domingo, 27 de junho de 2010

O risco de satanizar os muçulmanos no Ocidente

Algo que sempre procurei comentar com meus amigos: Não se entende a postura, a idiossincrasia e a determinação dos muçulmanos a partir dos valores ocidentais.

Este artigo esclarece, melhor do que eu, um tema importante que, advindo da globalização, projetou-se de forma contundente em nossos dias e valores.

Contudo, insisto que uma importante leitura é o livro do Prof Sammuel Huntington, "O Choque das Civilizações". A leitura desse livro, ainda em 1998, ajudou-me e ver melhor tal fenômeno.

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Eles não são exatamente ubíquos, mas segundo o “Daily News”, 40 ônibus de Nova York estão atualmente circulando com uma propaganda incomum e, para ser franco, de caráter duvidoso fixada em suas laterais.
“Fatwa na sua cabeça?” diz a propaganda, em uma mensagem aparentemente voltada aos muçulmanos que querem se converter para outra religião ou simplesmente não querem mais ser muçulmanos. “Sua família ou sua comunidade ameaçam você?”
O anúncio está promovendo um site, RefugeFromIslam.com, onde, supostamente, os muçulmanos de Nova York, cujas vidas foram ameaçadas porque querem se converter, podem procurar ajuda. O site também contém links para outros sites com vários propósitos anti-islâmicos. “Muçulmanos Contra a Sharia”, por exemplo, visa “educar os muçulmanos para os riscos representados pelos textos religiosos islâmicos e por que o Islã precisa ser reformado”.
É frequentemente notado que a genialidade da vida americana é um certo esquecimento proposital, uma disposição de vários grupos de um esquecimento intencional, uma disposição de vários grupos que compõem nossa população de impor uma anistia às disputas étnicas e religiosas de outros lugares. Ou como colocou o imigrante francês Jean de Crevecoeur em 1782, os “antigos modos e preconceitos” foram deixados para trás pelo novo homem americano, que recebeu “novos do novo modo de vida que abraçou”.



E é em grande parte verdadeiro que os conflitos étnicos, tribais e religiosos que transcorriam em outras partes do mundo não foram recapitulados neste país, onde os irlandeses católicos e protestantes podem não adorar uns aos outros, mas vivem em paz, assim como gregos e turcos, árabes e judeus e praticamente todos os demais grupos.
Provavelmente isso não está prestes a mudar drasticamente; mas aqueles anúncios nos ônibus talvez sejam um pequeno sinal de que o extremismo islâmico e a frequente reação destemperada e de pânico a ele estejam criando um tipo de ciclo vicioso, no qual a tradicional trégua interétnica e a civilidade viva e deixe viver da vida americana possam se transformar em baixas.
Os anúncios, que, segundo o “Daily News”, permanecerão nos ônibus por um mês, foram criados por uma blogueira conservadora de 51 anos chamada Pamela Geller, que dirige um grupo chamado Detenha a Islamização da América e que considera sua tarefa expor a natureza supostamente retrógrada e repressiva do Islã.
“É preciso haver anúncios para as pessoas que queiram deixar o Islã”, ela disse ao “Daily News”. “As vidas delas estão ameaçadas.”
E estão? Não há dúvida de que em alguns países muçulmanos a apostasia é um crime punível com a morte.
Talvez, na privacidade da sociedade islâmica americana, existam ameaças semelhantes. Mas certamente os vários sites da sra. Geller não oferecem evidência deles, apesar do tremendo esforço para fazê-lo. O site listado no anúncio no ônibus faz uma vaga referência a um “assassinato em nome da honra” que ocorreu há 20 anos no Arizona. Ele também reproduz uma notícia de 2007 a respeito de um muçulmano, que morava no Queens, que matou sua esposa a facadas, um crime terrível; mas não há indicação de que esse assassinato em particular tenha sido perpetrado porque a esposa não queria mais ser muçulmana.
Isso não quer dizer que as preocupações com a cultura muçulmana não sejam baseadas em nada. Sem dúvida a campanha da sra. Geller ganha credibilidade devido a uma parte substancial do mundo muçulmano aceitar ou encorajar coisas como assassinatos em nome da honra, homens-bomba suicidas, o culto da morte e do martírio e o tratamento altamente discriminatório de mulheres e meninas.
Logo, seria sem sentido negar que os jihadistas radicais de todo mundo, que desejam voltar o relógio para o Islã supostamente puro do século 7, tiveram sucesso em definir o Islã para muitos não-muçulmanos, incluindo, ao que parece, a sra. Geller. Além disso, a resposta dos moderados islâmicos à vertente adoradora da morte do jihadismo islâmico tende a ser branda e anêmica.
Ainda assim, aqueles dentre nós perplexos e perturbados com o Islã jihadista radical devem reconhecer que, com um número infinitesimal de exceções, os cinco milhões a sete milhões de muçulmanos que supostamente vivem nos Estados Unidos se comportam assim como os novos homens americanos de Crevecoeur, mais interessados em seguir em frente com sua vida em seu novo país do que nutrir antigos conflitos e preconceitos.
É isso o que essas propagandas em ônibus e a mentalidade por trás delas ameaça subverter. Aqui em Nova York, há uma oposição ruidosa aos planos de um grupo muçulmano local conhecido como Cordoba House de construir um centro comunitário de 13 andares em uma velha fábrica de casacos, a duas quadras do terreno do World Trade Center. O centro muçulmano incluiria uma mesquita e um memorial às vítimas do 11 de Setembro de 2001.
Sem causar surpresa, Geller está entre os organizadores de uma manifestação marcada para 6 de junho, o Dia D, contra o que chamam de “megamesquita no Ponto Zero”. Aparecendo no programa “Huckabee” da “Fox News” há duas semanas, Geller disse que “uma mesquita representa a própria ideologia que inspirou os ataques do 11 de Setembro”. Este é o motivo para a Cordoba House ser “um ultraje, um insulto, uma humilhação a todos americanos”.
O apresentador, Mike Huckabee, recebeu uma declaração da Sociedade Americana para o Avanço Muçulmano que argumentava que o Centro Cordoba é precisamente a forma de consertar a percepção de fracasso dos muçulmanos moderados de se manifestarem contra o extremismo. Segundo a declaração, ele seria um lugar não apenas onde a liberdade de religião seria praticada, mas onde os muçulmanos americanos poderiam “se unir aos demais cidadãos na condenação do extremismo e violência”.
A resposta de Geller foi lembrar aos espectadores da “Fox News” que os ataques do 11 de Setembro visaram dois dos símbolos mais importantes dos Estados Unidos e que a recente tentativa de um terrorista paquistanês-americano de detonar uma bomba em Times Square visava outro.
Isso é verdade, o motivo para estarmos falando aqui de um ciclo vicioso. Se houver mais tentativas de terrorismo por muçulmanos em solo americano, haverá mais americanos pagando por propagandas em ônibus e outras coisas para expressar sua raiva contra o Islã e contra os muçulmanos nos Estados Unidos, encorajando a ideia de que o Estados Unidos são, ou devem ser, seus inimigos.
Isso, é claro, é exatamente o que os jihadistas querem que eles façam. Quanto mais tornamos todos os muçulmanos em nossos inimigos, mais inimigos muçulmanos nós teremos.
Tradução: George El Khouri Andolfato
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