Maurício Corrêa
Correio Braziliense
Advogado
Os gastos com os preparativos para a realização da Copa do Mundo de 2014 e com as Olimpíadas de 2016 vão ser inestimáveis. Para sediar os dois magnos eventos do calendário esportivo internacional, o Brasil terá que arregaçar as mangas e andar rápido. O acontecimento por sua grandeza não guarda precedentes na história desportiva latino-americana. É impossível precisar o montante do que efetivamente deverá ser expendido em termos de dinheiro público. Os custos devem ser altos na medida em que muitas atividades esportivas exigem instalações específicas para cada modalidade competitiva. Governo, técnicos, engenheiros e operários brasileiros vão ter que trabalhar duro para cumprir satisfatoriamente os compromissos assumidos com a comunidade mundial.
O megaempreendimento demandará recursos para a construção ou remodelação de estádios, ginásios, estradas, aeroportos, vias de acesso da rede hoteleira nas cidades onde houver jogos de futebol e das praças esportivas, onde se travarão as demais espécies esportivas. Além dessas frentes a serem atacadas, os investimentos terão também que ser canalizados para as áreas de segurança e de transporte, para restringir a citação apenas a esses setores do serviço público. É bom lembrar que as obras públicas são orçadas regularmente com preços preestabelecidos e prazos de entrega definidos. É sabido, porém, que nunca se cumprem nas datas e segundo as estipulações avençadas. A inadimplência contratual nesse sentido parece estar culturalmente enraizada nos costumes nacionais. Por isso, devem os contratos contar com rigorosa fiscalização e acompanhamento das autoridades do setor.
Os dois eventos esportivos que movimentam a vida do planeta vão coincidir, se as circunstâncias até lá permitirem, num mesmo momento em que as condições econômicas nacionais estão sendo favoráveis. Um conjunto de medidas na economia iniciadas no governo Itamar Franco, consolidadas por Fernando Henrique Cardoso, seguidas por Lula e que ora têm curso com a presidente Dilma, colocam o país como beneficiário dos dividendos gerados com o sacrifício daqueles tempos. Antagonismos políticos felizmente não puseram a perder o que se fez com esforço para o bem do país. Não houve desídia de gestores públicos que atirasse pela janela o que se conseguiu reunir com esse fim.
Os mecanismos de controle a que se submetem os administradores públicos — que vão do presidente da República ao mais simples prefeito de município da hinterlândia nacional — vedam-lhes gastos que excedam os parâmetros delimitados pela Lei de Responsabilidade Fiscal. A segurança fiscal no controle da máquina do Estado foi, entre tantos, um dos modelos de gestão que se responsabilizam pelo sucesso de políticas públicas no Brasil. Sem dúvida que a experiência tem sido elogiada por economistas de várias partes do globo e tem servido de espelho para muitos países.
No cisma do planeta causado pela descoberta dos rombos perdidos da dívida americana, sob a qual outrora vetustas e bem alicerçadas economias agora tremulam, o Brasil pode se dar ao luxo de abrigar os dois eventos, sem que tenha de fazer correr a cuia de pedinte ou de endividar-se na cornucópia dos endinheirados. Apesar da tranquilidade da economia nacional, só um insano aplaudiria as dificuldades das nações ricas que estejam em zona de risco. O Brasil só será forte se as demais nações também forem fortes. A robustez da economia de uma nação se dá com a robustez das demais. Os produtos de nosso mercado devem ser vendidos para os que possam pagar o que comprem. Se pudermos, devemos socorrer as nações que precisam — o Brasil não foge desse dever —, mas há que se torcer para que saiam da pobreza e prosperem, porque só assim haverá mais mercados para se vender.
O tempo e a isenção política levam-me a querer a esta altura da vida estar mais perto da verdade. A democracia se faz não só com os que estão legitimados no poder, mas sobretudo com os que lhes façam oposição. As duas entidades políticas constroem as bases para que o regime democrático viceje. A falta de alguém que possa contrariar quem manda constitui o primeiro elemento da desordem institucional. Por mais seguro que se acha o dirigente no poder, deve ser ele mesmo o primeiro a querer que haja quem lhe faça oposição. Porque é pelos outros que se pode sentir os próprios erros. É, enfim, pela voz dos contrários e pela imprensa livre que se faz democracia.
Ótimo, assim, que vivamos numa democracia. As peças disformes postas no tabuleiro do poder têm que cair. Não se pode transigir com gente que não serve. A correlação de forças no governo vai se provando com o passar do tempo. Para merecer a confiança da nação, não é possível que se compartilhe o mando com brasileiros que provaram não ser do bem. Sempre é possível encontrar alguém qualificado para o lugar de recaídos. O estágio econômico e social do país representa o esforço conjugado dos que lutaram para que o país se organizasse. Custou o suor de muita gente. A celebração das realizações esportivas marcadas para os anos que se aproximam pertence ao labor dos brasileiros dignos. Não dos que desonram ou ultrajam a pátria.
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Em sintese, apontou o caminho certo, sem apontar pessoas. cabe a interpretação e pôr em prática.
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