde a redução do ritmo econômico já é bem nítida - por exemplo, a produção de eletrodomésticos da linha branca. Mas o impacto das medidas sobre os números do crescimento tende a ser limitado. Todas as projeções apontam para um PIB de 3% em 2011 - talvez um pouco menos, muito dificilmente um pouco mais, mesmo com os estímulos recentes.
Parece claro que a atual ação do governo se inspira no êxito da política de estímulo ao consumo que evitou o aprofundamento da retração na esteira do colapso de 2008 e abriu espaços para a forte recuperação de 2010. A dúvida é se esse movimento terá agora o mesmo efeito positivo observado naquela circunstância. Dúvida ainda maior paira sobre a consistência e a durabilidade dessas ações pontuais.
Não há disponível, pelo menos por enquanto e a não ser nos exercícios de projeção do governo, estimativas de expansão do PIB em 2012 acima de 3,5%. Só essa perspectiva de crescimento limitado é suficiente para evidenciar que ações de momento, voltadas para enfrentar choques externos, tendem a no máximo manter o ritmo atual e evitar freadas mais bruscas. Escapar de uma etapa de crescimento apenas sofrível exigirá mais do que vem sendo feito.
Deveria começar por um esforço para fugir da tentação de atribuir todas as dificuldades à crise global. É claro que o quadro internacional adverso, por variados canais de contágio, dificulta as coisas e impõe constrangimentos à expansão econômica doméstica. Mas, antes disso, é provável que ele apenas antecipe impasses e potencialize contradições que nos dizem exclusivo respeito.
Faz sentido, então, indagar se a tendência futura da economia brasileira não é a de permanecer em zona de crescimento modesto menos pela contaminação da grave crise internacional do que pelo esgotamento de um ciclo autônomo de expansão. Esse ciclo seria caracterizado pela inclusão de massas de consumidores ao mercado, via transferências de renda, e teria batido no muro por não ter sido acompanhado, no tempo e no volume requerido, pela expansão do investimento. Atribuir os maus resultados macroeconômicos do terceiro trimestre - todos os componentes da demanda agregada recuaram no período - às atribulações da economia global, em resumo, pode ser um caminho seguro para continuar a rodar em falso.
São muitas e complexas, se o diagnóstico estiver correto, as implicações desse fato para a política econômica. Uma das mais imediatas delas é indicar que ao governo não caberia apenas ligar e desligar o botão de estímulos ao consumo, conforme as circunstâncias do momento. Teria de ser dada prioridade efetiva à expansão do investimento, com a toda trabalheira derivada da aplicação dessa decisão à vida real.
Trata-se de tarefa árdua, que não se limitaria ao já difícil afazer de arrumar as suas contas correntes para abrir espaços aos investimentos públicos - pré-requisito na indução do investimento privado. Além de azeitar os canais de financiamento, com linhas adequadas, a custo compatível e de acesso facilitado, exigiria recuperar a capacidade perdida de desenhar bem e gerir com eficiência os grandes projetos estruturantes de desenvolvimento - dos quais o projeto de transposição do rio São Francisco, caindo pelas tabelas, como mostrou reportagem do Estado, no domingo, é um exemplo de como não fazer.
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