terça-feira, 30 de novembro de 2010

China é que dá as cartas no comércio com o Brasil

Rodrigo Tavares Maciel
O Estado de S. Paulo

Mais de seis anos se passaram desde as trocas de visitas presidenciais entre Brasil e China, que fizeram com que o País finalmente despertasse para a emergência chinesa no mundo, e o perfil das relações comerciais entre os dois países pouco, ou mesmo nada, alterou. O Brasil continua somente reagindo à demanda chinesa, permitindo ao país asiático conduzir o relacionamento. Ou seja, o Brasil é comprado pela China. O ano de 2010 deverá registrar novo recorde do comércio sino-brasileiro. As trocas comerciais atingirão US$ 50 bilhões e o Brasil terá superávit comercial também recorde (até outubro já registrava superávit de US$ 5,1 bilhões). As vendas para a China, de janeiro a outubro, cresceram 42,6% (totalizando US$ 25,8 bilhões), comparado com o mesmo período de 2009, mas infelizmente sua concentração em commodities atingiu recorde de 82,7% .

O número de empresas exportadoras para a China continua reduzido, assim como o interesse da indústria brasileira pelo mercado consumidor chinês. O Brasil continua ignorando o fato de que cerca de 72% das importações totais chinesas são de bens manufaturados e que o mercado chinês supera 250 milhões de consumidores, com potencial para ultrapassar 350 milhões em 2015. Os exportadores brasileiros parecem desconhecer que a população urbana chinesa será maioria em 2012 pela primeira vez na história e que na próxima década mais de 133 milhões migrarão para as cidades. O Brasil se mantém ausente de um mercado que já é maior consumidor mundial de aparelhos de celular, televisores, automóveis e bens de luxo, entre outros.

Mas os dados do comércio sino-brasileiro de 2010 também apresentam sinais bastante positivos para o Brasil. A China conquista a posição de principal compradora do petróleo brasileiro, posição que até 2009 era ocupada pelos Estados Unidos, assim como se mantém como primeiro parceiro comercial brasileiro, posição conquistada em 2009, desbancando os EUA. Não há dúvidas de que o contrato de fornecimento de petróleo firmado pela Petrobrás com a Unipec Asia, subsidiária da China Petroleum & Chemical Corporation (Sinopec), contribuiu de forma crucial para o crescimento das vendas em 143,2% (em volume). Assim como também não há dúvidas de que esse crescimento será muitas vezes maior nos próximos anos com o avanço da produção do Pré-Sal. Além do contrato de fornecimento com a Petrobrás, as chinesas Sinochem e Sinopec adquiriram participações relevantes nas operações das empresas Statoil e Repsol, com o objetivo claro de garantir fornecimento estável do produto.

Dessa forma, o petróleo provavelmente se tornará, em futuro breve, principal produto das exportações brasileiras para a China, posição ocupada pelo minério de ferro em 2009 e 2010.

É sócio-diretor da Strategus Consultoria
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