sábado, 15 de outubro de 2011

Simples assim...

Josef Barat

O ESTADO DE SÃO PAULO


O senso comum indica que metrópoles contempladas com a realização de grandes eventos esportivos mundiais podem deles tirar partido, implementando projetos de revitalização urbana e melhorias das infraestruturas. Copas do Mundo e Olimpíadas constituem oportunidades excepcionais para melhor direcionar o desenvolvimento urbano e criar condições para investir fortemente nas infraestruturas de telecomunicações, energia, transporte público, saneamento, saúde e segurança pública. Trata-se de oportunidade única para melhorar a mobilidade, o potencial de conexão e as condições sociais da população.
São muitos os exemplos de mudanças significativas nos padrões da urbanização, especializações produtivas, inserção em cadeias produtivas da cultura e do entretenimento, assim como na competitividade como centros de negócios. Pode-se falar, entre outras metrópoles, de Montreal, Londres, Barcelona, Atlanta, Seul e, mais recentemente, Pequim. Há também aquelas que deixaram passar as oportunidades e que, provavelmente, não as terão por muitas décadas.
Como são por demais conhecidas as graves deficiências que existem nas infraestruturas urbanas das grandes metrópoles brasileiras, as oportunidades não podem ser desperdiçadas. A Copa é o evento esportivo de maior visibilidade e atratividade no mundo e, afinal, sabe-se desde 2007 que o país sediaria a Copa em 2014. Passaram-se, portanto, quase quatro anos para que as autoridades públicas se tocassem que havia necessidade de planejar, elaborar estudos de viabilidade técnica e econômica, projetos de engenharia, licitações para obras publicas ou concessões e parcerias. Mas sabia-se que ampliações de capacidade ou melhorias nas infraestruturas urbanas são projetos em geral de grande complexidade e demandam prazos longos de maturação. Hoje estamos diante de sérios riscos na conclusão de projetos importantes, por descaso e falta de planejamento.
Frente aos riscos, a reação dos responsáveis é a de minimizá-los e acenar com soluções improvisadas ou mitigadoras de um possível vexame em escala mundial. Por exemplo, se o risco é o dos congestionamentos viários e não são superadas as graves deficiências do transporte público, simplesmente decreta-se feriado. Evita-se assim o caos nos dias das partidas e tudo estará bem. E o legado da Copa para as cidades que a sediarão? Ora, o legado, “embora importante, não é necessário para a realização da Copa”, no entender do governo. Assim, a mobilidade urbana é reconhecida como importante, mas “não essencial para a operacionalização da Copa”. A lógica do raciocínio é a de “priorizar a construção dos estádios, ampliação da rede hoteleira e aumentos de capacidade dos aeroportos”, neste caso provavelmente por com soluções improvisadas nos terminais. E para facilitação desta agenda medíocre, nada melhor que flexibilizar licitações, controles de gastos e contratações, em função da urgência ditada pela proximidade dos eventos.
O que mais chama a atenção na postura do governo, no entanto, é o desconhecimento dos custos da Copa para os cofres públicos. A justificativa seria o desconhecimento prévio das mudanças exigidas pela FIFA. Mas sabendo-se, desde 2007, que o Brasil sediaria a Copa, um planejamento criterioso e uma boa gestão de riscos poderiam ter dado uma avaliação bem precisa das exigências e custos. E o governo pondera ainda que, afinal, as cidades escolhidas para sediar a Copa “só foram conhecidas dois anos depois da escolha”. Ora, as pequenas sim – pois foram objeto de intensa disputa política – mas as maiores obviamente já eram sabidas.
Infelizmente, mais uma vez, insistimos em não deixar passar a oportunidade de perder uma oportunidade. Os velhos cacoetes da improvisação, do afrouxamento dos controles, do desconhecimento dos custos estão vindo à tona e os riscos se ampliarão. Congestionamentos viários, apagões localizados na energia e telecomunicações, caos nos aeroportos são possibilidades bem concretas de ocorrência. Mas, para sorte nossa tudo acabará se resolvendo com os feriados. Simples assim...
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