sábado, 10 de setembro de 2011

TRAGÉDIAS EMBARCADAS



EDITORIAL
ESTADO DE MINAS


Carretas e caminhões causam uma em cada quatro mortes nas estradas

Desde que optou por privilegiar caminhões e carretas para o transporte de carga, em prejuízo das ferrovias, que fizeram sucesso em vários países, como os Estados Unidos, e por desprezar o longo curso dos rios que cortam seu território e a extensa costa banhada pelo mar, o Brasil paga preço alto em vidas e prejuízos. São recorrentes os apelos para que o governo invista na duplicação e atualização das rodovias que cortam Minas (estado que conta com a maior malha federal), sabidamente precárias. O Anel Rodoviário de Belo Horizonte e a BR-381 (trecho Belo Horizonte - João Monlevade), por exemplo, são estrelas no pior dos sentidos do noticiário. Mas essas pistas da morte não são o único problema. A todo instante, as estatísticas da tragédia diária de nossas rodovias são engrossadas por desastres que têm nos caminhões e carretas os piores e mais frequentes protagonistas.
Reportagem do Estado de Minas revela hoje o tamanho do perigo que representam esses verdadeiros monstros mecânicos sobre pneus: uma em cada quatro vítimas das estradas no estado foi morta em acidentes provocados ou em que esteve envolvido pelo menos um caminhão ou uma carreta. Os registros da Polícia Rodoviária Federal (PRF) mostram que em 2010, das 1.344 pessoas que morreram nas estradas federais de Minas, 346, ou seja, 25%, estavam em acidentes com veículos de carga. As ocorrências envolvendo máquinas pesadas somaram 14.066, 48% dos 27.366 registros do ano passado. A reportagem fez um levantamento das ocorrências divulgadas pela PRF e constatou que, apenas entre 1º de maio e ontem, caminhões e carretas tinham se envolvido em pelo menos 83 acidentes que, além de matar e ferir, provocaram congestionamentos que prejudicaram o tráfego por 173 horas e 45 minutos. Isso equivale a oito dias de rodovias praticamente paralisadas ou abertas apenas em meia pista.
E não se esperam boas notícias. Pelo contrário. Quanto mais se acelera o crescimento da atividade econômica no país, mais cresce seu efeito colateral negativo nas estradas, com o aumento explosivo de carga a ser transportada. Em consequência, a frota de caminhões cresceu 85,6%, entre 2000 e maio deste ano, e já passa dos 4 milhões de veículos. No mesmo período, as carretas passaram de 251,3 mil para 453 mil, expansão de 80%. O problema é que, mesmo tendo abandonado ferrovias e barcos, o Brasil há muitos anos trata mal suas rodovias. Na verdade, enquanto aumenta o número de famílias que viajam de carro, e os automóveis ficaram mais velozes, as carretas e caminhões também ficaram maiores, mais potentes e mais numerosos. Mas as estradas mantêm velhos defeitos, a largura das pontes é a mesma e as curvas perigosas continuam tirando vidas. Nem é preciso lembrar que o efetivo e os recursos materiais da PRF não tiveram igual evolução. Quebrar a rotina da matança e dos prejuízos causados pelos caminhões e seus motoristas – nem sempre bem preparados e frequentemente maldormidos – é desafio que cabe aos governos federal e estaduais enfrentar e pode ser um bom começo para a nova fase que se espera vai começar, depois da faxina ética do Ministério dos Transportes.
.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

GEOMAPS


celulares

ClustMaps