ENTREVISTA - ROSALBA CIARLINI
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Desde que assumiu, no início do ano, a governadora Rosalba Ciarlini, do DEM, já recebeu a promessa de investimentos de empresas dos mais variados setores: de cerâmico e mineração à construção civil.
Por Denize BACOCCINA
Famoso pelas dunas e lagoas nos arredores de Natal, o Rio Grande do Norte deve continuar atraindo milhões de turistas, mas não quer depender só dessa receita. Desde que assumiu, no início do ano, a governadora Rosalba Ciarlini, do DEM, já recebeu a promessa de investimentos de empresas dos mais variados setores: de cerâmico e mineração à construção civil, aproveitando as riquezas do solo potiguar, pródigo em matérias-primas, como petróleo e ouro. Até 2014, os investimentos podem chegar a R$ 35 bilhões, incluindo os recursos para o estádio Arena das Dunas, que receberá os jogos da Copa, e o novo terminal de São Gonçalo do Amarante – a primeira concessão privada para desatar o nó dos aeroportos no País. A energia eólica é outra forte aposta. “Podemos gerar uma Itaipu de vento”, diz Rosalba, nascida em Mossoró, no noroeste do Estado, onde foi prefeita três vezes. Neta do italiano Pietro Ciarlini, um dos precursores do futebol no Rio Grande do Norte, Rosalba é médica pediatra e mãe de quatro filhos.
DINHEIRO – O Rio Grande do Norte está atraindo muitos investimentos em diversos setores. Qual é a expectativa para o médio prazo? ROSALBA CIARLINI – Até 2014, devemos receber cerca de R$ 35 bilhões. Em energia eólica, já temos assegurados R$ 10 bilhões, sem contar o leilão do dia 15 de dezembro. Para a Copa, temos quase R$ 2 bilhões, entre o estádio de Natal e as obras de mobilidade. Temos a Petrobras, que vai investir de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões anuais, por quatro anos. Estamos trabalhando também para atrair novas indústrias. O porto de Natal está sendo ampliado para atrair novos empreendimentos. Temos, ainda, mineração. Já temos duas jazidas de ferro em exploração, uma delas com potencial de 30 anos. Temos ouro, com uma possibilidade grande de extração na região central do Estado. É um investimento de R$ 2,5 bilhões, com produção estimada entre três e cinco toneladas por ano, o equivalente a quase 10% da produção brasileira. Temos também fábrica de cimento, de cal para siderurgia, porque temos também um calcário limpo e bem raso, de fácil extração. O Estado possui, ainda, a maior salina do Brasil, em cidades como Macau, Areia Branca e Mossoró. Cerca de 95% do sal brasileiro é produzido e refinado no Rio Grande do Norte, e agora começamos a agregar valor ao produto, produzindo sal gourmet, como o flor de sal, exportando até para a França.
DINHEIRO – Há um exemplo bem-sucedido no Nordeste de polo de desenvolvimento, que é o complexo de Suape, em Pernambuco. Ele serviu de modelo para a sra.?
ROSALBA – É o nosso objetivo. Para dar uma ideia, neste ano já conseguimos trazer 15 indústrias para o nosso Estado. De vários setores: cal, siderurgia, mineração. Uma dessas empresas é a Susa, de capitais indianos e brasileiros, que vai exportar minério de ferro. Já temos um polo cerâmico e queremos ampliar as exportações. Temos também granito e mármore. Estamos atrás de indústrias que façam a lapidação dessas pedras para exportação e não como acontece atualmente. Hoje as rochas são exportadas e voltam como granito italiano.
DINHEIRO – O que provocou esse boom de investimentos?
ROSALBA – Se nós quisermos crescer socialmente, temos que crescer economicamente. Estamos dando os incentivos necessários para trocar imposto por emprego. O Rio Grande do Norte é um Estado pequeno, mas tem a renda mais bem distribuída do Nordeste, e um dos melhores IDH. Já tínhamos a fruticultura irrigada, mas agora estamos trabalhando com outros polos. A barragem de Santa Cruz, em Apodi, perto da fronteira com o Ceará, já existe há muito tempo, mas os perímetros irrigados nunca foram feitos. Agora estamos fazendo. É um projeto do governo federal, mas estamos lá cobrando, para que seja realizado o mais rápido possível.
DINHEIRO – Esses projetos já estão gerando empregos?
ROSALBA – Estão gerando empregos na implantação. Por exemplo, a construção do parque eólico de Guamaré, no norte do Estado. Todos os equipamentos chegam pelo porto e são montados com mão de obra local. As cidades onde os parques serão montados passam a ter uma receita extra de Imposto Sobre Serviços (ISS). Nós temos hoje potencial para gerar uma Itaipu de vento, ou seja, 14 mil megawatts. Cerca de 30% desse total já está leiloado. Esse potencial considera somente o que já está medido, e ainda temos outras áreas em medição. Metade da capacidade eólica do País está no Rio Grande do Norte. Empresas como a CPFL Renováveis e a Vale vão investir em energia eólica aqui.
DINHEIRO – A sra. não teme que esses investimentos produtivos afetem o turismo, que sempre foi a principal fonte de recursos do Estado?
ROSALBA – Não, muito pelo contrário. Isso tudo vai fortalecer o turismo. Vamos ter agora um aeroporto com tudo o que tem de melhor no mundo.
Obras do terminal de São Gonçalo do Amarante
DINHEIRO – Mas e outros investimentos, como mineração, petróleo e usinas eólicas, que muita gente acha que enfeia a paisagem da praia?
ROSALBA – Não, nós temos ventos tanto no litoral quanto no interior. Para evitar problemas, temos o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema), para acompanhar os projetos e garantir que eles vão preservar nossa mata, o meio ambiente. O turismo é a indústria que mais gera empregos no nosso Estado. Só a cidade de Natal tem 36 mil leitos de hotel.
DINHEIRO – Como estão as obras do aeroporto de São Gonçalo?
ROSALBA – A pista já está pronta, já foi inaugurada, no dia 28 de novembro, pela presidenta Dilma Rousseff. Agora, houve a concessão para a construção dos terminais, pátios e de toda estrutura ao redor, que ficará pronta no fim de 2013. Os acessos são de responsabilidade do governo. É um processo que começou há uns dez anos, e agora finalmente está tendo continuidade. É a melhor pista do Brasil, onde poderá descer todo tipo de aeronave, inclusive o A380, que é o maior avião de passageiros do mundo (de dois andares). Hoje temos voos charter da Europa e da Argentina e o voo regular da TAP para Lisboa. Vai ser um aeroporto importante, especialmente de carga, porque estamos numa localização estratégica. Estamos a três horas e meia da África, a seis horas da Europa e a oito horas da América do Norte.
DINHEIRO – Ou seja, o aeroporto será um vetor de desenvolvimento.
ROSALBA – Com certeza. A carga virá para Natal e de lá será distribuída para o Brasil todo. O porto de Natal fica a 25 quilômetros. O aeroporto também fica próximo a três rodovias federais. Estamos pensando numa ferrovia interligando o porto e o aeroporto.
DINHEIRO – O Rio Grande do Norte é o terceiro maior produtor de petróleo do Brasil, com extração de 62 mil barris por dia. Quais são os investimentos previstos nessa área?
ROSALBA – Somos o primeiro produtor em terra e o terceiro maior do Brasil, mas muito abaixo de Rio de Janeiro e Espírito Santo. Há possibilidade também de que a Petrobras venha a perfurar em águas mais profundas aqui no Estado. Ainda não sabemos, mas quem sabe não temos um pré-sal?
Parque eólico do Mangue Seco, em Guamaré, no norte do Estado
DINHEIRO – Mesmo com esses investimentos, o perfil econômico do Estado não mudou. A renda per capita ainda é um terço da de São Paulo.
ROSALBA – É, porque ainda estamos estruturando. O resultado vai vir no decorrer de todo o processo. Agora é importante que se consolide toda essa infraestrutura. Vamos também ter uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE), a quatro quilômetros do aeroporto, no município de Macaíba. Vamos ter tudo integrado. Já estamos fazendo um plano diretor para organizar todo o desenvolvimento do Estado, numa perspectiva de 20 a 30 anos. A ideia é que quem vier depois de mim já saiba o que pode e o que não pode fazer, pensando no melhor para o nosso Estado.
DINHEIRO – Os investimentos são todos privados?
ROSALBA – Sim. O investimento público é a infraestrutura para a Copa e as obras do PAC. O estádio Arena das Dunas é uma parceria público-privada. O acesso ao aeroporto é investimento do governo do Estado. Estamos fazendo também obras de mobilidade. Outro grande investimento é em saneamento básico. Temos uma meta de, nos próximos três anos, aumentar a cobertura de saneamento básico de 19% para 80%.
DINHEIRO – A sra. é a única governadora do DEM. Teve alguma dificuldade no relacionamento com o governo federal?
ROSALBA – Não, até agora não senti nenhuma dificuldade. O tratamento tem sido normal. Não me sinto de forma alguma discriminada. Quando assumi, fui conversar com a presidenta Dilma e disse: “Presidenta, o povo quis assim, agora temos que dar as mãos e trabalhar.” Ela me perguntou o que mais me preocupava e eu disse que era a conclusão do aeroporto. Esse aeroporto é a âncora que vai estimular todas as outras atividades no Estado: o turismo, a ZPE. O aeroporto escancara as nossas portas para o mundo.
DINHEIRO – O Estado tem mão de obra qualificada para aproveitar as oportunidades?
ROSALBA – Estamos criando cursos e mudando o ensino médio para transformar em cursos técnicos, seguindo a vocação de cada região. Em São Gonçalo vamos ter ensino técnico voltado a atividades aeroportuárias. Em Macaíba, como imaginamos que a ZPE vai ser muito forte em tecnologia e farmacêutica, temos de preparar os jovens para essas áreas. Não é só o governo. Estamos fazendo parcerias com universidades, com institutos técnicos federais e com o Sebrae.
DINHEIRO – E a salvação são os investimentos?
ROSALBA – Estamos trabalhando para garantir os investimentos, porque aí teremos novos empreendimentos, o comércio cresce, o turismo se consolida e passa a ter uma base de arrecadação maior, mais emprego. Garantimos mais recursos para honrar os compromissos e investir mais em educação, saúde e segurança. Se a gente quer combater a miséria é preciso ter emprego e pessoas qualificadas para conseguir o emprego.
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