Goste-se ou não é o cenário prevalente. No mundo a fora vence e permanece o mais capacitado, o mais competente. A sociedade, como um todo -e não terceirizando a outrem a responsabilidade- deve assumir a fiscalização da Educação nos três níveis de formação e cobrar o esvaziamento das ideologias e oportunismos que nos tornam pouquíssimos competitivos como mão-de-obra qualificada.
Esta situação só irá mudar no dia que a sociedade assumir sua responsabilidade.
Atraindo talentos de fora
Marcelo Côrtes Neri
Valor Econômico
O maior desafio ao desenvolvimento é a educação. A proposta de alocação de recursos do pré-sal nessa rubrica enseja sustentabilidade - suprindo melhores recursos humanos à medida que os proventos do ouro negro caiam. A limitação dessa, ou de outras estratégias educacionais, são os longos horizontes de tempo envolvidos. A plena maturação do investimento em pessoas requer tempo e paciência. A questão aqui endereçada é como acelerar a transformação educacional em curso da nossa força de trabalho. Como chegar logo ao longo prazo?
Não nos referimos aqui à migração por motivos humanitários de países pobres, ou países em conflito, mas aquela voltada a reforçar nossa competitividade econômica. Se queremos produzir e exportar mais, atrair talentos importa. O Canadá, que se notabilizou por uma política de atração de cérebros altamente qualificados, possui uma política internacional humanitária exemplar. No aspecto humanitário, o Brasil tem exercido crescente papel de exportador de políticas sociais.
A crise internacional oferece oportunidades de acelerar os avanços educacionais de nossa força de trabalho por meio da imigração da mão de obra qualificada. Em muitos casos, os mesmos países que impulsionaram a onda migratória para o Brasil do século passado estreitando laços culturais, linguísticos e uma rede de patrícios são os que estão de certa forma liberando população por falta de perspectivas laborais e econômicas.
Em época de crise europeia e pleno emprego brasileiro, a imigração iluminaria o apagão de mão de obra qualificada
A população de países mais afetados pelo estouro da crise recente passou a querer migrar para fora. Esse processo está apenas começando. Em 2009, entre os patrícios portugueses,14% planejavam emigrar contra 27% deles em 2012. Na Itália esse índice passa de 17% para 26%; na Grécia, de 17% para 24% e na Espanha, de 8% para 15% no mesmo período. No Brasil, nesse ínterim, acontece o contrário - a população que planeja sair da terrinha cai de 15% para 12%, era 18% em 2007 e 2008. Em época de pleno emprego brasileiro, a imigração permite iluminar o chamado apagão de mão de obra qualificada.
Apresentamos uma das mais baixas proporções de emigrantes em outros países; 142º em 149 países, o que reflete fechamento ao fluxo de pessoas e/ou uma alta atratividade do país. Curiosamente, os demais países dos Brics ocupam juntos a lanterninha desse ranking. De qualquer forma, podemos explorar a migração de retorno dos brasileiros. A imigração para o Brasil sofreu um incremento de 86,7% na década passada. No topo disso aumentou a parcela da imigração de retorno de brasileiros de 61,2% do total de imigrantes no ano de 2000 para 65% em 2010. O Censo 2010 revelou de maneira inédita, em relação aos levantamentos anteriores, um estoque de 491 mil brasileiros morando no exterior, sendo São Paulo e Minas Gerais os principais pontos de partida da emigração brasileira e Estados Unidos, Portugal, Espanha, Japão e Itália seus países de residência majoritários.
Os EUA, que foram durante nossas décadas perdidas o destino preferencial de nossos emigrantes, hoje em crise abrigam ainda 23,8% de brasileiros residentes no exterior, pouco mais de 100 mil. Estudo que realizei em 2004 baseado em pesquisas domiciliares americanas indicou número maior de 200 mil brasileiros lá radicados. Ela mostrava que 8,84% dos brasileiros radicados nos EUA apresentavam pelo menos mestrado completo contra 6,28% dos nativos americanos e 1,1% dos imigrantes mexicanos.
É fundamental saber como o mercado de trabalho valora diferentes carreiras profissionais e conhecimentos adquiridos em diferentes países. Há bases para isso. Além do nosso crescente acervo de informações domiciliares ibgeanas de migração e dados administrativos como os do Ministério do Trabalho, outros órgãos federais como a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República e instituições de pesquisa como a Fundação Getulio Vargas, tem se debruçado nos detalhes legais, econômicos e administrativos sobre como impulsionar a imigração de mão de obra qualificada.
Não se trata apenas do hard power das oportunidades econômicas existentes no Brasil mas também explorar o poder de sedução do nosso soft power sobre pessoas de alto nível educacional. Da mesma forma que entre nossos municípios com maior concentração de pessoas de nível universitário hoje são lugares aprazíveis de se morar como Florianópolis, Niterói, Santos e Vitória, podemos explorar o "Brazilian way of life" como motivação migratória ao olhar estrangeiro, algo singelo do tipo: "Be happy!: Move to Brazil."
Campanha publicitária como as empreendidas pela Embratur no exterior, só que alinhada com incentivos de preços relativos. A mesma valorização cambial dos últimos dez anos que repele turistas estrangeiros, atrai a mão de obra estrangeira para ganhar a vida aqui em reais. Além disso, há aumento do poder de compra dos salários em reais. As vantagens econômicas da migração devem ser didatizadas em sítio na rede voltado ao público potencial migrante sobre os prêmios trabalhistas de diferentes cursos universitários em território brasileiro. O repatriamento de nossas estrelas do futebol internacional simbolizam a reversão dos fluxos migratórios e sugerem garotos-propaganda numa eventual campanha para a atração de talentos de fora.
Marcelo Côrtes Neri é presidente do Ipea e professor da EPGE/FGV. Autor de "A Nova Classe Média" (Editora Saraiva), "Microcrédito: o Mistério Nordestino e o Grameen Brasileiro" (FGV) e "Cobertura Previdenciária: Diagnósticos e Propostas" (MPS). Escreve mensalmente às terças-feiras.
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