quinta-feira, 25 de agosto de 2011

De Gaulle, a faxina e o Shangri La inatingível



Nos idos de 1973 foi relançado um maravilhoso filme chamado Lost Horizon onde tudo era onírico, ético, perfeito. Pessoas felizes, funcionais em sociedade e um desenvolvimento igualitário. Filme, é claro.

O mito da sociedade madura e perfeita nos persegue e, também, inatingível desde que tentamos no alvorecer da República, nos livrar dos políticos portugueses incrustados em nossas Assembléias em todos os Estados onde o compadrio prevalecia muito acima da meritocracia.

Vieram presidentes militares, civis, novamente militares e finalmente civis e os mais de cinco mil municípios continuam a vivenciar o pesadelo dos desvios, da corrupção, notadamente para se atender o mesmo número de câmaras de vereadores que, querendo um quinhão dos orçamentos municipais, sempre regularam a gestão dos prefeitos. Estamos falando em República com mais de cem anos com seus vícios incrustados no DNA político e social do brasileiro.

 Vem, então, nossa idiossincrasia com os pequenos, porém contumazes, exemplos de “pequenas corrupções” sociais do dia a dia. Esses pequenos “escorregos” já fazem parte de nossa história e, creio jamais nos deixarão. Estão no código genético. Senão, apenas para se dar um simples exemplo, será que se escolhendo, aleatoriamente, um grupo de cidadãos brasileiros, de qualquer parte do território nacional, eles devolveriam dinheiros e riquezas de outrem achadas a esmo assim como os japoneses o fizeram após o tsunami? Eu duvido muito, muito mesmo. É que sei ler e vivenciar a idiossincrasia de nossos compatriotas, não tenho falsas expectativas.

Claro está que sou a favor de uma faxina na vida política nas três esferas de poder: municipal, estadual e federal. Claro está que o clamor popular nos leva a esse Shangri La. Mas será que assim procedendo, com a faxina feita:

O cidadão vai deixar de comprar produtos piratas?
Vai ser mais responsável no trânsito?
Vão deixar vagas de idosos ou de deficientes livres nos locais públicos?
Vai declarar fielmente seu imposto de renda?
Vai emitir nota fiscal de todas as vendas?
Vai se livrar, de vez, do fulaninho que “me arruma por menos”?
Enfim, para não me alongar, será mais genuinamente ético no seu dia a dia, preocupado com o desenvolvimento social coletivo?


Temos um "sem número" de pequenos atos de corrupção e lesivos perpetrados pelo cidadão comum no dia a dia.


Ademais o cidadão brasileiro tem um problema sério com autoridade instituída, haja visto o nosso herói nacional, o Joãozinho sempre sacaneando a professora.

Amigos, pelo que sei de nossa morena idiossincrasia, acredito que não. E não estou nem um pouco preocupado em parecer politicamente correto. Sou pragmático. Estamos buscando algo que, no fundo, não queremos.

O cidadão não é tapado, sabe exatamente o que quer, tem mais de 98% de lares com televisão e sabem de todos os corruptos e votam nele eleição após eleição, inclusive nos que renunciam para não serem cassados. Eles são reconduzidos pelo voto dos brasileiros que, no fundo, não se importam com a corrupção. A expressiva maioria dos eleitores no país votam em um “tiririca” mas com ar de gente séria e circunspecta.

Eu não acredito que vingue porque no fundo e, sobretudo, o cidadão não usará dessa mudança para abstrair e aplicar os novos conceitos e em suas condutas sociais rotineiras.

Precisamos acabar, antes, com a demagogia que nos assola. O Senado que capitaneia o apoio à faxina é o mesmo que nega o financiamento público e transparente de campanhas eleitorais.

Então, estamos falando e pedindo o quê, então? Fala sério!!!

O cidadão não se mobiliza nem para ir em reunião de condomínio, como é que vai querer se mobilizar, em âmbito nacional, contra um tema tão risível?

Alguém, de fato, acredita que após uma faxina nacional o fornecedor de órgãos públicos vai vender material de qualidade? Não vai superfaturar (aliás, com a lei 8666, o que é isso mesmo?), será que os aditivos irão sumir? 

Como diria Charles De Gaulle: “N’est pas um país serieux!!” E não somos, infelizmente, ao longo da História provamos que não somos.

Vamos buscar temas mais sérios, tais como epidemias, saúde e saneamento, greves de professores, educação escolar, desastres naturais, energia, infra-estrutura etc etc etc,  pois iguais a esse desde 1890 vem se tentando e não se consolida.


No dia que eu perceber que o cidadão comum está mudando seus hábitos e querendo assumir a ética como doutrina de vida então passarei a acreditar que faxinas serão críveis. Caso contrário...

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