EDITORIAL
CORREIO BRAZILIENSE
Posições ambíguas da diplomacia brasileira deixam o país em situação constrangedora. No governo Lula, os casos Zelaya, Ahmadinejad, Orlando Zapata puseram Brasília na contramão do mundo. Dilma Rousseff acendeu a esperança de correção de rumos. Mas dois acontecimentos põem à prova a esperada guinada da presidente. Um deles, a cautela em tomar partido em relação à Líbia. O outro, a não condenação do sanguinário regime sírio.
A demora em reconhecer o Conselho Nacional de Transição (CNT) como o único governo legítimo da Líbia tem explicação em interesses financeiros. O Ministério das Relações Exteriores quer ter a certeza de que o movimento rebelde honrará os contratos firmados pelo ditador Muamar Kadafi com empresas brasileiras. O valor do negócio com as construtoras Odebrecht, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez, além da Petrobras, chega a US$ 5 bilhões.
O Itamaraty se vê em meio a uma escolha de Sofia. De um lado, se apoiar a autoridade insurgente, pode decretar involuntariamente o fim da parceria econômica com Trípoli caso o CNT não respeite os contratos. De outro, se demorar a admitir o fim do regime de Kadafi, correrá o risco de ter a credibilidade abalada perante a comunidade internacional. É fato que os 42 anos da ditadura de Kadafi estão acabados. O homem que se considerava o "pai da nação líbia" e "o rei dos reis africanos" teve a cabeça colocada a prêmio e jamais voltará a governar a Líbia, caso consiga sobreviver à fúria e à justiça dos rebeldes.
É compreensível que a diplomacia do Brasil preserve e defenda os interesses do país. No entanto, torna-se constrangedor o cuidado em excesso, enquanto a Liga Árabe, parte da União Europeia, os Estados Unidos e até mesmo nações vizinhas, como a Colômbia, já avalizaram o CNT. Na condição de potência emergente, o Brasil tem a obrigação moral de se posicionar no cenário internacional — de forma clara e transparente.
A inércia em relação ao massacre cometido pelas tropas sírias de Bashar Al-Assad também carece de explicação lógica. O país, que prima pelo histórico pacifista e pela defesa dos direitos humanos, coloca em xeque, com essa decisão, a ideologia e a imagem arduamente construídas. A execução a sangue frio de civis desarmados deveria merecer condenação exemplar e rígida. Mas o Brasil prefere silenciar ante as barbáries de Al-Assad, mais uma vez fazendo valer a diplomacia da cautela fora de hora.
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