sábado, 27 de novembro de 2010

Guerra civil no Rio

ZERO HORA (RS)



O país assiste, estarrecido, ao mais assustador confronto entre as forças de segurança do Rio e o poder paralelo em que se transformou o tráfico de drogas. Depois de anos de negligência por parte do poder público, que possibilitou a organização e a institucionalização do crime na capital fluminense e em suas zonas periféricas, os traficantes passaram a sentir-se ameaçados pela implantação de Unidades de Polícia Pacificadora nas comunidades carentes. Em represália, estão promovendo atentados e atos de vandalismo, que esta semana começaram a ser reprimidos fortemente pela polícia estadual e pelas Forças Armadas. Ontem, cenas cinematográficas transmitidas pela televisão, protagonizadas por bandidos armados em fuga, deram uma conotação de guerra civil ao episódio. Dezenas de quadrilheiros, munidos de armas pesadas, deslocavam-se de uma favela a outra, em fuga. Cenas impressionantes, comparáveis às que o mundo se habituou a ver em países conflituados da África, sucediam-se na tarde de ontem, acompanhadas ao vivo pela televisão.


O que está ocorrendo no Rio de Janeiro é a tentativa do crime organizado de resistir, sob a liderança do chamado Comando Vermelho, ao avanço de um projeto de restauração do poder do Estado sobre um território no qual as quadrilhas de traficantes impuseram um poder paralelo. Cerca de 17,5 mil homens estavam envolvidos na operação que, com a ajuda de blindados da Marinha, tentava impedir a reação dos bandidos. A facilidade com que as filas de quadrilheiros deslocaram-se das favelas da Penha, em especial da Vila Cruzeiro, para o Complexo do Alemão mostra a amplitude da ausência do poder público. Expulsos das comunidades ocupadas pelas UPPs, os bandidos buscaram refúgio nas favelas do Alemão, sugerindo que ali será o cenário da próxima batalha.



A multiplicação dos atentados contra ônibus e automóveis, em regiões da capital e na Baixada Fluminense, é explicada pelos especialistas como uma técnica normalmente utilizada pelas quadrilhas quando acuadas. Foi assim na Itália e é assim na Colômbia.



A guerra a que o país assiste não é algo que interessa apenas ao Rio de Janeiro. Ao contrário, é um episódio que envolve o país inteiro, como um desafio à capacidade do poder público de oferecer serviços de segurança e de permitir que nessas favelas, cujos habitantes são em sua maioria trabalhadores honestos, se implantem as estruturas oficiais do Estado e se forneça a assistência à educação e à saúde e se instalem as condições para que as populações desfrutem de um vida produtiva para as pessoas e famílias.



A guerra do Rio é, por isso, uma guerra de todos os brasileiros, até porque a droga – que sustenta as organizações criminosas – é comercializada e consumida em todos os Estados do país.

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