Política externa é fator de Estado, de Nação politicamente organizada e madura e não condutor de ideologias.
A sociedade perde assim, contudo, não se apercebe para cobrar mudanças de rumo.
Enquanto Estadistas pensam na próxima geração, governantes como os recentes e que permanecem, pensam na próxima eleição.Uma das matizes de nossa atual crise de referencias éticos. Infelizmente estamos acometidos dos últimos.
"Não verás país algum..." parafraseando no real sentido, Inácio de Loyola em seu livro de mesmo título...
Brasil recai na 'diplomacia companheira'
O Globo
Não resistiu muito tempo a reciclagem da política externa sob o comando de Dilma Rousseff. E o Brasil voltou a ficar do lado errado, o de ditaduras violentas, genocidas. Desta vez, em apoio aos Assad, donos da Síria, onde, segundo estimativas da ONU, já morreram 2 mil pessoas sob bombardeios do regime. Ontem, foram no mínimo 18.
O primeiro sinal de que a política externa poderia voltar a correr no leito das melhores tradições do Itamaraty foi emitido por Dilma recém-eleita presidente, em entrevista ao "Washington Post". Nela, criticou a abstenção brasileira numa votação na ONU de moção contra o Irã devido ao desrespeito pelos direitos humanos por parte do país dos aiatolás e de Ahmadinejad. Já no Planalto, Dilma reforçou as expectativas otimistas ao instruir a representação brasileira na ONU a não ter a mesma condescendência dos tempos de Lula com o líbio Muamar Kadafi, "amigo e irmão" do ex-presidente. Se no Conselho de Segurança o Brasil se absteve na apreciação da resolução com base na qual a Otan interveio para conter os ataques das forças armadas leais ao ditador à população, no Conselho dos Direitos Humanos foi firme e concordou com a expulsão da Líbia deste fórum, também das Nações Unidas. Havia a possibilidade concreta de terem ficado para trás os tempos de imoral convívio da diplomacia brasileira com ditadores de todo tipo, em nome de um antiamericanismo juvenil, num repeteco deprimente de uma política de "não alinhamento" inspirada no esquerdismo da década de 60 do século passado.
Mas a entrada da Síria na agenda das preocupações mundiais levou o Itamaraty de Dilma a uma recaída na "diplomacia companheira", simpática a qualquer um que tenha carteirinha de "anti-imperialista". De Robert Mugabe a Chávez, péssimas companhias. (O mesmo raciocínio levaria ao apoio a Hitler e Mussolini.) Pois, quando países árabes como a Arábia Saudita e Kuwait retiram os embaixadores de Damasco, a Turquia se mostra impaciente com os Assad, e até a Rússia não esconde algum mau humor com os antigos aliados, o Brasil, junto com Índia e África do Sul, tem feito o possível para evitar uma resolução do Conselho de Segurança à altura da tragédia em curso na Síria. No máximo, apoiou uma "declaração" inodora do CS sobre o conflito, com a cínica conclamação a ambos os lados para evitarem a violência, inclusive contra "instituições estatais". Argumento brasileiro: é preciso encontrar uma fórmula negociada de saída da crise. Só muita ingenuidade ou - o provável - doses cavalares de ideologia.
Nesta semana, Barack Obama deu um ultimato a Assad, seguido por Angela Merkel (Alemanha), Sarkozy (França) e Cameron (Inglaterra). Já passou da hora de uma resolução firme do CS, para barrar a carnificina. O fim de semana deve ser de intensas negociações entre as chancelarias, e Dilma ainda tem chances de reparar o erro crasso que comete neste recuo. Mas há o risco de, assim como na gestão Lula, a presidente colocar a política externa no pregão das barganhas. Lula, para conseguir, principalmente no primeiro mandato, executar uma política econômica séria, concedeu ao PT numa diplomacia terceiro-mundista. Será profundo equívoco se Dilma imaginar trocar a mediocrização da diplomacia por uma política interna de alguma intransigência com a corrupção, e que já incomoda o PT. Questões de princípios não devem ser mercadejadas.
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