segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Saúde Pública no Brasil...

Caros amigos, coisa pública é muito sério. Requer profissionais preparados para uma demanda social complexa.

Seguem, abaixo, três reportagens que retratam o amadorismo sob tal tutela do Estado (governo petista, no caso) a Saúde Pública encontra soluções populistas e não-sustentáveis.
Estamos falando de 2011 amigos, que vem a ser a Segunda Década do século XXI, após oito anos de governo Lula e mais oito de FHC, ambos de esquerda.

Vejam a m... que deu!!!
Ah, sim, dessa forma vamos mesmo ser a quinta economia mundial em 2015!!
Revoltante, revoltante...




Bônus para residência médica gera polêmica
Sérgio Roxo
O Globo



Universidades são contra programa federal de aumento na nota de alunos de Medicina que aceitarem trabalho em áreas pobres

SÃO PAULO. O programa federal que pretende levar médicos recém-formados para trabalhar em regiões carentes do país causou uma batalha entre dirigentes universitários e o governo. O programa concede bônus nas notas das provas de ingresso nos cursos de residência médica a alunos que aceitarem trabalhar em áreas pobres.

Entidades de classe também entraram na polêmica. Os críticos da medida alegam que ela interfere na autonomia universitária. Também duvidam que a medida conseguirá atingir o seu objetivo de solucionar um dos principais problemas da Saúde brasileira: suprir a carência de profissionais na periferia das grandes cidades e em municípios pobres.

O programa abrirá duas mil vagas a partir de 2012, e os médicos que trabalharem por um ano nas regiões a serem definidas terão 10% de bônus na prova de residência, além do salário pago pelas prefeituras. Os novos profissionais que ficarem dois anos terão 20% de bônus. O curso de residência dá ao médico o título de especialista e é bastante disputado, com dez mil postos para 13.800 formandos por ano.

A crise veio à tona no mês passado, quando as quatro universidades estaduais paulistas (USP, USP-Ribeirão Preto, Unicamp e Unesp) enviaram uma carta para a Comissão Nacional de Residência Médica do Ministério da Educação, em que pedem a revogação da resolução que concede bônus e revelam "indignação e grande preocupação" com o benefício. Também manifestam que a medida é "uma flagrante interferência na autonomia universitária" e causa "distorção do processo ao macular a seleção por mérito".

"Mirabolante e inexequível"

A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) ainda não tomou uma posição oficial, mas o diretor da Escola Paulista de Medicina, da instituição, Antonio Carlos Lopes, também tem críticas ao programa. Ele avalia que os médicos não têm condições de exercer a profissão sem supervisão logo depois de deixarem os bancos das faculdades.

- (O programa) É um absurdo previsto por pessoas que desconhecem a prática médica. Os recém-formados não têm a menor condição de exercer a profissão. É até um desrespeito com essas regiões. Essa moeda de troca, de oferecer o bônus, vai totalmente contra o mérito. É também um desrespeito à residência médica - afirma o diretor.

O presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp), Renato Azevedo Júnior, chama o programa de "mirabolante e inexequível". Também avalia que os recém-formados não possuem "preparação suficiente".

- Que nível de qualidade você garante com esse atendimento? - pergunta.

O Conselho Federal de Medicina (CFN), ao qual o Cremesp é filiado, apoiou a criação do programa pelo governo e participou das discussões sobre a sua formatação.

O programa, que é uma parceria dos ministérios da Saúde e da Educação, prevê que os profissionais tenham supervisão de instituições de ensino.

- Se a supervisão for presencial, vai levar um professor lá e aí precisa ter esse indivíduo. Se for à distância, é um perigo. Como você vai supervisionar à distância um parto, por exemplo? - questiona o presidente do Cremesp.

Azevedo Júnior acredita que o problema da falta de médicos nas áreas carentes poderia ser resolvido se fosse criado um plano de carreira para os profissionais dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). Os médicos iniciariam a carreira nas regiões mais distantes e, conforme fossem progredindo, poderiam se transferir para as áreas centrais. Ele critica ainda a distorção no sistema de ingresso na residência médica que pode ser criada:

- Esses 20% são justamente a diferença entre você entrar ou não na residência. É um privilégio de quem estiver no programa sobre os outros que estudaram mais durante a graduação.

As universidades paulistas estudam não cumprir a resolução que trata dos bônus. A USP já anunciou que não aceitará.

- Já fizemos consulta junto à assessoria jurídica. Pensamos em recorrer por ferir a nossa autonomia universitária - afirma Erika Ortolan, coordenadora de residência da Faculdade de Medicina da Unesp.

Erika também critica a supervisão à distância do trabalho dos integrantes do programa:

- A primeira definição na legislação é que a residência é um aprendizado em serviço supervisionado. E, quando essa supervisão é à distância, fica muito complicado. Não tem como avaliar de longe se o procedimento está correto.

Percentual pode ser revisto

A secretária-executiva da Comissão Nacional de Residência Médica (CNRM) do Ministério da Educação, Maria do Patrocínio Nunes, defende a concessão de benefício para os médicos recém-formados e rebate o argumento apresentado pela Unesp.

- A autonomia universitária é o direito do livre pensar, mas dentro das demandas sociais também - argumenta.

De acordo a secretaria-executiva da CNRM, foi realizada uma pesquisa com estudantes de Medicina pelo Ministério da Saúde, que apontaram que a bonificação para residência seria um fator de atração para levar os recém-formados para as regiões carentes.

Maria do Patrocínio acredita que a supervisão dos médicos, mesmo que à distância, pode ser eficiente. Um dos objetivos é usar o Telessaúde, portal do Ministério da Saúde que permite a troca de informações sobre o paciente por meio de processos digitais à distância, com o envio de exames, por exemplo.

Ela admite, porém, rever o valor do bônus, hoje entre 10% e 20%. Diz que ao longo do próximo ano será possível estudar o melhor percentual, já que o benefício só deve valer para as seleções de residência para 2013.



'O aluno vai precisar de desempenho'
O Globo


SÃO PAULO. Diretora executiva da Associação Brasileira de Educação Médica (Abem), Derly da Silva Streit representou a entidade nas discussões da criação do programa e vê pontos positivos na iniciativa do governo.

Como o programa governamental pode resolver o problema da carência de médicos nas regiões mais pobres do país?

DERLY DA SILVA STREIT: O programa sozinho não resolve isso. É uma das propostas dentro de uma estratégia de governo que tenta suprir as necessidades de atendimento médico. Precisa também de um projeto de carreira e condições técnicas. Sabemos que em torno de 30% dos egressos das escolas médicas não têm acesso ao programa de residência porque o número de vagas é menor do que o de formandos. E essas pessoas vão exercer a medicina em algum lugar porque têm registro.

O bônus causou muita polêmica.

DERLY: O bônus foi muito discutido, a gente sabe que é provisório. Sabemos que a qualquer momento podemos retirar esse bônus se entendermos que a proposta não foi conduzida de forma adequada.

Como a senhora vê a crítica das universidades de interferência na autonomia e de risco de distorções no sistema de acesso à residência?

DERLY: Fizemos algumas simulações e ficou claro que o aluno exemplar, que tira oito ou nove, vai continuar entrando na residência. Esse bônus vai diferenciar aquela faixa de alunos que estão na média. Também vai pegar um percentual que não vai atingir os grandes programas de residência.

Mas um aluno menos dedicado pode ser favorecido?

DERLY: O aluno, mesmo com bônus, vai precisar de desempenho. Se você é muito ruim, não vai conseguir uma boa residência com esse bônus.

E os questionamentos sobre a capacidade desse médico recém-formado de fazer atendimento?

DERLY: É uma coisa muito séria se a gente está admitindo que um médico recém-formado não tem condições de exercer a medicina básica. Porque as nossas diretrizes dizem que uma escola de medicina tem seis anos para preparar um médico generalista.

A senhora acredita nessa supervisão à distância?

DERLY: Não vai ser só à distância. E o Telessaúde é um programa interessantíssimo. Você manda os exames e tem acesso a uma segunda opinião, em tempo real. O médico não se sente sozinho.




'Quem é bom vai ser desestimulado'
O Globo


SÃO PAULO. Acostumado a lidar com recém-formados, João Paulo Lotufo, médico assistente do Hospital Universitário da USP, aponta problemas no programa federal para suprir carência em áreas pobres.

Como avalia o programa?

JOÃO PAULO LOTUFO: Estive há dois dias num congresso e a Sociedade Brasileira de Pediatria se posicionou contra esse programa. Não é assim que vai se resolver a ausência de médico nas regiões carentes. Os médicos não querem trabalhar nesses locais por causa das péssimas condições de estrutura. Não há como fazer exame, não tem máquina de raio-X, não tem laboratório. O médico não tem o que fazer num local assim. Não pode oferecer o atendimento adequado para a população.

O médico recém-formado está preparado para atender à população?

LOTUFO: Com certeza, não. Não tem experiência. O recém-formado tem uma condição muito ruim, e estou falando da USP. Imagine de outras faculdades. O residente tem que estudar dois anos, depois da faculdade, para ser clínico. Ou estudar dois anos para ser pediatra. Não há como fazer atendimento sem supervisão de um profissional experiente imediatamente depois de sair da faculdade.

O programa prevê um supervisionamento à distância.

LOTUFO: Isso é fantasia pura. Medicina se aprende com a pessoa do seu lado para poder ver exames e indicar procedimentos. Os nossos residentes na USP têm supervisão 24 horas por dia para qualquer atendimento. Há discussão para todos os diagnósticos que são feitos.

Como o senhor vê a questão do bônus?

LOTUFO: Não tem sentido. Fere a autonomia universitária. O Hospital das Clínicas (da USP) já anunciou que não vai aceitar, e está correto. Você acaba prejudicando o aluno bem formado em detrimento de quem está no programa. O bom estudante vai ser desestimulado a se dedicar.

O que é preciso para atrair os médicos para essas regiões carentes?

LOTUFO: É preciso pagar bons salários e dar estrutura adequada. Se a pessoa for bem remunerada, vai querer morar no interior.

Em que fase da carreira o médico deve ir trabalhar nessas regiões?

LOTUFO: O aluno deveria ir depois da residência para essas regiões, já com a formação médica completa, com um salário adequado.
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