quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Paradoxo: Popularidade, Inflação e Produção



Prof. Dr. Afonso Farias Jr

O nível de desemprego de 4,9% (21dez2012-IBGE) poderia ser celebrado como grande trunfo governamental, caso o desequilíbrio do resto da economia não fosse tão enfático.

Quando a crise iniciou-se em 2008, o governo brasileiro optou pela estratégia de privilegiar o consumo e não o investimento, assim como, por tabela, desestimular a poupança. A baixa importância direcionada ao desenvolvimento da infraestrutura, principalmente desde 2003, está fazendo o Brasil enfrentar apagões por toda parte: na área de energia elétrica, na telefonia, nos transportes rodoviários, nos aeroportos, nos portos, na produção de petróleo e de etanol etc.

As agências reguladoras, importantes órgãos temáticos de controle, tornaram-se lócus de apadrinhamentos políticos. Que vergonha passa o País, uma vez que secretárias impõem seus desejos e articulações fraudulentas em detrimento dos processos definidos em norma legal, vejam os escândalos revelados pela Operação Porto Seguro.

2012 vai chegando ao final com expansão do PIB próximo de 1% e IPCA de quase 6%. Combinação pouco salutar e que muitos não esperavam no início do ano. Lembre-se que as expectativas iniciais do mercado para 2012 eram de crescimento de 3,3% e inflação de 5,31%.

Para 2013, estima-se um crescimento do PIB entre 3 e 3,5%, mas, caso os investimentos estruturantes não se confirmem, esse percentual poderá cair.  

Outro fato importante é perceber que os sem-terra NÃO QUEREM TERRA, pois quando as tem, não sabem o que fazer com ela e tratam logo de vendê-la. Na verdade, o que buscam mesmo é emprego.

Os empresários pregam a desvalorização cambial e mais redução dos juros, mas o que realmente querem é incremento de competitividade da indústria e mais resultados em lucros. No fundo, eles estão mais ligados à redução de impostos, à infraestrutura melhor e mais barata, à Justiça mais confiável e mais rápida, à mão de obra mais treinada e mais eficiente, isto é: mais educação profissional, mais investimentos estruturantes em infraestrutura e por em execução a reforma tributária. Querem mais previsibilidade na economia nacional.

A carga tributária está exorbitante. Aumentam os puxadinhos tributários construídos com renúncias fiscais. Está previsto, para 2013, mais de R$ 40 bilhões. Essa corda pode romper... Um PIB que nem poderá chegar a 3,5% em 2013 contribuirá para um maior desequilíbrio da economia, já bastante afetada.

Corre-se o risco do governo se conformar com uma inflação alta, com pibinhos seguidos e que se encaminhe para promover a manutenção do alto nível de popularidade.

Faz-se necessário zelar pela eficiência, qualidade do investimento e que isso ocorra seguidamente, por vários anos e com taxa de crescimento em torno de 4 a 5%. Aliado a essas medidas, é essencial que o planejamento e a qualidade da despesa para investimento sejam realmente levados a sério, pois desperdiçar investimentos em refinarias mal planejadas, ou em petroleiros lançados ao mar sem condições de navegar, ou ainda não construir as linhas de transmissão das geradoras de energia são ações pouco patrióticas e que contribuem para a entropia dos sistemas produtores nacionais. Ademais, vale frisar também que moeda depreciada e barreiras protecionistas nunca serão suficientes para compensar as ineficiências do sistema produtivo. Curiosamente, alguns profissionais parecem ainda acreditar nisso.

Dessa forma, em 2013, inicia-se a segunda metade do mandato presidencial. Tem-se o seguinte: a) uma ameaça de baixo crescimento de um lado e b) um risco de alta inflação do outro. Pode-se até alegar que poderá haver problemas entre Fazenda e BC, o que levará ao término da harmonia entre esses órgãos e a presidência da República. Se isso ocorrer, o caos estará instalado.

Como já percebido, há um paradoxo no ar. A chefe do Executivo permanece com popularidade elevadíssima (causa provável são as questões voltadas para a renda e emprego com resultados positivos), mas a produção nacional e o ritmo inflacionário campeiam caminhos mais amplos e com velocidade em ascensão. O mínimo que se deve ter é preocupação, muita. Será que se pode desejar um feliz 2013? Está difícil, mas ainda apostarei que sim... Feliz 2013!!!
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