segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Professoras Rosinhas



RICARDO SEMLER
FOLHA DE SP


É só parar numa escola qualquer, Brasil afora, para ver que professores entram no ramo por idealismo
Os professores brasileiros são vermelhos, marxistas. Como a vasta maioria é mulher, são Rosas de Luxemburgo. Donas Rosinhas. É assim que muitos dos experts em educação enxergam as professoras da rede.
Quando estava para assumir a empresa, em 1978, enfrentei uma greve e levei um susto. O chefe do Departamento Pessoal, um advogado que falava em "priscas eras" e classificava as grávidas de "prenhes", havia chamado a polícia montada.
Lá estavam eles, do alto de puros-sangues ingleses, com cassetetes em punho dispersando os operários. Os nossos operários, com quem eu tomava café à tarde. Nunca me recuperei daquilo.
Marquei para irmos à sede do sindicato dos metalúrgicos. Houve incredulidade dos dois lados. Fizemos a primeira visita de empresários ao sindicato para negociar.
Começamos a entender os porquês e, depois de alguns anos criando credibilidade mútua, ficamos 25 anos sem greves.
Basta rever estereótipos. Também com os professores.
Depois que a linha de montagem esquartejou o currículo, o sistema escolar emburrecido fez nascer uma máquina de moer ideais.
Perguntei aos experts se estudos demonstram a preponderância de socialistas. Eles explicam que há pesquisas, das Unescos da vida, nas quais os professores respondem que a igualdade é mais importante do que a liberdade. E censos em que declaram que querem formar cidadãos questionadores, que mudem a sociedade.
Para esses pesquisadores, tudo isso é indício de esquerdismo, essa terminologia antiquada.
Ora, quem quer alunos ativos na tentativa de melhorar o mundo é idealista. E qualquer neoliberal deveria querer o mesmo. Ou o mundo está bem resolvido e só interessa preparar a meninada para o tal do mercado?
É só parar numa escola qualquer, Brasil afora, para saber que os professores entraram no ramo por idealismo. O ideal de ajudar a formar pequenos seres, o de apoiar e acompanhar o desenvolvimento mágico que leva cidadãos ao mundo por meio de mãos cuidadosas. É uma função tribal e bonita.
Mas, com secretários pressionando por cortes, pais que depositam os filhos no prédio e somem, métodos que mudam sempre, reciclagem, horários quadrados e dezenas de crianças que não querem estar lá, só se apoiando em um sindicato.
Não tem nada de esquerdismo, mesmo quando está sendo liderado por socialistas. É que os ideais dos professores não resistem a tanto encaixotamento emburrecedor.
Que se abra esta caixa de pandora -dentro, há donas Rosas que são mães do conhecimento e da sabedoria infantis. E não professores vermelhos que precisam ser dispersados a cavalo.
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