segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A farsa e a realidade

A atual mídia tem um tanto de culpa em manter o cidadão alienado frente aos debates atuais.
Um presidente deve se ocupara da gestão do país em consonância com as demais instituições. O presidente não manda, ele atende às perspectivas da sociedade que lhe são dirigidas por intermédio de bases eleitorais dos congressistas e demais políticos de cada país. Isto em uma democracia madura que sabe que seu papel vai muito além do simples ato de se votar.

Continuaremos a patinar na tentativa de deixarmos de ser os eternos "país em desenvolvimento com grande potencial para o futuro". Nossos principais índices tais como educação, saneamento, acesso à saúde pública de qualidade continuam pífios, apesar do atual presidente ter prometido expressivas mudanças nesse cenário oito anos atrás.


A apresentação dos dados atuais, maquiados com excelência pelos marqueteiros nada mais são do que análises acuradamente científicas do que o eleitorado brasileiro quer ver, ao invés de aceitar. Isso ressalta que ainda estamos longe do amadurecimento democrático. 


Uma análise lúcida e coerente. Ele era comunista declarado e foi um dos primeiros a apoiar o atual governo no primeiro mandato. Vejam o que ele desnuda em seu manifesto.


De toda sorte, o artigo está bem escrito.



A farsa e a realidade 

Roberto Freire

BRASIL ECONÔMICO

Em seu primeiro mandato, logo após ser eleito, o atual governo, carente de um efetivo projeto de mudanças e de reformas estruturantes, adotou o "Fome Zero" como saída pela tangente de nossas dificuldades históricas, ao mesmo tempo que encontrava nessa jogada pirotécnica uma forma de mobilização da sociedade, sem alterar em nada seus fundamentos.

Hoje ninguém fala mais de "Fome Zero", muito menos do "Projeto do Primeiro Emprego", que durante muito tempo foi apresentado como capaz de enfrentar o desemprego crônico da juventude, até se descobrir que o segredo para superarmos esse desafio estava relacionado a uma educação de qualidade, que não é possível se resolver no quadro de políticas de governo, e sim de Estado.

O atual governo sofisticou seu repertório de criar um país de faz de conta, no qual atuava em benefício dos pobres, combatia a especulação financeira e enfrentava os gargalos do que se convencionou "custo Brasil", até a farsa ser desmontada pelos números aferidos por órgãos internacionais sobre nossa real condição econômica e social.

Assim, ficamos sabendo que depois de quase oito anos de governo, e de uma massiva campanha para nos convencer que este governo é o dos pobres, os dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) no que respeita o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) aponta nosso país em nono lugar dos mais desiguais da América Latina!

Quando comparamos a desigualdade da renda entre o trabalho e o capital é que podemos perceber que quase nada mudou em nosso país.

Na contramão do que aponta o governo e seus "novos horizontes". Como revelado por agencias da ONU, os juros, aluguéis e lucros foram os itens da renda brasileira que mais cresceram desde a última década, superando o rendimento dos trabalhadores, cristalizando a política de manutenção do status quão, ou do conservadorismo funcional que este governo representa.

O governo propala que transfere renda para os pobres, via Bolsa Família, que atende pouco mais de 12 milhões de famílias, algo em torno de R$ 13,1 bilhões.

Mas o que o governo não alardeia é que transferiu para os mais ricos, rentistas e bancos, na forma de juros pelos títulos públicos, no ano passado, algo em torno de R$ 380 bilhões!

Se nos detivermos nas reais condições de vida da esmagadora maioria de nosso povo, seja por meio das moradias atendidas com o saneamento básico, ou na qualidade do ensino público oferecido pelo Estado, ou no atendimento da saúde pública, perceberemos que o real significado da grandiloquente propaganda governamental que afirma ser o "Brasil um país de todos", na verdade é mais de uns que de outros.

A verdade é que os números recentes de nossa economia e de nossa trágica condição social estão muito longe da farsa edulcorada pela propaganda que move este governo.

O crescente endividamento das famílias, nosso perigoso déficit em conta corrente, o intermitente custo-Brasil estrangulando nossa capacidade competitiva é o verdadeiro legado que nos deixará o atual governo.




Roberto Freire é presidente do PPS
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