ALBERTO TAMER
O Estado de S.Paulo
Indiferença, desânimo e novos sinais de recessão. Os investidores não esperavam muito dessa propalada reunião de emergência da Alemanha e da França. Eles queriam apenas um pouco, mas não veio nada de concreto. Apenas promessas que beiram o óbvio. Nos comprometemos a defender o euro, afirmaram Merkel e Sarkozy, como se pudessem dizer que iriam abandoná-lo neste momento de crise. Foram obviedades que adiam a solução de questões urgentes. A eterna repetição de promessas que não foram cumpridas. Ninguém acreditou. Os investidores continuaram comprando títulos do Tesouro americano (e do Brasil também) enquanto as bolsas perdiam o pouco que haviam recuperado no dia anterior.
Eurobonds? E a ideia de emitir eurobonds, que tornariam "todos" os países-membros responsáveis pela dívida do bloco? Afinal, afirmam os analistas, a situação financeira da Eurozona não é tão ruim assim. O déficit fiscal do bloco do euro é de apenas 4,4% e a dívida pública de 87% do PIB. Nos Estados Unidos, o déficit é de 10% e a dívida de 99%. Os eurobonds seriam bem recebidos pelos investidores que chegaram a cobrar 6% para rolar títulos da Itália e da Espanha.
E o aumento de capital do fundo de socorro? Merkel e Sarkozy foram categóricos: o assunto nem constou na reunião. "Podem ser imaginados no fim do processo de integração fiscal, não no começo", afirmou Sarkozy informando que é essa também a posição de sua colega. Só que ela é mais radical: "Nem antes, nem agora e muito menos depois", de acordo com o seu porta-voz.
Mais recessão? Foi o fracasso da tênue esperança que ainda existia nesta semana. Mas não foi uma terça-feira de todo vazia para as notícias negativas. Houve mais. Um dia antes da reunião, a França confirmou que sua economia estagnou no último trimestre e, no mesmo dia do encontro, a União Europeia informava que a Eurozona só havia crescido 0,2%. Na Alemanha, que ainda crescia 0,1%, foi o pior resultado na Eurozona desde 2009. Isso revela que a economia está à beira da recessão. E isso mesmo porque, apesar do desemprego de quase 10%, os governos da região estão mais preocupados com a "assustadora" inflação de 2,5%. É a "eurocessão", é a vitoria da insensatez, afirma o Nobel de Economia Paul Krugman, que tem cada vez mais seguidores no New York Times. "Não é a divida que só se paga com emprego e crescimento".
A revolta de um homem só. Nos Estados Unidos, enquanto a economia desacelera, Obama inicia a sua revolta "árabe" de um homem só contra os radicais do Partido Republicano. Saiu andando pelo País culpando-os pelo que está ocorrendo, pedindo que os eleitores pressionem seus representantes para que lhe deem liberdade. Pode até estar sendo ouvido, mas chegou tarde. Deveria ter feito isso quando o Congresso votou o teto da dívida.
Ora, mais um pacote. A Casa Branca informou ontem que Obama deve anunciar no próximo dia 5 um novo pacote de incentivo em estudo pelo Fed, Tesouro e por sua equipe econômica. É o terceiro desde a crise de 2008. A notícia foi divulgada pela manhã, mas ninguém se entusiasmou. O governo está nu e não tem onde se esconder diante da desaceleração econômica e da ameaça de recessão, diziam no mercado. Obama não pode aumentar gastos, não pode investir mais, não pode estimular a criação de empregos. Os consumidores ficaram ainda mais retraídos em meio a essa crise política que reduziu o governo à impotência para agir. É o "efeito desconfiança", que aumenta e levará o Fed a injetar mais liquidez no mercado, que pode ao aumentar a riqueza, mas desvalorizará ainda mais o dólar. É a guerra cambial de Mantega.
Marcha da insensatez. A previsão do mercado ontem era de mais dias e semanas de frustração na economia mundial, com todos decidindo adiar soluções inadiáveis e alargando o caminho da recessão. Como a historiadora Barbara Tuchman é a "marcha da insensatez" que avança pelo mundo, mas felizmente ainda não chegou ao Brasil.
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