Por que insisto tanto em leitura útil? Para promover capacidade de reflexão. As notícias tem o problema, imediato, da falta de compromisso do jornalista com a verdade absoluta do fenômeno que ele noticia. Ele "manda" do jeito que lhe chega sempre com o tempero do sensacionalismo orientado pela linha editorial de seu jornal. Assim, em meu entender, as notícias, em sua grande maioria, não tem a missão de esclarecer e sim de atiçar para venda de jornais.
Considero leitura útil artigos e editoriais pelo simples motivo de haver responsabilidade no que está sendo escrito. Tanto o editorialista como o escritor que assina o artigo tem responsabilidade com o que falam. Ademais, em ambos casos há a experiência pregressa deles na análise do fenômeno ou fato comentado. Muitas vezes suas opiniões são precedidas de pesquisa, reflexão e facilitação da exposição de suas opiniões por intermédio de um português cuidadosamente escrito e revisto. No mínimo ganha-se por ler algo bem escrito.
O que considero, também, leitura útil é aquela que agrega valor, é aquela onde o indivíduo ao ler se sente compelido a refletir, a ponderar, a buscar mais profundidade no que está sendo discutido.
Prefiro romances clássicos da literatura nacional e internacional porque eles, via de regra, falam de situações e vicissitudes que outros indivíduos e grupos sociais vivenciaram em um dado momento histório em uma circunstância geográfica e temporal. O exemplo que sempre me ocorre é o de Honoré de Balzac, "A mulher de trinta anos" que denominamos balzaqueana. Como é que um escritor, alcoólatra, em uma França problemática pós-Napoleônica, com a Inglaterra e Prússia querendo sugar o máximo do espólio napoleônico, consegue ter uma visão que perdura anos. Outro exemplo é a Peste de Albert Camus ou os Miseráveis, de Victor Hugo. Só para citar a França dentre muitos paises.
Nossa literatura também produz clássicos memoráveis que tive a honra de ser obrigado a ler na infância e juventude, e como aprendi a gostar de ler e de "conhecer" o Brasil por intermédio desses romances: A viuvinha, a Mão e a Luva, Iracema, Tronco do Ipê, Morte e Vida Severina, o Quinze, Memórias de um Sargento de Milícias, Grande Sertão: Veredas, O Tempo e o Vento,Os Sertões. Enfim, além de me proporcionar deleite tais romances me mostraram o como os intelectualmente preparados escritores viam a sociedade a sua volta e colocavam tais impressões no papel. Eles, sobretudo, estimulavam a reflexão e a crítica.
Eu temo pela ampliação de acesso de iPad e tecnologias informacionais pois elas afastarão, ainda mais, o cidadão brasileiro da leitura útil e reflexiva em momentos onde a sociedade tem que aprender a olhar para dentro de si e a sua volta para buscar as saídas para os desafios que hoje nos mantém atrelados ao subdesenvolvimento. Leituras breves de mídias sociais e eletrônicas não tem compromisso com a verdade nem com a formação de consciência crítica social. Em meu entender, somente com muita leitura útil e reflexiva é que teremos chance de crescer socialmente.
Sugiro, ou melhor, encareço que as pessoas e os amigos deem de presente clássicos da literatura para seus filhos, sobrinhos, afilhados e parentes. É um investimento no futuro da sociedade.
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