sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O amigo dos idosos

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O amigo dos idosos Zuenir Ventura

O GLOBO - 07/08/10


Os jovens que me desculpem o paradoxo, mas o futuro é nosso, dos idosos. O Brasil está ficando cada vez mais velho, e isso é bom sinal. Envelhecer ainda é a melhor alternativa à morte. Hoje, são 21 milhões os que tem mais de 60 anos (a população acima dos 80 cresceu 70% nos últimos dez anos).

Em 2025, seremos 32 milhões. "Seremos", no meu caso, é força de expressão. Pelas estatísticas, já estou na prorrogação.

Talvez por isso, por ter ultrapassado o limite da expectativa de vida do brasileiro, que é de quase 73 anos, mantendo em funcionamento alguns sinais vitais, fui convidado a participar de dois encontros sobre o tema, acho que como curiosidade: do XVII Congresso de Geriatria e Gerontologia, em Belo Horizonte, realizado há dias, e da Jornada de Saúde, que vai acontecer no Rio em setembro.

Na capital mineira, nada menos que 3.500 participantes assistiram a seminários e palestras sobre uma preocupação que perpassou os debates: como melhorar a qualidade de vida do idoso. Aprendi muito. Graças, por exemplo, ao médico gerontologista Alexandre Kalache, autoridade internacional no tema, soube de um importante trabalho que vem desenvolvendo.

Em 2007, então diretor do Departamento de Envelhecimento da Organização Mundial da Saúde, Kalache implantou um projeto piloto em Copacabana para saber o que pensavam os mais velhos. A pesquisa chegou a três resultados: a grande preocupação deles era com a segurança, o maior inimigo eram os motoristas de ônibus, e o maior amigo, os porteiros dos prédios.

O modelo correu o mundo. "Com base no piloto Copacabana", conta Kaleche, "fomos para Vancouver, onde sofisticamos a metodologia, já com a participação de doze cidades que queriam se tornar 'amigas dos idosos'". Em seguida, o estudo se estendeu para outras 35 metrópoles.

Mas o projeto exigia uma resposta do poder público, que no Brasil, para variar, não veio. Ele apelou então para a parceria privada, e assim vai implantar pelo menos uma de suas ideias. Nascido e criado em Copacabana, Kalache observava que os porteiros desempenhavam papel importante junto àqueles que muitas vezes moram sozinhos ou passam o dia sem companhia.

É do porteiro em geral a primeira ajuda. É a ele que se recorre numa emergência.

"Se eles já são amigos espontaneamente", raciocinou o gerontologista, "o que dirá se receberem algumas dicas de como lidar com os idosos?" É o que se propõe a fazer agora, esperando contar com o apoio dos síndicos. Ele lança no dia 18, no Clube Marimbás, a campanha "Porteiro amigo dos idosos". Trata-se de um treinamento básico no Senac, financiado pela Bradesco Seguros e com direito a diploma para pendurar com orgulho no hall de entrada dos prédios. Depois, o médico espera civilizar os vilões, os condutores de ônibus.
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