PAULO BROSSARD
ZERO HORA
Embora os escândalos sejam diferenciados eles se interligam. Faz lembrar uma furunculose
Como o Supremo Tribunal Federal, após quatro meses de trabalhos exaustivos, condenou e absolveu acusados, vem de concluir o julgamento da ação penal 470, seria o momento para algumas observações acerca de um processo criminal sem precedentes na história da nação. Ocorre que quase ao mesmo tempo sucedeu episódio também sem paralelo na crônica nacional. Exatamente alguns condenados criminalmente juntaram-se em bando com o fito de desqualificar o Tribunal que os condenara com a particularidade de tratar-se da mais alta Corte judiciária do país. As decisões judiciárias podem ser censuráveis uma vez que nenhum Tribunal é infalível pela simples razão de que seus integrantes também não são; aliás, em princípio a crítica é útil, sob uma condição prévia, a de que o crítico tenha autoridade intelectual para fazê-lo, sem falar em outras e no caso em tela não se trata de crítica, mas de agravos e agravos pesados. Dir-se-ia um bando de "aloprados", para repetir a expressão usada pelo ex-presidente Luiz Inácio para situação semelhante. O particularmente grave, no caso, é que o próprio ex-presidente tem se manifestado na linha dos "aloprados" nas afrontas ao judiciário. Decretando que o "mensalão" nunca existiu, dessa premissa inverídica passa a asseverar ser uma "farsa". Isso depois que o Supremo Tribunal Federal, ao cabo de 53 sessões públicas, assistidas por milhares de brasileiros, condenou 25 denunciados e absolveu 12. Nunca houve processo criminal tão numeroso e complexo e nenhum que tenha recebido tamanha publicidade, e o ex-presidente pura e simplesmente nega a existência do "mensalão". Um perjuro não faria melhor. É lamentável, mas especialmente é triste.
Prefiro abster-me de qualificá-lo devidamente. Contudo, não é tudo, praticamente ao mesmo tempo, outro escândalo veio à tona, chamuscando o ex-presidente. Não preciso entrar em pormenores, nem aludir a intimidade conhecida, basta dizer que agora o cenário era o gabinete da Presidência da República em São Paulo, cuja chefe vinha do octonato passado e continuou sob o governo atual, a rogo do ex-presidente, salienta-se. Os fatos apurados pela Polícia Federal eram de tal natureza que a personagem em causa, entre outras, foi afastada ou demitida. Concluída a investigação policial, remetido o processo ao Ministério Público este ofereceu denúncia com base em quatro delitos e a denúncia recebida. Não é necessário dizer mais, mas para que se veja a olho nú a gravidade dos fatos que envolvem este caso basta dizer que até o comércio de pareceres sob encomenda era especialidade da casa.
Embora os escândalos sejam diferenciados eles se interligam. Faz lembrar uma furunculose de escândalos.
Para não sair do capítulo dos escândalos, parece-me imperioso mencionar o que se passa no mundo parlamentar com a CPI do Cachoeira. Ao cabo de oito meses de trabalho, fartamente noticiadas as revelações ocorrentes, tendo como centro uma grande empreiteira e várias pessoas, na hora de concluir, ficou o dito por não dito. A despeito do que fora apurado e publicado, o resultado fixou em zero a zero. Nada de nada, a não ser o encerramento da investigação. Pessoa experiente resumiu o caso de maneira breve e clara, dizendo apenas que os autores desse passe de mágica podiam ser artistas de muitos talentos, mas "não podiam ser deputados". Nada mais.
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