sábado, 14 de abril de 2012

A era da exuberância irracional no uso do petróleo


STEVE LEVIVE
O Estado de S.Paulo 

Nesta era de frequentes acontecimentos surpreendentes que vivemos nos últimos cinco anos, alguns pensadores do setor energético estão alertando para a formação de uma bolha de entusiasmo otimista e irreal em relação ao petróleo americano - uma mudança reconhecida por muitos que, caso se concretize, pode perturbar a geopolítica dos Estados Unidos até o Oriente Médio e além.

Há uma mudança em curso, mas não teremos um novo mundo, diz Dan Pickering, copresidente da Tudor, Pickering Holt, firma de Houston que investe em energia.

O novo modelo de abundância segue a seguinte lógica: os americanos consomem atualmente cerca de 18,5 milhões de barris de petróleo por dia, dos quais cerca de 8,5 milhões são importados. Mas, nos próximos anos, os Estados Unidos terão acesso a outros 10 a 12 milhões de barris diários, obtidos com o petróleo de xisto argiloso (folhelho), com as jazidas canadenses de areia betuminosa, com as reservas das profundezas do Golfo do México e com a produção marítima brasileira. Se tudo isso for somado, e levarmos em conta o declínio no consumo, o que temos não é apenas uma autossuficiência hemisférica, mas também a superação do volume produzido por Arábia Saudita e Rússia, o que faria dos EUA os maiores produtores de petróleo.

Pickering diz que o cálculo é "um sonho otimista" alicerçado numa extrapolação dos dados. Excluído o Brasil, cujos números ele considera difícil precisar, Pickering prevê crescimento na produção americana de petróleo de cerca de 2,5 milhões de barris por dia - até 1,5 milhão obtido do petróleo de folhelho, e 1 milhão de barris vindos do Canadá. Ele diz que, em 2020 e além, os EUA continuarão a importar de fora da América do Norte cerca de 6 milhões de barris por dia.

Tecnicamente, isso não faz de Pickering uma pessoa cuja opinião destoa das demais: a Energy Information Administration (EIA), agência oficial que acompanha o setor, também diz que os EUA continuarão um grande importador nos próximos dez anos; a previsão da EIA é maior do que a de Pickering - 7,5 milhões de barris importados por dia em 2020, o equivalente a 40% da demanda americana.

Mas, na prática, Pickering se transforma em voz dissonante porque, de acordo com as opiniões de diferentes diretores executivos e analistas da indústria, o problema da EIA é a sua lentidão; essas pessoas dizem que as estimativas da EIA para a produção de petróleo obtida do folhelho são muito conservadoras, assim com a agência subestimou o boom na produção americana de gás extraído do folhelho que inundou o mercado e alterou parte do cálculo global dos suprimentos energéticos. (A agência não foi a única a subestimar esse fator.)

Diz Pickering: "Sempre que temos uma mudança numa tendência que já dura 20 anos, as pessoas ficam animadas, e a tendência na produção americana nos últimos 20 anos foi descendente. De repente, temos agora produção significativa. Assim, essa nova tendência é um ponto de partida animador. Mas, quando ouvimos as empresas do petróleo falando no número de poços que pretendem perfurar e no nível de produção que esperam gerar, temos a impressão de que tais empresas analisam as previsões e somam os resultados. Eles se esquecem do declínio natural na produção, e extrapolam de 400 para 1.200 o aumento no número de plataformas de perfuração nos EUA, dizendo: 'Vamos continuar acrescentando plataformas e intensificar a perfuração de poços'. Essa extrapolação é um pouco perigosa".

"Por um lado, temos a animação provocada pela mudança na tendência, algo que considero válido; um novo estágio está sendo desenvolvido, o que também é válido. Mas temos também a tendência de extrapolar, coisa que tem efeitos negativos. Assim, o entusiasmo tem embasamento concreto e vamos crescer muito. Mas a ideia de que viveremos uma situação de autossuficiência não passará de um sonho otimista enquanto não forem implementadas mais mudanças, como uso do gás natural nos veículos."
TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
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