terça-feira, 17 de agosto de 2010

Quem descobriu a América (do Sul)?

O texto abaixo ressalta a projeção que o Brasil e a América do Sul estão tendo em termos de se receber investimentos em maior quantidade que os demais países e regiões do mundo.


O autor apresenta um ponto de vista importante, contudo ele não fala, em momento algum, nos fortes pendores ideológicos que estão sendo repetidos em todos os acordos assinados entre os chefes de Estado dos países vizinhos.

A questão que o autor procura evidenciar é a capacidade que nossos países têm de se integrar na economia mundial a partir de suas potencialidades, sobretudo as reservas minerais e eu citaria o que ele não fala, sobre nossos mananciais de água doce e potável que hoje já é um tipo de repositório estratégico do mundo.


Em meu entender ele comete um equívoco ao comparar o periódo dos descobrimentos e colonizações, longe no tempo, com a atenção que grandes investidores têm agora. Contudo ele esquece que já fomos a atenção da Europa, notadamente da Alemanha e Inglaterra, desde a primeira guerra mundial. O que fez aqueles países não investirem muito é um problema que nos empata até hoje: Relevo por demais acidentado e muitas regiões com baixíssima concentração demográfica.

O importante é que ele ressalta o fortalecimento de blocos, como o que defendo veementemente, o Mercosul.

A análise é boa a agrega conhecimento.




Quem descobriu a América (do Sul)?


Autor(es): Antonio José Ferreira Simões
Valor Econômico - 10/08/2010


Nossa inserção na América do Sul não é mercantilista: visa a integração e a solidariedade. É preciso que todas as partes sintam que ganham algo

Quem descobriu o Novo Mundo? Todos sabem a resposta. Mas nem todos lembram o quanto custou a Cristóvão Colombo persuadir os líderes e a sociedade de sua época sobre sua iniciativa.

Sem apoio em Gênova, Colombo buscou o rei de Portugal, que também lhe rejeitou a ousada proposta. Desbravar novos mares, em vez de explorar o próspero comércio mediterrâneo?! Mais flexíveis, os reis da Espanha deram uma chance a Cristóvão. Meses depois, em 1492, ao saberem do descobrimento das Américas, muitos setores ibéricos reagiram com contínua desconfiança: Novo Mundo? Para quê? Foi preciso dar tempo ao tempo para que a nova realidade fosse percebida.

Hoje está claro que as navegações ibéricas produziram uma transformação no mundo ao deslocarem o centro de gravidade da economia mundial do Mediterrâneo para o Atlântico e ao projetarem o domínio do Ocidente. Os poderosos centros comerciais da Itália cederam lugar a Espanha e Portugal, que ascenderam em riqueza e esplendor. Logo em seguida, o nascente capitalismo holandês e inglês fez do comércio a mola mestra da nova prosperidade europeia.

Hoje também vivemos profundas transformações. Fareed Zakaria, com seu livro "O Mundo Pós-Americano", explica que o fenômeno é menos a decadência relativa dos Estados Unidos e mais a ascensão dos demais. Para ter-se uma ideia, observem-se fatos que eram impensáveis há 10 anos: de acordo com a revista "Forbes", o homem mais rico do mundo não é americano, mas mexicano. Da lista de bilionários, fazem parte dois indianos (3º e 4º lugares) e um brasileiro (8º lugar). Podemos citar vários outros exemplos: o maior shopping center do planeta não está no Ocidente, mas em Pequim. Entre as multinacionais que podem colocar-se entre as 25 maiores, há quatro do Brasil, quatro do México, três da Índia, duas da China, uma da Argentina e uma do Chile.

O eixo da economia mundial vai-se deslocando para o Sul. A locomotiva já não está nos países ricos, mas no mundo emergente. Está ocorrendo aos poucos, mas firmemente, a desconcentração de riquezas no planeta. Entre 1990 e 2007, o PIB mundial passou de US$ 22 trilhões para US$ 54 trilhões - sendo que metade desse crescimento se deu nos mercados emergentes. Em 2030, Brasil, Índia, China e Rússia, os Brics, representarão 50% da produção mundial.

Quem deixar de ver essa tendência pode ficar à margem e perder capacidade de influir, como os genoveses que viram pouco sentido em investir no comércio com o Novo Mundo e continuaram apostando em Florença.

A política externa brasileira está muito atenta a essas transformações. Está procurando usar as forças que buscam redesenhar a geografia política, econômica e comercial em favor do desenvolvimento do Brasil. É sob essa perspectiva que deve ser compreendida a política para a América do Sul. O subcontinente é, hoje, o centro dinâmico do comércio internacional do Brasil. Como mercado para as exportações brasileiras, a América do Sul é maior do que os Estados Unidos. Entre 2002 e 2008, nossas exportações para a região cresceram 412%, passando de US$ 7,5 bilhões para US$ 38,4 bilhões. Deste total, 90% são bens manufaturados - ou seja, aqui vendemos produtos elaborados, com alta margem de valor agregado, e não apenas produtos primários. No Brasil, as exportações para a América do Sul geram impostos e empregos de carteira assinada. Diferentemente dos países ricos, que recorrem a milionários subsídios e barreiras elevadas para impedir nosso acesso, o potencial de ampliação de nossas exportações é muito elevado na América do Sul.

No sentido inverso, o Brasil pode ser uma fonte de dinamismo para as economias sul americanas. Em 2002, comprou da região US$ 7,6 bilhões. Em 2008, esse número passou a quase US$ 25 bilhões (mais 220%). Esse novo dinamismo gera renda e empregos formais para milhões de sul-americanos, criando um efeito de estímulo mútuo ao crescimento. A presença de empresas brasileiras na América do Sul está colaborando para transformar a infraestrutura dos países vizinhos, com a construção de estradas, aeroportos, hidrelétricas, petroquímicas. O governo brasileiro financia parte dos projetos, principalmente por meio do BNDES. O total de financiamento em 2009 chegou a US$ 8 bilhões para a América do Sul.

Nossa inserção na região não é, porém, mercantilista: visa a integração e a solidariedade. É preciso que todas as partes sintam que estão ganhando algo. Há desequilíbrio com os vizinhos - as chamadas assimetrias - que precisamos compensar. John Kennedy dizia que é perigoso ser rico num mundo de pobres. É preciso crescer com os vizinhos, gerando sinergias. Com a Unasul, estamos criando uma frente de países que podem explorar a força do coletivo e aproveitar as oportunidades desse Mundo Novo.

Da mesma forma que o rei de Portugal desdenhou Cristóvão Colombo, ainda há vozes no Brasil que não compreendem as oportunidades da nova geografia mundial. É hora de o Brasil descobrir a América do Sul. É o lugar do Brasil no Admirável Novo Mundo que está em jogo.
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