quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

O incrível Ponzi


Thomaz Wood Jr.


Seu nome completo era Carlo Pietro Giovanni Guglielmo Tebaldo Ponzi. Ele nasceu em Lugo, na Itália, em 1882, e morreu no Rio de Janeiro, então capital federal dos Estados Unidos do Brasil, em 1949. No começo do século XX, o irrequieto italiano abandonou a universidade La Sapienza em Roma e partiu para a América. Em 1907, mudou-se para o Canadá, onde se empregou em um banco recém-criado para atenderos imigrantes italianos que chegavam a Montreal. O banco atraía depositantes com a promessa de pagamento de juros vantajosos sobre os depósitos. Mal gerido, acabou por ir à falência, quando a captação de novos depósitos revelou-se insuficiente para cobrir a operação deficitária. O dono, Luigi Zarossi, fugiu para o México com o dinheiro que conseguiu tomar.

Depois da participação em diversas falcatruas, Ponzi passou algum tempo na prisão, onde se aproximou de Charles W. Morse, um especulador de Wall Street, tido como modelo e inspiração para seus golpes posteriores. Seu famoso esquema nasceu pouco depois, quando Ponzi percebeu a possibilidade de obter lucros com a comercialização de cupons postais. Estabelecida a operação, pôs-se a divulgá-la, prometendo lucros extraordinários para os investidores.

Seus primeiros clientes tiveram suas expectativas atendidas. A notícia espalhou-se, gerando uma explosão nos negócios, que se expandiram vigorosamente com a contratação de agentes de captação. No início da década de 1920, o frenesi em torno do esquema criado por Ponzi era tal que muitos investidores passaram a hipotecar suas propriedades e contrair dívidas para fazer aplicações. O fluxo contínuo mantinha o esquema vivo, pagando os retornos esperados para os investidores que decidiam realizar seus lucros.

O estouro do esquema ocorreu pouco depois, com uma série de matérias investigativas realizadas pela imprensa, que expuseram a inviabilidade do modelo de negócios arquitetado pelo atrevido empresário. Ponzi declarou-se culpado e cumpriu pena. Solto alguns anos depois, lançou um empreendimento imobiliário na Flórida, no qual prometia novamente ganhos fabulosos para os investidores. Seus novos negócios envolviam avendade terrenos pantanosos, inclusive alguns trechos submersos. Seguiu-se novo julgamento e mais um período na prisão.

Em 1934, Ponzi foi deportado para a Itália, onde tentou, sem sucesso, criar novos negócios. Terminou a vida debilitado, praticamente cego e miserável, no Rio de Janeiro. Deixou para a posteridade o livro The Rise of Mr. Ponzi: The autobiography of a financial genius. Ponzi termina sua obra em grande estilo: “Meu castelo de cartas entrou em colapso! A bolha estourou! Eu perdi! Perdi tudo! Milhões de dólares. Crédito. Felicidade. E até minha liberdade! Tudo, exceto minha coragem. [...] Vida, esperança e coragem são uma combinação que não conhece derrota. Talvez, contratempos temporários, mas uma derrota final e permanente, jamais!” O autor e a obra parecem ter inspirado muitos seguidores, acima e abaixo da linha do Equador.

Ron Chernow, em artigo publicado na revista The New Yorker, qualificou Ponzicomoum personagem charmoso, criativo e extremamente audacioso. Em seus anos de glória, portava-secomoum dândi, elegante e bem-vestido, cortejando repórteres e obtendo, em troca, uma cobertura de mídia, em geral, laudatória. A comunidade italiana de Boston o adotou com júbilo.


Segundo Chernow, as fraudes financeiras constituem o crime preferido de arrivistas e sonhadores inseguros. Obcecados por se sentirem respeitados e importantes, eles desenvolvem a pretensão de partilhar a vida da alta sociedade. Embora tenha sido descrito como um idiota financeiro por um assessor, Ponzi achava-se um mago, um visionário. Nunca admitiu que seu sistema estivesse fadado ao fracasso ou teve clareza moral para admitir que fosse um charlatão. Ponzi não foi capaz de sentir remorsos pelo que fez e pelas perdas e sofrimentos que causou.

Esquemas Ponzi, antes de serem detectados, fazem sucesso entre seus articuladores e entre suas (futuras) vítimas. Investidores comumente o enaltecem, como se contivessem propriedades mágicas, como se o mistério do moto-contínuo houvesse finalmente sido descoberto. Alguns desconfiam do milagre, porém adiam o momento da saída até que, eventualmente, seja tarde demais. Seu inexorável fim costuma deixar as vítimas de bolso vazio e coração partido, desnorteadas pelas ilusões perdidas. Isso até que novas ilusões lhes arrebatem o desejo de enriquecimento rápido e um novo ciclo de esperança, euforia e decepção se instale. A memória coletiva, a história parece insinuar, não opera com registros de longa duração.
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