quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Metrópoles em expansão e o futuro

Um texto por demais necessário que reclama um nível de maturidade social que ainda não atingimos, muito pela falta de lideranças públicas e uma notória incapacidade de se identificar referenciais sociais, políticos e públicos, que permitam uma mudança para melhor.

Um exemplo típico e atual é a confusão conceitual verificada no debate sobre a divisão do Estado do Pará.


Houve a tentativa de orçamentos participativos todavia o cidadão comum não comparecia nas reuniões de deliberação onde tais assuntos eram abordados e precisavam de acompanhamento da sociedade. A questão é de fundamental importância para preparar as cidades para o crescimento.

Precisamos crescer, todavia precisamos, como sociedade, amadurecer antes e tornarmo-nos mais participativos nesse tipo de decisões e não terceirizar tal responsabilidade a políticos despreparados.

Ulisses Guimarães disse, certa vez, que políticos do seio do povo, ainda que analfabetos funcionais, era a representação genuína da democracia...na prática e vendo o que hoje atestamos, será que ele estava certo??


Metrópoles em expansão e o futuro

Aldo Paviani
Correio Braziliense



Professor titular aposentado e pesquisador associado do Departamento de Geografia e do Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais/CEAM-UnB



Sabe-se muito pouco dos rumos que as grandes cidades tomarão nas próximas décadas. Muitas vezes, nem se prevê a dinâmica metropolitana do próximo quinquênio. Mesmo com a capacitação e o preparo de técnicos dos órgãos envolvidos com a questão urbana, há variáveis independentes que interferem nos planos e projetos elaborados pelos legislativos e encaminhados para o Executivo. As interveniências se devem ao viés das decisões rápidas e pontuais, geralmente não compreensivas (com visão de totalidade) e visam atender clientelas específicas ou compromissos políticos.

Por isso, as decisões açodadas não são globalizantes e visam atender demanda de algum segmento com a omissão ou o descarte dos desejos mais profundos da sociedade. Nos últimos anos, as metrópoles e aglomerados importantes em todas as regiões do Brasil ressentiram-se de políticas clientelistas e não globalizadas/globalizantes, ferindo o princípio democrático da gestão para a sociedade daquilo que a ela pertence. Considera-se que é a totalidade social que, pagando impostos, fornece os meios financeiros para as administrações municipais, estaduais e da União para a realização das intervenções necessárias.

Em consequência desse estilo de governar, especialistas, e mesmo a mídia, referem-se a caos urbano e a caos social, quando, pela expansão urbana, o transporte de massa é insuficiente e precário; não há escolas e professores suficientes para o sistema educacional funcionar de forma desejável e positiva; os hospitais públicos ressentem-se da falta de pessoal de apoio e de médicos para atender a população e, não menos importante, postos de trabalho novos não são criados no volume da crescente população economicamente ativa (PEA). Por isso, algumas metrópoles se ressentem das altas taxas de desemprego. Além disso, o período de chuvas tropicais traz episódios de catástrofes ditas ambientais como enchentes, deslizamentos de encostas que bloqueia estradas, erosões que se ampliam e solapam moradias. Esse quadro de caos é na verdade histórico e poderá aumentar com a atual crise internacional.

Logicamente, não se prevê o malfado caos urbano, mas ele pode ensejar que o país se adiante aos eventos e tome medidas preventivas ao desarranjo econômico, que teria consequências nefastas. Igualmente, no âmbito de possíveis desastres ambientais do período chuvoso, é necessário que se tomem  medidas concretas que evitem erosões, afastem os moradores das áreas de risco, os vales alagáveis, por exemplo, e se protejam encostas ao longo das rodovias. Nessas, muros de arrimo podem propiciar a contenção, mas não se dispensa a reposição da vegetação eliminada pelas obras viárias.

Para antecipar-se, o Brasil tem condições propícias para criar think tanks ou, em tradução livre, usinas de ideias ou institutos de políticas públicas. Essas instituições podem antecipar-se ao que poderá surgir no horizonte. Em outras palavras, deseja-se o retorno ao planejamento urbano e regional visando o bem-estar da sociedade. Medidas nessa direção podem (e devem) estar em consonância com a projeção de tendências e mesmo com a antevisão de demandas dos destinatários da gestão urbana – os cidadãos, urbanos ou não.

Logicamente, os que pensam o futuro devem ter preparo e estar atualizados. E mais: suas propostas e a respectiva execução não podem tardar, pois, de modo geral, os administradores tendem a encaminhar soluções de forma esparsa e ao sabor do estamento político que se apresenta, muitas vezes, como a sociedade civil organizada. O que se propõe e executa foge ao atendimento de grupos ou clientelas para atingir democraticamente toda a sociedade. Logicamente, os pensadores das usinas de ideias não estarão em torres de marfim, distanciados da realidade e do cotidiano.

Pelo contrário, deverão estar conectados com o mundo ao seu redor com profundo senso de humanidade solidária e consciência da nossa história social e política. Será para a sociedade em geral e para os desvalidos em particular que a sabedoria técnica e científica deverá operar. Nesse ponto, agregue-se o pensamento de Paul Singer em recente evento promovido pelo Ipea: "A essência da democracia é a igualdade".

Se as grandes cidades se expandem e se tornam desafiadoras para a gestão urbana, sobretudo para atender à ampliação das demandas coletivas, caberá aos governantes auscultarem os desejos da sociedade para atender o chamado da solidariedade e do compromisso com a totalidade metropolitana.
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