quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A marcha da insensatez e a estupidez protetora

O livro referenciado eu li há quase vinte anos e, pelo visto, não perdeu sua atualidade. A jornalista americana,  ganhadora do Prêmio Pultzer com este livro, especializou-se em História e o que ela escreveu virou referência mundial.

O incrível é como se assemelham os conceitos com o que vemos em nosso entorno atual.

A marcha da insensatez e a estupidez protetora
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.Por Sandra Cavalcanti
No ano de 1984, Barbara W.Tuchman  premiou o mundo com um livro que, além de surpreendente, é admiravelmente bem escrito: “A marcha da insensatez”. Obra para ser lida e relida, dedicada aos que se interessam pelos caminhos da  humanidade e procuram explicações para a insensata adoção,  por muitos governantes, de políticas contrárias aos seus próprios interesses.

A autora  oferece quatro episódios da história mundial como exemplo de momentos muito emblemáticos. (1) Os troianos puxam o misterioso cavalo de madeira para dentro dos muros de Troia. (2) Os Papas da Renascença não captam a importancia das vozes reformistas e não impedem a cisão protestante. (3) A arrogância dos lordes ingleses detona o processo de libertação da América do Norte. (4) Os americanos se atolam no Vietnã.

Como entender que, com poder de decisão política, alguns ajam tão frequentemente de forma contrária àquela apontada pela razão e pelos próprios interesses em jogo? Por que o processo mental dessas inteligências, também tão frequentemente, parece  não funcionar ?

O  último capítulo do livro – Uma lanterna de popa – oferece ao leitor  conclusões bastante melancólicas sobre os relatos e feitos analisados. Uma dessas conclusões sustenta a tese de que, entre as causas que mais contribuem para a insensatez política, a principal é a ambição do poder.
A ambição do poder é definida por Tácito como sendo a “mais flagrante de todas as paixões”. Ela só se satisfaz quando exerce o poder sobre os demais seres humanos. Governar acaba sendo a melhor forma de exercer o poder sobre as pessoas.

Ganhar muito dinheiro, ou conseguir muita fama, também oferece satisfação de poder. Mas isso só se forem muito bem-sucedidos. Nos casos comuns, embora o dinheiro lhes propicie alta posição social e luzes de fama, fica faltando o domínio sobre os demais. O real domínio, que só o ato de governar lhes oferece!. O domínio sobre os outros significa, para os governantes, o verdadeiro poder que ambicionavam. Por isso desejam-no ardentemente e conquistam-no a duras penas. Depois, lamentavelmente, se revelam incapazes de exercê-lo sobre si mesmos.

Nenhuma alma, segundo Platão, consegue resistir ao excesso de poder. Para livrá-la da insensatez, só a garantia das leis. Sem essas garantias, o excesso de poder conduz à desordem e à injustiça. Toda insensatez começa assim...

Maquiavel, que sabia das coisas, dizia que todo governante “deve ser um grande perguntador, escutar pacientemente a resposta sobre o que perguntou e manifestar sua ira ao verificar que lhe ocultaram a verdade”.


No mundo de hoje, qualquer titular de governo enfrenta muitíssimos problemas. Às vezes, fica dificil a compreensão clara e sólida de muitos deles. Não  sobra tempo para pensar e refletir. Além disso, o grupo que cerca o chefe só age em função de decisões que possam lhe garantir prestígio político e força eleitoral. E, dizia Maquiavel, “se ele fica à mercê do grupo que o cerca, ele abre caminho para uma situação que alguns estudiosos definem como ESTUPIDEZ PROTETORA".

A estupidez protetora é a responsável pelo fato de o Presidente não fazer muitas perguntas,  não escutar pacientemente as respostas e não ficar irado quando verifica que lhe ocultaram a verdade .
A nossa Marcha da Insensatez vem sendo liderada, lá do Planalto, por um grupo assim, todos movidos exclusivamente pelo objetivo de permanecer no poder. Põem em prática, como nunca antes, todos os famosos Princípios de Dominação pela Propaganda, seguidos por Goebbels, Stalin, Mao, Fidel e tantos outros.

Não se pode negar que, às custas de bilhões de reais, os efeitos dessa propaganda estão sendo alcançados. Lula nunca sabe de nada. E, quando sabe, passa  a mão pela cabeça dos culpados e, irado, até se atreve a querer calar o Estadão,  o mais corajoso e livre órgão de imprensa do Brasil!
O mais triste, ainda, é que apesar de todos os escândalos, da mais  deslavada corrupção, da mais desavergonhada compra de consciências, da   mais cínica postura em relação às leis, o brasileiro  continua calado e anestesiado. A voz do país ainda não se fez ouvir. Misteriosas e oportunas pesquisas de opinião dão a entender que o povo está feliz, achando que tudo   vai bem. Mesmo com os problemas da assistência à Saúde. Mesmo com os níveis desastrosos da Educação. Mesmo com a vergonha da infraestrutura dos  transportes. Mesmo com o aumento apavorante da violência. Mesmo com os portos ainda travados. Mesmo com as dívidas públicas não pagas. De onde vem, então, essa apregoada visão positiva de um governo tão vulnerável?
Vem da força terrível da  propaganda. Da prática imoral da dominação de um   povo pelas artimanhas, armadilhas e artifícios da mais poderosa e cara máquina estatal de propaganda governamental jamais montada antes no Brasil! Nem na ditadura de Vargas, nem no período militar. O grupo de Lula só tem um objetivo: continuar no poder. Como? Essa ambição é que leva à insensatez.
Sabendo que seria perigoso prorrogar o seu mandato, trilhando, desde logo, o mesmo caminho de Hugo Chavez, Evo Morales, Rafael Correa e outros do mesmo time, o Presidente  não hesitou, ditatorialmente, em afrontar a sua própria gente! Impôs uma candidatura ao PT. Derrubou os procedimentos democráticos usados pelo partido. Quem xingava tanto as oligarquias conservadoras, cometeu a insensatez de imitar os troianos, os Papas da Renascença, os lordes ingleses e o atoleiro do Vietnã! Mas a  História é implacavel. Sempre há um cavalo de pau. Um Lutero. Um Washington. Um drama em Saigon. Sempre há!
 Sandra Cavalcanti é professora, foi deputada federal constituinte, secretária de Serviços Sociais no governo Lacerda, fundadora e presidente do BNH.
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Um comentário:

  1. As propagandas dos candidatos que ficam no poder e pretendem permanecer diretamente ou indiretamente sempre tendem a ser as mais fortes e convincentes ao público.

    Há alguns dias estive na casa de uma amiga e ela me disse que ficava revoltada quando ela dizia que vai votar na Marina e as pessoas lhe perguntam se ela está doida. rsrsrsrsrs E eu lhe falei justamente sobre essa questão da propaganda eleitoral. Porque o brasileiro sempre teve a tendência de se deixar levar pelas aparências dos candidatos. Lembra do Collor com toda aquela pinta de galã esportivo?! E a Marina pertence a um partido que não tem poder aquisitivo para bancar elaboradas campanhas publicitárias, o que faz com que ela pareça ser uma mulher frágil. É essa a imagem que é passada em suas propagandas. Enquanto que as propagandas do PT fazem com que a imagem da Dilma seja uma mulher forte, poderosa e destemida. Fizeram até com que ela parecesse ser simpática! Assim como a imagem do Lula tem mudado ao longo desses anos... Acredito que o fato de ele ter ficado mais "arrumado" há 8 anos contribuiu muito pra que ele finalmente fosse eleito, além de simbolizar "o homem pobre que chegou ao poder". E agora a tendência é ter "a primeira mulher chegar ao poder". São duas representações de 'excluídos' a chegar ao poder: o pobre e a mulher. Ou seja, se o fato de ser pobre e ser mulher foram ou são fatores de exclusão ou de discriminação, ao se ter representantes que simbolizam essa ascendência faz com que o brasileiro se sinta de alguma forma recompensado.

    Pra você ver... até na política existem modismos. Modismo no sentido de símbolo que satisfaz o povo em uma determinada época e modismo no sentido estético/visual também.

    O que importa para a maioria não é a essência, mas sim as aparências! Em qualquer circunstância da vida. O que é uma pena!

    Só pra finalizar... ontem assisti Nosso Lar no cinema, e teve uma cena em que o personagem principal André Luiz, depois de morto, revoltado no mundo espiritual, foi aconselhado a procurar o governador. Daí ele perguntou 'E por acaso ele irá me receber?'. E quem lhe aconselhou falou mais ou menos assim: 'Aqui, os governantes realmente trabalham e levam tudo e a todos a sério!' =o) Uma crítica bem sutil e exemplar aos que acham que são poderosos aqui na Terra!

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