quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O número um -

DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense


Muitos países têm lá algumas questões sobre as quais, quando falam, todos param para ouvir. O Brasil tem agora a chance de ocupar esse lugar em temas ambientais


Salva pelo gongo com um acordo que só produzirá efeitos práticos depois de 2020, a Conferência sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (ONU), em Durban, na África do Sul, mostrou que, entre a crise econômica internacional e o investimento numa "economia verde", os países preferem trabalhar para tentar sair do redemoinho econômico e, depois, pensar no "resto". O tal Fundo Verde, criado na Conferência de Cúpula, em dezembro de 2010, em Cancún, continua como uma promessa distante.

Para refrescar a memória, há um ano, representantes de 193 nações definiram a criação de um fundo de US$ 100 bilhões anuais disponíveis a partir de 2020 para auxiliar os países não desenvolvidos a preservar o meio ambiente. Mas ficou aí. Não se fixou a fonte de receita, a partir de quando os recursos serão arrecadados, quem iria gerir e quem terá direito a receber. Ou seja, o lado prático da vida ficou para ser estudado e os tomistas consideraram que, em Durban, seria possível clarear mais essas questões.

A Conferência sul-africana chegou e nada foi feito. Parte da delegação brasileira, em especial, a parlamentar, saiu meio frustrada com a falta de decisões. A única vantagem da Cop-17, avaliam especialistas, foi o fato de a China e os Estados Unidos terem assinado o acordo e se comprometido com as reduções futuras. Para uma conferência que muitos apontaram como fadada ao fracasso, por conta da falta de pré-acordos ao longo do ano, foi a salvação da lavoura ou, melhor, da floresta.

Os presidentes de vários países dispensaram a reunião de Durban. Só o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, abriu o encontro e, ainda assim, o discurso preparado ficou pela metade porque as folhas estavam fora de ordem e Zuma, cioso da importância do tema, se viu obrigado a optar pelo improviso. Do governo brasileiro, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, não pôde acompanhar todos os debates por causa da votação do Código Florestal. Mas, ainda assim, sua equipe estava lá desde o início e o Brasil fez sua parte defendendo o Protocolo de Kyoto, prorrogado até 2017.

Janela
O Brasil fala do alto de quem está no topo da lista no quesito redução de emissões de gases tóxicos. Os brasileiros que participaram da conferência do clima, em Durban, caso da senadora Vanessa Graziotin (PCdoB-AM), voltaram para casa certos de que o Brasil não pode perder a chance de ser o primeiro nessa questão do meio ambiente. Muitos países têm lá algumas questões sobre as quais, quando falam, todos param para ouvir. Quando a Inglaterra fala sobre bancos, ou quando os Estados Unidos falam sobre tecnologia, todos escutam. O Brasil não tem essa posição em nenhum tema. Talvez no futebol ainda carregue essa marca de ser o primeiro, por causa do número de títulos mundiais que tem — uma posição que rendeu o slogan "todo mundo tenta, mas só o Brasil é penta".

Vencer no futebol, no entanto, é pouco para quem deseja um lugar de destaque e respeito em todo o mundo. Houve um lampejo de liderança ainda no combate à fome quando o presidente Lula, no início de seu primeiro mandato, propôs a todos um programa mundial. Depois, entretanto, até o tal programa ficou a ver navios. Agora, mais uma janela se abre: o país, dizem alguns, ainda tem algum colchão para tentar escapar da crise econômica internacional, apesar do crescimento econômico zero registrado no último trimestre. Portanto, há folga para tentar jogar pesado em favor da chamada economia verde.

A ideia é aproveitar a Conferência de Desenvolvimento Sustentável da ONU, a Rio+20, daqui a seis meses, para se colocar como protagonista nessa área. Mas, para isso, a presidente Dilma Rousseff tem de começar a trabalhar já, dentro de um projeto nacional de desenvolvimento sustentável que ainda não apareceu. Se não vier até julho do ano que vem para ser exibido na Rio+20 e na largada da eleição municipal, essa chance de ocupar o alto do pódio pode escorrer pelos dedos. Afinal, se Durban foi apenas uma carta de boas intenções, é sinal de que o mundo ainda não está muito ligado nesse tema. E quem se ligar e agir primeiro levará vantagem no futuro.
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