quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Falta de equipamentos limita avanço do Pré-Sal

O pré-sal foi descoberto no governo de Itamar Franco, ou seja, há vinte anos. Desde então, também, nossas reservas tem sido objeto de compra externa.
Estamos com esse gargalo de explorar mais nosso potencial e reduzirmos a desigualdade distributiva por falta de investimentos em educação e preparação de mão-de-obra especializada.
À consideração dos leitores.




Gabrielli diz que gargalo do pré-sal é de equipamentos

André Magnabosco, Irany Tereza, Kelly Lima e Renée Pereira
O Estado de S. Paulo

O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse ontem, no Seminário Novos Desafios do Pré-sal, promovido pelo Grupo Estado, que a demora na entrega de equipamentos encomendados no exterior está atrasando os projetos. Segundo ele, o problema pode até comprometer os investimentos este ano. Em entrevista, Gabrielli defendeu ainda a interferência do governo nas decisões da empresa. Petrobrás, segundo Gabrielli, tem projetos e recursos, mas demanda é maior que a capacidade dos fornecedores. O desenvolvimento do pré-sal já esbarra em gargalos da indústria de sondas e equipamentos. Ontem o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, disse que a demora na entrega de equipamentos encomendados no exterior está atrasando o desenvolvimento de projetos e pode até comprometer os investimentos este ano - já reduzidos da previsão inicial de R$ 93 bilhões para R$ 84,7 bilhões no Plano de Negócios da estatal divulgado em julho. Segundo Gabrielli, a empresa tem projetos, tem recursos, mas demanda maior capacidade da indústria mundial de atender no prazo as encomendas. "De 13 sondas compradas no mercado externo para operar este ano, 6 chegaram com atraso e ainda estamos no aguardo de outras 7 que já deveriam ter chegado", comentou em entrevista exclusiva ao Estado, após participar do seminário Os Novos Desafios do Pré-Sal promovido ontem pelo Grupo Estado em parceria com o Instituto Fernand Braudel, em São Paulo. A ideia de realizar o evento surgiu depois da publicação no Estado, entre fevereiro e junho, de uma série de artigos do diretor do instituto, Norman Gall. Na avaliação de Gall, o Brasil precisa de um debate mais amplo e profundo ante os enormes desafios e riscos que a exploração do pré-sal impõe. "No início, fiquei entusiasmado com o pré-sal. Depois, comecei a ficar preocupado quando o presidente Lula disse que as descobertas eram um bilhete da loteria premiado." Para Gabrielli, apesar de os desafios serem enormes, a empresa está preparada. "A Petrobrás é a maior exploradora de petróleo em águas profundas do mundo." Ele afirma que haverá maior concentração de investimentos no segundo semestre, para acelerar projetos que ficaram parados pela falta desses equipamentos. De janeiro a junho, a Petrobrás investiu apenas R$ 32 bilhões do total previsto para 2011. Para o período entre 2011-2015, do total do Plano de Negócios, de US$ 224 bilhões, o pré-sal é o que concentra os volumes mais expressivos. São 42% do total nas fases de desenvolvimento dos campos já conhecidos e na área recebida do governo por meio da cessão onerosa durante o processo de capitalização. Esses recursos vão permitir elevar a produção do pré-sal, que hoje responde por 5% de toda a produção no país para algo em torno de 40% em 2020. "O pré-sal vai produzir, em 2020, 2,7 milhões de barris por dia. O volume corresponde ao que produzimos hoje. Ou seja, levamos 54 anos para chegar à nossa produção atual, crescendo 10% ao ano nos últimos 30 anos. E vamos levar os próximos nove anos para produzir essa mesma quantia no pré-sal", disse o presidente da estatal. Além da demanda aquecida no mercado mundial, a Petrobrás enfrenta a necessidade de cumprir as exigências de conteúdo nacional, ficando à mercê de custos mais elevados da cadeia de petróleo no País e sujeita à falta de capacidade de absorver as encomendas nos prazos adequados. Segundo Gabrielli, para atingir a meta de produção de 6 milhões de barris por dia em 2020 será necessário implementar 35 sistemas de produção entre 2015 e 2020. "Cada um deles significa milhões de trabalhadores treinados, milhares de fornecedores, milhões de certificados, toneladas de contratos. Até 2013, já temos contratados todos os equipamentos que precisamos e estamos contratando o que vamos precisar em 2014. Mas cumprir esses prazos não depende de nós. Depende da cadeia de fornecedores do Brasil e fora do País." Política industrial. Gabrielli afirmou que em breve o setor deverá contar com uma política industrial para tentar resolver esses gargalos. "O governo vai lançar e vai ser bem boa. O governo está preocupado com a questão." Para o analista do BTG Pactual, Gustavo Gattass, o ritmo da indústria local e a falta de espaços para fazer a integração das plataformas em território nacional pode ser um obstáculo ao rápido desenvolvimento do pré-sal. "A Petrobrás terá de instalar 54 novos sistemas de produção até 2020. Nos últimos dez anos, das 36 unidades instaladas, 13 foram realizadas aqui. Dá para fazer tudo aqui? Dá. Mas vai levar mais tempo. Por isso, o governo e a sociedade vão ter de decidir se querem isso ou não." Gattass defendeu que a Petrobrás pudesse aproveitar que atualmente está desenvolvendo as áreas adquiridas nas primeiras rodadas da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) - e que não tinham a exigência de conteúdo nacional - para direcionar encomendas para o exterior. Para o diretor-geral da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip), Eloi Fernández y Fernández, as principais barreiras para a indústria nacional se tornar competitiva estão relacionadas à carga tributária, ao câmbio e ao custo de capital. Para ele, seria fundamental que o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) fosse o "maestro" de um instrumento de execução da nova política industrial. Além dos especialistas acima, participaram do evento ontem, a diretora da ANP, Magda Chambriard e o diretor para a América Latina do Revenue Watch Institute, Carlos Monge.
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