José Paulo Kupfer
O Estado de S. Paulo
Assim como perdem aceleração as estatísticas que indicam a trajetória da economia brasileira, caem, pouco a pouco, as dúvidas sobre a reversão do ritmo de crescimento. Quando se olha para frente, já são mais do que nítidos os sinais de que as pressões inflacionárias ingressaram num período de relativo alívio e o emprego - e não só na indústria - entrou em fase de acomodação. Essas indicações, combinadas, explicam a cautela, quando não o pessimismo, que passou a se repetir nas sondagens conjunturais mais recentes.
Vencido o primeiro terço do último trimestre, poucos ainda acreditam que a política econômica deveria manter ativos os mesmos elementos de restrição da demanda que predominaram no primeiro semestre de 2011. Porém, mesmo entre os que já se convenceram de que o mar, no futuro próximo, não estará para peixe, observa-se a preferência em atribuir quase com exclusividade às turbulências globais o esfriamento da temperatura econômica no País.
Existem, no entanto, variáveis críticas da própria economia doméstica que estão se encarregando de puxar o freio da demanda aqui dentro mesmo. É o caso da taxa de investimento. Tudo indica que a taxa de investimento - o índice que designa a relação entre a formação bruta de capital fixo e o PIB - registrará, em 2011, um recuo diante dos 18,4% de 2010, fechando o ano em 18% do PIB ou até menos. Parte da composição do PIB, no lado da demanda, o investimento contribuirá, portanto, para a redução do ritmo de crescimento em 2011.
As razões para esse resultado, que reforça a incapacidade brasileira de investir mais de 20% do PIB a cada ano, reprisada nas últimas três décadas, dão panos para muitas mangas, mas ficam para outra conversa. O que se pretende ressaltar aqui é que a taxa de investimento avançou abaixo do que seria necessário para manter um crescimento firme em torno de 5% ao ano, mesmo quando o custo de investir era relativamente barato. Mais que isso, pretende-se chamar atenção para o fato preocupante de que o longo período de barateamento dos preços do investimento, iniciado com a abertura comercial dos anos 90, está chegando ao fim.
Nas décadas perdidas de 1980 e 1990, o investimento era baixo, mas o PIB também crescia pouco. Nem quando, nos últimos oito anos, a economia avançou a uma média de 4,3%, as taxas de investimento se elevaram além da média anual de 17,3% do PIB. A explicação para a combinação aparentemente improvável é que, nesse período, o investimento concentrou-se na aquisição de máquinas e equipamentos, relegando a construção civil - que reúne investimentos em construção residencial e os de infraestrutura - a um plano secundário.
Não é difícil observar que esse modelo de investimento a preços mais baixos, baseado na importação de bens de capital, está perto do limite. Não só o processo de liberação comercial, no caso dos bens de capital, chegou aonde dava, como o impulso das importações com base numa taxa de câmbio muito valorizada parece não ter mais tanto futuro. Também não é difícil perceber que a tendência do investimento se desloca para aqueles segmentos antes relegados a segundo plano, em que, nas últimas décadas, o País acumulou déficits.
É sem dúvida desejável, justamente pela necessidade de cobrir esses déficits, alterar a composição do investimento, mudando o foco para as aplicações em infraestrutura, sobretudo energia e transporte, e construção habitacional. Mas não se pode esquecer que essas atividades se caracterizam pelas mais altas relações capital-produto. Além de mais tempo de maturação, são investimentos que exigem mais unidades de capital para cada unidade de produto gerado.
Ainda que os economistas se engalfinhem na definição das condições para a realização dos investimentos, é intuitivo que incertezas sobre as perspectivas de crescimento econômico dificultam, quando não inviabilizam, as decisões de investir. Torna-se crítico, portanto, dotar a política econômica de elementos capazes de romper a armadilha que vincula baixo crescimento a baixo investimento - e vice-versa. Muito mais quando tendem a aumentar as doses requeridas de capital por investimento.
Logo se vê que, sem abrir espaços a cortes nas taxas de juros, compensando a necessidade de maiores quantidades de capital com menores custos do dinheiro, bem como sem adotar programas de desoneração fiscal atrelados a estratégias empresariais pró-investimento, o caminho do crescimento continuará pedregoso. E, claro, propício a muitos tropeços.
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