EDITORIAL
FOLHA DE S. PAULO
Até pouco tempo atrás, o combate à inflação, consequência do forte ritmo da atividade econômica, era o principal foco de atenção das autoridades chinesas.
Cresceram nas últimas semanas, contudo, as evidências de que o governo começa a se preocupar com o risco de desaceleração abrupta. O relaxamento de crédito para pequenas empresas e a compra de ações de bancos locais pelo fundo soberano do país, anunciados neste mês, foram os primeiros passos.
O dirigente Wen Jiabao acaba de reforçar os indícios de afrouxamento do torniquete. O premiê propôs "ajustes finos" na economia.
Têm crescido os alertas de que a alta no endividamento de bancos, construtoras e dos governos locais -o volume total de dinheiro emprestado na economia chinesa, em relação ao PIB, subiu de 130% para 190% desde 2008- pode esconder uma quantidade relevante de empréstimos impagáveis.
Na China, o crédito é direcionado pelos bancos estatais, e o governo mantém rígido controle sobre o sistema financeiro. Quando veio a crise de 2008, o governo chinês foi forçado a incentivar um maciço programa de investimentos, financiado por dívida bancária e em parte conduzido por autoridades regionais com agenda própria.
Hoje se percebe que talvez tenha havido exagero, em particular na área de construção civil. O aumento nos preços dos imóveis foi vertiginoso. Ao mesmo tempo, como parte importante da receita dos governos regionais advém de vendas de terras, houve um reforço no circuito de interesses. Bancos com crédito farto para construtoras, governos locais ansiosos por aprovar projetos e construtoras operando na premissa de elevação contínua dos preços das casas.
O governo central percebeu o risco e vem tentando apertar o mercado, dificultando as aquisições de imóveis e restringindo o crédito para a construção. Mas o sistema reagiu: nesse período houve forte crescimento de financiamentos paralelos, pouco controlados.
Segundo estimativas do governo, esse mercado já estaria próximo de US$ 2,5 trilhões (um PIB brasileiro). Na visão mais pessimista, haveria um "subprime" chinês, versão oriental dos créditos podres que detonaram a crise de 2008.
Não se prevê crise bancária, pois o governo tem meios para reagir, afrouxando o crédito e expandindo gastos sociais. O cenário mais provável ainda é o de que Pequim conseguirá evitar uma desaceleração brusca em 2012, ano de transição do poder central na China.
Se for assim, tanto melhor para o restante da economia mundial.
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