sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Descrença no ENEM

ESTADO DE MINAS

UFSJR e outras universidades temem novas trapalhadas

Acerta a Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJR) ao incentivar os candidatos a uma vaga no próximo ano letivo a prestarem o exame vestibular, programado para sábado, mesmo que tenham feito as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2010. A universidade tinha tido a cautela de adotar sistema misto de pontuação, já que não abriu mão de aplicar a todos os candidatos uma prova própria de redação. A esta altura das trapalhadas patrocinadas pelo Ministério da Educação (MEC), a UFSJR parece mais preocupada com os alunos do que em preservar os gênios de Brasília, que insistem em empurrar a validade do Enem boca abaixo das escolas, como se nada tivesse acontecido. Já que todos terão de comparecer à prova de redação, sugere a UFSJR que aproveitem para deixar respondidas as questões das demais provas, que serão aplicadas em 11 e 12 de dezembro. Assim, se as notas e a classificação do Enem seguirem o roteiro de problemas e adiamentos que tem marcado o exame nos dois últimos anos, a universidade poderá simplesmente descartá-lo. 

A UFSJR está colhendo os resultados de ter reservado margem de segurança em favor da parte mais fraca, embora mais importante, que são os estudantes. A federal do Triângulo Mineiro e outras instituições também se preocupam. Motivos não faltam. Desde que o Enem passou a valer como passaporte para as universidades públicas de todo o país, em 2009, as autoridades do MEC tem demonstrado incapacidade técnica e operacional para executar projeto de tamanha importância e complexidade. No ano passado, houve um grotesco vazamento das provas, o que obrigou a realização de uma segunda aplicação em outra data, atrasando a divulgação dos resultados. Este ano, quando se esperavam mais dedicação e esmero do MEC, para se redimir do vexame de anterior, uma segunda novela de trapalhadas só fez aumentar o desgaste do exame. Faltou o elementar trabalho de conferência da qualidade da confecção dos cadernos de provas. Um dos quatro cadernos trouxe questões que tinham a ver com outra prova e o Ministério Público Federal do Ceará conseguiu liminar suspendendo o exame.

O que se seguiu foi uma desesperada e bem-sucedida empreitada do ministro da Educação, Fernando Haddad, para derrubar a liminar. Prevaleceu o esforço de manutenção da imagem das autoridades, não importa que elas tenham repetido suas demonstrações de falta de zelo pela qualidade e de atenção à importância do que está em jogo no processo inaugurado pelo Enem. Trata-se de iniciativa mais do que bem-vinda de substituir o anacrônico naufrágio do vestibular por algo mais adequado ao estágio democrático já alcançado pela sociedade brasileira, ao estabelecer concurso mais justo com as diferentes condições de acesso aos ensinos fundamental e médio, sem contar com a seletiva indústria dos cursinhos. Por tudo isso, tem razão a direção da UFSJR de se reservar quanto à capacidade dos realizadores do Enem 2010 de produzir resultado confiável e em tempo hábil às matrículas. Ninguém foi demitido e permanece no MEC o discurso de que tudo está bem encaminhado. O Enem é ideia boa demais para ser desperdiçada. A expectativa é que o governo que toma posse em janeiro se empenhe em levá-la em frente, sem mais trapalhadas. 
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