sábado, 11 de junho de 2011

Professor Honoris Causa da UFPB

Lula será Professor Honoris Causa da UFPB 

Sônia Maria van Dijck Lima 

Estou mesmo revoltada com a notícia abaixo. 
O sujeito envaidece-se por nunca ter lido um livro; arrogante, lembrou várias vezes que não é preciso ter diploma universitário para ser Presidente da República; sob seu governo, os professores universitários
tiveram ridículos reajustes salariais (conseguidos sempre graças a longas greves) e, hoje, são uma classe de profissionais qualificados de baixa remuneração.

 E o Magnífico Reitor da UFPB, em troca de algumas verbas - que, diga-se de passagem, são obrigação do governo federal para manutenção, ampliação e aperfeiçoamento das universidades federais - considera que um sujeito que atropela a Língua Portuguesa, que dá péssimo exemplo como incentivo à leitura, cujo governo institucionalizou a corrupção, levando-o a defender, em inúmeras ocasiões, todos aqueles que foram/ são acusados ou suspeitos de corrupção, sugerindo às novas gerações que ser corrupto é bom e torna a pessoa ilustre e bem relacionada com o governo, merece o título de Doutor "Honoris Causa". 

O Magnífico Reitor, em troca de algumas verbas, perdeu o senso crítico; esqueceu que foi escolhido para gerir e representar a comunidade acadêmica, que sempre o honrou e o respeitou, e que merece ser honrada e respeitada pelo seu Reitor.

 Sem senso crítico, o Reitor e mais todos os outros conselheiros que foram e são favoráveis à tal homenagem dão prova cabal de servilismo ao partido que está no poder, de bajulação e de pouco zelo pela titulação acadêmica.

Dizem às novas gerações que os diplomas universitários não têm valor e nem importância; 
o que importa é conseguir ser militante do partido que governa, ser falastrão, engendrar metáforas grosseiras, jamais ler sequer um livro e encontrar uma comunidade acadêmica disposta à bajulação e ao servilismo, para, desse modo, permanecer na mediocridade intelectual, mas ostentando um diploma de alto grau.

É essa UFPB, que vai conceder a Lula seu mais alto título, que acaba de ter boa parte do acervo de sua Biblioteca Central danificada por vazamentos e goteiras.

É essa UFPB que zela por seu patrimônio intelectual, conservado na Biblioteca Central, que vai consagrar a rudeza intelectual cultivada e assumida no alto dos muitos palanques. 

Afinal, para quê a UFPB precisa cuidar dos livros da Biblioteca Central, se ler livros não tem a menor importância?

Ainda não vi meus colegas se pronunciarem sobre esse lamentável incidente de equívoco acadêmico. 
Só espero que não apareça algum professor doutor falando contra as elites intelectuais e em democratização da universidade, para justificar a bajulação e o servilismo.

Antes que alguém tenha o trabalho de dizer: sou elite intelectual, sim. Sou Doutora em Letras, porque estudei muitos anos para isso. Li e leio muitos livros e já publiquei alguns. Sou acadêmica e sou contra à deterioração dos valores acadêmicos. 

Tenho zelo pelo diploma de doutorado que fiz por merecer, estudando, lendo, pesquisando e buscando formar outros intelectuais. Se ter cultura, formação universitária, inúmeras publicações (livros, artigos, trabalhos em congressos nacionais e internacionais, CDs de dados), ter lecionado na França e em mais de uma universidade brasileira, ter senso crítico, respeitar os valores universitários, é ser elite, então sou elite e não gosto de ver a mediocridade intelectual pontificar com diploma de doutor.

Não é por Coimbra ter colocado no seio de seu egrégio colégio de doutores um sujeito que tem orgulho de nunca ter lido um livro, que vou aceitar que a UFPB vulgarize os títulos acadêmicos.

Democracia na Universidade consiste em oportunidades iguais para todos que desejem crescer na Ciência, na Tecnologia, nas Humanidades. Democracia na Universidade não implica baratear o diploma acadêmico 
de alto reconhecimento de mérito intelectual ou científico ou cultural, em troca de algumas verbas, que não passam de obrigação do governo federal. 

Democracia na Universidade não é bajulação, cooptação e nem subserviência ao partido que está no poder. 
Ser democrata na Universidade é ter senso crítico, ter opinião e defender a liberdade de opinião; é ter qualificação para o exercício profissional e intelectual na Universidade;  é sentir-se honrado em ser portador dos diplomas conquistados com estudo e pesquisa.

      Uma pergunta que não quer calar: onde está o sindicato dos professores - a ADUFPB?

Sônia Maria van Dijck Lima - - doutora em Letras (USP, 1989) - aposentada
- DLCV/CCHLA/UFPB - meu CV está na Plataforma Lattes

PS: Estejam livres para repassar o mais amplamente possível.
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