Não deve surpreender a reação de quadrilhas de traficantes ao avanço das forças de segurança, com a retomada do controle por parte do Estado de favelas que serviam de santuário da criminalidade. Quando foram planejadas, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), um passo estratégico do poder público para a integração de centenas de milhares de pessoas ao estado de direito, já se previam efeitos colaterais indesejados -- o que não quer dizer que não tenham de ser coibidos. Assaltos a pedestres e a residências são alguns desses efeitos.
Embora não seja objetivo das UPPs acabar com o tráfico nas favelas ocupadas - mas resgatá-las para o controle do Estado, a fim de que possam receber serviços básicos, entre eles segurança -, houve perda de receita por parte desses grupos, prejuízo que tentam compensar no asfalto. As estatísticas sobre violência apuradas à medida que as UPPs avançam indicam, não por acaso, retração no número de homicídios, devido à batida em retirada de grupos fortemente armados de áreas importantes da cidade, e a tendência de elevação no número de furtos e assaltos. Claro que um maior policiamento ostensivo é a terapia indicada, solução que esbarra, porém, na falta de contingente, problema que as autoridades procuram administrar, na medida do possível. Também não se pode relaxar no recrutamento de policiais, serviço com deficiências conhecidas.
O restabelecimento do monopólio da força por parte do Estado e o banimento de armas pesadas, de guerra, dessas favelas, agora abertas para receber os devidos serviços públicos, são parte essencial do projeto, e nele não se pode recuar. Considerando que o tráfico do varejo, de pequenas quantidades de droga, é uma realidade mundial - nem os bilhões de dólares gastos anualmente pelos Estados Unidos conseguem extingui-lo -, é uma ilusão esperar que um dia Rio, São Paulo e qualquer outra cidade brasileira estejam livres dele. Nem Nova York, Paris e Londres e outros centros estarão. A aberração brasileira é o controle territorial por bandidos e o manejo de armas de guerra. Isto é inadmissível. Algo semelhante pode ser encontrado apenas em regiões remotas, como áreas de exploração do ópio no Afeganistão. E na Rocinha...
O Brasil, e o Rio em particular, não vive experiência inédita. Há relatos idênticos, por exemplo, de quando as forças de segurança avançaram com êxito contra os cartéis colombianos e as máfias italianas. Em ambos os casos, quadrilhas acuadas reagiram com técnicas de terror. Parece ser a fase em que o Rio começa a entrar.
Agora mesmo é que não pode haver vacilações. A criminalidade não será contida se o Estado e a sociedade brasileira como um todo ficarem inertes. Não serão respostas tópicas nas ruas e nas favelas, embora necessárias, que equacionarão o problema, como disse ontem, em entrevista ao "RJ-TV", o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. O Rio de Janeiro tem um bom programa de segurança, mas enfrenta dificuldades - como os demais estados - devido, entre outras razões, à leniência na legislação penal que permite, como citou Beltrame, que bandidos voltem às ruas com facilidade, menores delinquentes continuem no crime e chefes comandem quadrilhas das prisões. Será suicídio se União, estados, municípios, Congresso e Judiciário não estreitarem a cooperação para reformar a área de segurança pública.
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