EDITORIAL O GLOBO
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Mesmo com a manutenção da Selic em 7,25%, decidida pelo Copom esta semana, o Brasil recuou no ranking mundial das taxas de juros reais, de que já foi líder, de terceiro para quinto lugar. Com juros de 1,7%, a economia brasileira se distanciou da argentina (4,6%), a primeira colocada nesta desconfortável disputa. A explicação está na persistência da inflação — e isso tira qualquer mérito da política econômica na queda das taxas. A Selic fica no mesmo lugar, apenas a alta dos preços faz cair a taxa real. E é a conjugação de preços em ascensão com a passividade do BC que torna mais intenso o debate sobre os rumos da economia.
Em nota, o Copom, conselho do BC que trata da política monetária, reconhece a degradação do cenário de curto prazo da inflação, assim como admite a lentidão com que a economia reage aos estímulos fiscais e creditícios. Portanto, está claro que, entre estas duas frentes de batalha, o PIB e a inflação, o BC (o governo) reafirma a opção de buscar o crescimento a qualquer custo. Mesmo o custo de mais inflação, coerente com a visão “desenvolvimentista”. (Cabe lembrar, sempre, dos riscos da estratégia numa economia com longo passado de descontrole de preços.)
Visto por um ângulo mais amplo, a decisão do BC é parte do sério problema da baixa confiabilidade que passou a ter o governo na condução da economia. Quando começou a executar cortes nos juros, a autoridade monetária fez o certo, apesar das críticas iniciais. Mas o terceiro ano consecutivo sem que o centro da meta de inflação (4,5%) seja alcançado, com os índices oscilando acima dos 5%, e a decisão desta semana reforçam a suposição de que esta política foi abandonada. Ou que a verdadeira meta é outra, mais alta.
A perda de confiança na administração da economia passa pela percepção de analistas de que a própria política do “tripé” — câmbio flutuante, meta de inflação e superávit fiscal — foi deixada de lado. No câmbio, parece haver um tabelamento acima de R$ 2. No campo fiscal, até mesmo o ex-ministro Delfim Netto, defensor da política econômica dos governo do PT, não digeriu as maquiagens da “contabilidade criativa” feitas para tentar mascarar o não atingimento da meta de 3,1% do PIB para o superávit das contas primárias (gastos não financeiros). Isso quando havia bons argumentos para justificar a falha o superávit mais baixo, como ocorreu.
Em colunas nos jornais “Valor” e “Folha de S. Paulo”, Delfim atacou a sucessão de “espertezas” capazes de destruir “o esforço de transparência que culminou na magnífica Lei de Responsabilidade Fiscal”, segundo o ex-ministro, “sob permanente ataque” do PT.
Compreensível que investidores se retraiam, mais ainda depois do viés intervencionista exposto pelo Planalto. A presidente Dilma passou a conversar com empresários. Sempre é bom ouvir a sociedade. Mas, para estabelecer uma confiança mínima na política econômica, será preciso mais do que palavras.
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