Talvez não seja oportuno chamar hoje um país de terceiro mundo. Após a 2ª Grande Guerra com o advento da Guerra Fria, os países do mundo apressaram-se em assumir posições a fim de não sofrem conseqüências. Assim, os que se aliaram aos vencedores passaram a se chamar mundo capitalista e os que, por covardia e omissão calculada dos primeiros, viram-se sob o jugo da URSS amargaram o título de mundo comunista e todas as vicissitudes que advieram com os anos subseqüentes.
Havia, pelo menos em tese, os não alinhados, mas eram, em sua maioria, o que detinham certo patrimônio financeiro de ambos lados e que serviam de fiel de balança bem como o de remessas de recursos de toda ordem a fim de se proteger fortunas ou, mesmo, financiar ações de provocação e de deterrência de ambas fatias conceituais do planeta.
Os que não tinham nem eira nem beira ficaram com a pecha de terceiro mundo. Neles toda sorte de refugo ideológico e cultural passou a minar a identidade própria. Para os mais fortes e mais velhos, todos só poderiam ou deveriam crescer ao ritmo e sombra dos primeiros. Assim os EUA, falando-se do Hemisfério Ocidental, passou a cuidar da economia dos menores e a URSS aproveitou-se do levante de Sierra Maestra para fazer sua cabeça de ponte: Cuba.
Em 1989 acabou-se, por esgotamento econômico natural, o sonho comunista, contudo, nós os hermanos, herdeiros de uma falida revolução cultural, iniciada em Paris em 1968 e sustentada graças à nossa abulia intelectual coletiva, passamos a cultuar tudo o que não levava a canto nenhum. E nessa tentativa e erro estamos até hoje, com a ressalva de virarmos, de uma hora para outra, simpatizantes da gênese muçulmana personificada por ditadores, em nome de nossa democracia com tez morena.
Goste-se ou não este jornalista que já foi ministro de Estado falou verdades, apesar de serem suas impressões fortemente pragmáticas, são reais.
A questão que diferencia um estadista de um líder partidário alçado ao posto maior pelo voto, e repetido, é o da capacidade de ver os interesses da sociedade acima de uma nova doutrina como é a do Foro de São Paulo que faz com que, a título de exemplo - via Erário ou não, o frei Beto tenha sido um "embaixador informal" para articulação das campanhas de alguns dos líderes citados e o resultado prático, representado pelas respectivas sociedades, seja exatamente este: Nós não nutrimos empatia junto aos hermanos. Pode-se haver alinhamentos ideológicos fortuitos um uma boa quantidade de eventos ou joint ventures que venham a exemplificar o contrário do que falo, contudo, na base e na essência é isto.
Venho alertando aos amigos para termos cuidado com nosso entorno sudoeste, já há algum tempo. Este artigo e outros eventos são "fatos portadores de futuro". Resta-nos saber se a mídia irá informar e alertar, adequadamente, o cidadão.
JOÃO MELLÃO NETO
Quase ninguém se encoraja a abordar esse tema, mas é preciso que seja dito: o papel que o Brasil vem exercendo na diplomacia internacional é visto pelos especialistas como tolo e ingênuo, além de macular a nossa autoimagem de país sério.
Aqui, na América do Sul, onde a nossa maior praga política, o populismo, renasce com força, não somos vistos como uma liderança, como deseja o governo. Quase todos os nossos vizinhos nos encaram como "o primo rico". Ou seja, aquele que tem sempre a obrigação de "pagar a conta".
O Chile - nosso atualmente único colega de subcontinente em condições de chegar ao Primeiro Mundo - nos ignora.
Já a Argentina - que foi realmente uma potência mundial até meados do século passado - vive nos chantageando para que o Mercosul não seja desmantelado. A todo momento o governo platense apresenta uma nova barreira comercial protecionista contra os produtos de exportação brasileiros, sob o enganoso pretexto de estar protegendo a sua economia nacional e seus interesses contra a "falta de simetria econômica" entre as duas nações. Ou seja, o mercado interno brasileiro está - e assim tem de permanecer - escancarado às investidas dos poucos produtos argentinos que têm preço competitivo. Já o mercado argentino está travado por barreiras contra o Brasil. "Muy hermanos" esses nossos vizinhos. Mas os problemas que eles nos criam se resumem a isso. O governo "peronista" de Christina Kirchner não precisa de uma "mãozinha" política do Brasil. Os argentinos são muito orgulhosos e não aceitam favores desse tipo provenientes dos brasileiros.
Com relação à Venezuela, é diferente. Hugo Chávez praticamente comprou a simpatia e a boa vontade dos argentinos. Para tanto se dispôs a assumir razoável parcela da dívida interna argentina. A Venezuela dispõe de recursos suficientes para tais atos de generosidade. Eles provêm do seu petróleo. Com tais divisas disponíveis, o "bolivarianismo" - o novo socialismo latino-americano - está sendo exportado para todo o continente. E, atualmente, os grandes líderes políticos da região são os venezuelanos, e não os brasileiros.
Seria natural que nós usufruíssemos tal condição. Afinal, o Brasil é o maior país do continente latino-americano - tanto em extensão territorial como em população e também em poder econômico. Mas a opção de nossos atuais governantes tem sido a de alimentar a nossa "consciência pesada" com relação aos nossos vizinhos. E eles bem sabem se aproveitar disso.
Evo Morales, na Bolívia, chegou ao poder com um discurso claramente antibrasileiro. Segundo ele, o Brasil, no passado, teria abusado da boa-fé boliviana para comprar o Acre "pelo preço de um cavalo". Como pouca gente, por aqui, conhece bem a História, a versão pegou. E serve, agora, para alimentar nos brasileiros um insuportável sentimento de culpa.
Obviamente, não foi bem assim. E o que estamos pagando à Bolívia como uma forma de compensação tardia tem um preço muito elevado. Compramos o gás natural que eles produzem. O problema é que a nossa produção interna de gás é mais do que suficiente para atender às demandas da economia. O gás proveniente da Bolívia está literalmente sobrando. Mas jamais nos ocorreu suspender o contrato. E os líderes bolivianos vão, para sempre, continuar falando mal da gente.
No Brasil, as nossas esquerdas sempre alimentaram o discurso antiamericano. Ninguém percebe, por aqui, que, para os nossos vizinhos, os grandes imperialistas não são os norte-americanos, mas sim os brasileiros.
O atual governo do Equador, que apregoa ser nacionalista, começou a sua gestão estatizando várias empresas brasileiras. Foi uma atitude que pegou bem por lá. Ainda mais porque os nossos dirigentes aceitaram isso sem reclamar.
Agora, no Paraguai, o ex-bispo "progressista" Fernando Lugo venceu as eleições presidenciais prometendo renegociar o contrato de Itaipu, mais do que decuplicando o preço que o Brasil paga pela sua energia. Ainda não aconteceu nada, mas as nossas autoridades já deram seguidas demonstrações de que a boa vontade brasileira com relação ao pleito é imensa.
O apoio incondicional que o nosso governo tem dado a Hugo Chávez contradiz, na prática, o compromisso brasileiro com a democracia e as suas instituições. O mesmo argumento vale para Cuba. O nosso governo, para tanto, faz vista grossa a todos os atentados aos direitos humanos que por lá ocorrem.
Resultado: não logramos ser líderes de nada, na América Latina. Passamos até por alguns ridículos, como o de Honduras.
O nosso presidente foi convencido a visitar um monte de nações insignificantes da África como forma de se projetar no mundo. Em vão.
A maior cartada do nosso governo foi a suposta intermediação na questão do Irã. Para isso demos guarida institucional ao ditador de lá, quando o resto do mundo evita fazê-lo. O homem é um vira-lata internacional. E o que conseguimos com isso? Nada, além do vexame que protagonizamos nos últimos dias.
Presidente, não seria hora de repensar nossa política externa?
Os seus assessores na área, nos últimos oito anos, têm lhe garantido que tais iniciativas tortuosas serviriam para que obtivéssemos uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Nunca estivemos tão longe disso. As nossas insólitas e erráticas investidas diplomáticas, ao contrário, criaram uma imagem do Brasil como um parceiro pouco confiável.
Presidente, ainda é tempo de botar esses incompetentes na rua!
JORNALISTA, DEPUTADO ESTADUAL, FOI DEPUTADO FEDERAL, SECRETÁRIO E MINISTRO DE ESTADO. E-MAIL: J.MELLAO@UOL.COM.BR
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