domingo, 28 de novembro de 2010

Memória empresarial influencia processos diários e planejamentos estratégicos das organizações

Memória empresarial influencia processos diários e planejamentos estratégicos das organizações

por Julio Cadeira

A trajetória de uma empresa – suas memórias, desafios, oportunidades crises do passado (e como elas foram superadas) – não merece ficar apenas nos livros comemorativos. É claro que tais publicações são uma ótima forma de marcar datas importantes e recuperar imagens e documentos caros à história de uma companhia. Porém, existe muito mais no passado do que lembranças. E muitas empresas já atentam para isso.

“Hoje uma publicação, mesmo que comemorando um aniversário, já tem um caráter mais estratégico”, conta Beth Totini, historiadora e fundadora da Memória e Identidade, consultoria que visa justamente a levantar e organizar documentos e material iconográfico de grandes empresas – com o objetivo de criar, entre outros produtos, publicações, exposições e centros de memórias, como foi feito para a Embraer, um de seus clientes.

A especialista foi convidada para falar do assunto, junto com a colega de profissão e consultora da Memória e Identidade Élida Gagete, pelo Comitê de Comunicação Corporativa do WTC Business Club, durante o encontro Memória Empresarial Como Ferramenta de Gestão. E, como o nome da palestra sugere, ambas deram exemplos de como o passado pode influenciar o futuro das empresas.

Antigas ideias, novos planos

“Para a gente chegar a esse objetivo é preciso trabalhar com vários tipos de fontes”, explicou Élida. “Documentação oficial, coisas que foram publicadas sobre o setor, clippings e depoimentos que de quem vivenciou os períodos.” Todo esse material resulta em um relatório que, apresentado para a diretoria da empresa, pode extrapolar o espaço do livro comemorativo. Foi o que aconteceu, por exemplo, com um dos clientes da consultoria, a Ultragaz.

A companhia passava por um momento de reavaliação, nos anos de 1990, e estava em busca de assessoria para rever sua marca e reposicionar-se no mercado. “Eles queriam saber o que tinha sido perdido [ao longo do tempo], o que eles ainda tinham, quais foram os caminhos, enfim, era um momento de planejamento estratégico”, explica Beth.

Segundo as historiadoras, foi resgatado muito material referente às decisões tomadas diante de desafios do passado, desde sua fundação da empresa. “Coisas como qual tinha sido sua postura no setor, sempre muito regulamentado, e como ela tinha respondido a isso em termos de gerenciamento mercadológico e administrativo”, retoma Élida.

“O curioso foi descobrir como muita coisa que eles estavam pensando em fazer, na época, achando que era inovador, na realidade a própria empresa já tinha feito no passado, nos anos de 1950, 1960”, comenta a consultora. “No final, eles acabaram alterando o planejamento estratégico deles por conta desse levantamento de sua memória e história.”

A Toyota do Brasil Ltda também está entre os exemplos de companhias que não quer perder o próprio passado de vista. Desde 2007, ela está em processo de recuperação de todo o material que puder conseguir. O motivo inicial foi a comemoração dos 50 anos da fábrica no Brasil, comemorados em 2008. No entanto, hoje, o bichinho da história já mordeu a empresa, e o resultado dos trabalhos devem resultar na criação de um centro histórico, que funcionará na futura unidade da montadora em Sorocaba, interior de São Paulo – que tem inauguração prevista para 2012.

“A ideia é que a gente tenha, nessa fábrica, uma área de exposição, ou seja, um museu da Toyota”, adianta Paulo César Rovai, gerente de Marketing da empresa. “Nele estará esse acervo, esse centro de documentação, e todas as pessoas que forem visitar a fábrica de Sorocaba terão contato com a história da companhia.

O processo de reunião desse material histórico envolveu também os funcionários da fábrica – na verdade, sem os quais, segundo Rovai, a empreitada não atingiria completamente seu objetivo. Um dos destaques foi um colaborador que tinha guardadas todas as edições de um jornal interno da empresa – dez anos de publicação. “Desde o número um”, reforça Rovai. “Foi uma contribuição muito importante e que mostra, principalmente, o engajamento que as pessoas têm com a companhia.”

Importância do RH

O gerente de Marketing conta também que um dos departamentos mais envolvidos diretamente no processo tem sido o de Recursos Humanos. “Isso desde o início”, revela. “Esse é o departamento que, muitas vezes, tem o registro de que determinado funcionário é o mais antigo ou é o que entrou na primeira unidade etc.” Em muitos casos, conta ainda Rovai, foi o RH o responsável por fazer as pontes entre os envolvidos no trabalho de recuperação de documentos e os funcionários – com seus tesouros históricos guardados em casa. “É uma forma de motivar as pessoas de uma maneira muito diferente. As pessoas construíram aquilo [a história da empresa] e têm orgulho disso.”
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