terça-feira, 1 de junho de 2010

A América Central merece ser reconhecida por negociar unida


Provavelmente o leitor não esteja familiarizado com a Costa Rica, ademais eles, bem como os demais da A. Central não figuram como destaque na mídia internacional.


A eleição dessa jovem senhora é uma tentativa de quebrar fortes paradigmas, sobretudo a da quase fraqueza crônica de todas as instituições públicas e políticas daqueles países em função de uma dicotomia entre desenvolver sob a regência dos EUA, uma vez que tudo o que produzem é produzido de forma mais barata e competitiva em outras partes do mundo, e uma nova visão de sociedade bolivariana capiteneada por Chavez. De toda forma aqueles países em função de suas naturais vicissitudes, não conseguem expressão mundial e os blocos econômicos e políticos não conseguem lograr êxito. 


Em um entrevista reticente e um tanto evasiva, ela se refere ao protecionismo adstrito à rodada de negociação da OMC em Doha porque os países ricos e as empresas investidoras não querem ter o risco de investir em países cuja fraqueza institucional não garanta economia de escala e competitividade pois, hora para outra, poderá surgir um gato maestro e estatizar, como presidente, as empresas internacionais, ademais, por razão até da crise atual que não se evadiu da Europa, eles preferem gerar renda a partir dos produtos e postos de trabalho domésticos ao invés de importarem produtos gerando postos de trabalhos alhures.

Também sofrem, atualmente, a pressão econômica da China, notadamente em função de ser a majoritária de ações do Canal do Panamá que é a artéria econômica de toda a região. A influência chinesa também corre às sombras das aventuras ideológicas do Foro de São Paulo e do sonho do neobolivarianismo. Tipo assim, enquanto vocês gastam seu tempo implicando com o EUA eu vou ganhando meu mercado em todos os seus blocos regionais e os enfraquecendo ao mesmo tempo.

Essas ilações servem de intrólito, pois adentrar em detalhes no momento não seria profícuo pois os eventos que ocorrem naquela região são discretos e precisam de mais noticiário na mídia para se poder fazer alguns links e convidar o leitor a se aprofundar mais e conhecer mais. A propósito, nosso presidente, discretamente, usa do Erário para investir, em competição com os EUA, naquelas economias frágeis. Talvez os resultados da próxima reunião da CEPAL seja mais um palanque de projeção internacional de nosso presidente do que, propriamente, posicionamento, como estadistas, dos interesses da sociedade brasileira.

Ela também se refere a dois pontos de fundamental importância até para nós brasileiros: O primeiro é a dificuldade de se chegar a um acordo de mercado comum entre países das duas Américas, notadamente a comunidade andina que vem sendo esvaziada por Chavez e seu neobolivarianismo e pela enorme difuculdade de infra-estrutura que a região possui para integrar seus distritos, regiões e cercanias de grandes povoados por motivo da cordilheira dos Andes e enorme variação climática que lá possui o que dificulta, sobremaneira, a diversidade agropastoril, o que torna os eventuais produtos de exportação e manutenção de PIB muito mais caros que diversas regiões mundo afora. O mesmo comportamento se dá na comunidade econômica que liga os países da A. Central e os do Caribe, o CARICOM, onde os EUA representa mais de 40% dos ingressos, seja por remessas de emigrados, a partir do solo americano -há países como Honduras e El Salvador que tais remessas representam até 30% do PIB- como também por aquisição daquelas produções para manter a região controlada.

O outro ponto diz respeito à Segurança que ela renitiu em ser mais clara no "affair" de Zelaya cuja influência de Chavez, como também a da OEA e a brasileira balançaram, significativamente, o portfólio de ações de combate sério às novas ameaças, ou ameaças transnacionais, tais como tráfico de drogas, de armas, imigração ilegal, guagues de rua (maras e pandillas), desastres ambientais e outros de um grande elenco de problemas vividos por aqueles países.

Ademais, a breve e lacônica, quando não evasiva, entrevista, serve ao menos, para chamar a atenção a um tipo de grito quase mudo de uma nova personagem naquele pitoresco cenário do Hemisfério Ocidental.


Quanto a questão de estarem unidos em torno de uma mesma agenda, apesar de três países comemorarem a mesma data de fundação por tê-la por um mesmo libertador, aqueles países da América Central dificilmente conseguem lograr acordos em torno de pautas delicadas de comércio ou de combate a crimes organizados.

Não obstante, vale a pena acompanhá-la nos próximos anos. Ela será uma nova liderança.

"A América Central merece ser reconhecida por negociar unida", diz Laura Chinchilla, nova presidente da Costa Rica

O gabinete presidencial na sede do governo da Costa Rica mudou completamente. As abundantes fotos do ex-presidente Óscar Arias com inúmeras figuras internacionais deram lugar às fotos familiares de Laura Chinchilla (nascida em San José, em 1959) e a pinturas que ajudam a dar um tom feminino ao poder. A presidente assumiu o comando em 8 de maio, e na quarta-feira em Madri marcou um belo tento. Participou da assinatura do primeiro acordo de livre comércio que a UE assina com um bloco regional, neste caso o centro-americano.

El País: A América Central trabalha em uma só direção?

Laura Chinchilla: Conseguimos chegar ao final da negociação de um pacto com a UE, e isso nenhum outro bloco na América Latina conseguiu. A América Central merece um reconhecimento por chegar a esta etapa em uma negociação difícil, com discrepâncias em uma série de temas e com os desequilíbrios da região. Os andinos não o conseguiram.

El País: Haverá livre trânsito de pessoas na América Central?

Chinchilla: Todos aspiraríamos a que as fronteiras sejam eliminadas, mas os processos devem ser graduais. Aqui [na Costa Rica] fomos receptores de imigração e agora devemos ajudar os países para que não expulsem os seus [referindo-se à Nicarágua].

El País: A senhora considera excessiva a influência na América Central da disputa entre Hugo Chávez e Washington?

Chinchilla: O conflito em Honduras foi fortemente marcado por esse tema, com sequelas que ainda nos impedem de fechar o círculo. Eu, no entanto, confio em que além de simpatias com governos extrarregionais predominem os interesses internos.

El País: Haverá uma união política?

Chinchilla: Esse deve ser um processo gradual e natural... Por enquanto, a integração política está bastante distante.


El País: O que a senhora espera do governo de Barack Obama?

Chinchilla: A Costa Rica já não espera muito dos países desenvolvidos. Por ter conseguido ser um país de renda média, parece mais que nos penalizam com os fluxos de cooperação econômica. Na realidade, o único que esperamos dos EUA, assim como da UE, é que nos deem oportunidades para colocar nossos produtos. Queremos jogar com a mesa nivelada e esperaremos que sejam consequentes, que se encerre a rodada de Doha, que se revisem as políticas de subsídios que impedem um comércio justo. Além disso, devem se preocupar mais com a situação de segurança que, no meu critério, afetará fortemente a América Central nos próximos anos. Ainda somos uma região frágil no plano institucional.

El País: Como fará para que a imagem de insegurança crescente não afete o turismo e os investimentos?

Chinchilla: O pior que um país pode fazer é ocultar um problema, porque o impacto acaba sendo muito mais grave. Se nos compararmos com a América Latina, sim, devemos continuar dizendo aos turistas e investidores que a Costa Rica continua entre os três mais seguros, mas também é preciso advertir que experimentamos um crescimento em criminalidade e violência e por isso é preciso informar para evitar situações de risco, sem exagerar.

El País: Que imagem a senhora quer transmitir para o mundo?

Chinchilla: Vou me preocupar para que mantenha a maior solidez possível na promoção da paz e dos direitos humanos, mas especialmente como um país ativo contra o aquecimento global. Essa foi uma decisão muito forte que tomei ao nomear o chanceler René Castro, especialista em meio ambiente. E a par disto quero projetar a imagem de um país dinâmico que quer se inserir no mercado competindo com os melhores padrões.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
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