Amigos estou insistindo em alguns temas que estão aparecendo de forma fortuita na mídia de maior alcance. Quando aparece em "lead" ele tem o tempero do economês. Tenho tido dificuldades até de ler os editoriais da Economist e do Wall Street Journal pois até lá o economês é pesado, com as habituais gírias "inteligentes" e altamente segregacionistas até para o leitor americano e britânico.
Valho-me, portanto, de alguns jornalistas brasileiros que utilizam equipes de jornalistas especializados para poder esmiuçar os problemas, desta vez, da UE e da recente crise da Grécia que, em função de similaridade com o nosso fabuloso mundo de funcionários públicos, colocou aquele país na bancarrota.
Gostaria de relembrar que a Alemanha depois do altamente socialista e populista Schoroeder, escolheram uma engenheira e financista como presidente que está debastando todos os perfis de benefícios constitucionais daquele país. Da mesma forma a França vem acompanhando, ainda que com mais timidez, os mesmos movimentos pois os cidadãos da ativa estão evitando o esgotamento econômico.
É um assunto a ser acompanhado por todos.
Preço a pagar
"O ponto que merece todos os olhares é simples: para ser grande, como a UE quer, é preciso pagar um preço alto, tão alto quanto o tamanho do sonho"
Ninguém duvida, já há muito tempo, que a União Europeia é provavelmente o maior projeto político da atual geração – ou que o euro, a moeda comum a dezesseis dos países que fazem parte dela, é o seu projeto econômico mais ambicioso. Nada parecido foi tentado antes, nem depois da formação do grupo, a partir de 1960. A ideia matriz de tudo isso, como vem sendo dito há cinquenta anos, é que a união faz a força; melhor ser forte como parte de um conjunto do que ser apenas mais ou menos por conta própria. No embalo desse princípio, construiu-se um bloco multinacional que hoje reúne 27 países, tem 500 milhões de habitantes e se tornou uma potência mundial indiscutível, com um PIB próximo aos 12 trilhões de euros. Em troca, abriu-se mão de passaportes nacionais, de muita soberania para os governos e até de uma moeda própria para a maioria dos países-membros – e, sobretudo, foi distribuído um convite permanente para que as ações individuais de um ou de alguns sócios criem problemas para todos. O temporal financeiro que a UE vem vivendo neste mês de maio, e que ela pretende superar fornecendo o equivalente a até 1 trilhão de dólares em créditos para socorrer a economia de membros aflitos, mostrou que será preciso bem mais que uma Grécia, onde a crise começou, ou mesmo uma Espanha, para quebrar a união e destruir a sua moeda comum. Mostrou definitivamente, também, que projetos dessa grandiosidade são assim mesmo: a partir de certo ponto, tornam-se difíceis de desmanchar, mas também dão um extraordinário trabalho para ficar de pé.
Os responsáveis pela UE devem saber disso. Mas, até cederem na convicção de que não se deve premiar a delinquência, como falaram em seus discursos em público, e resolverem se unir na ajuda aos principais devedores, como acabaram fazendo para evitar um primeiro calote de países que têm o euro como moeda nacional, gastaram bom tempo numa caça aos culpados tão neurastênica quanto improdutiva. Muito se lamentou a "falta de liderança" dentro da comunidade, algo que seria uma das principais razões do tumulto – numa sociedade com 27 governos, ninguém decide, nem é capaz de convencer os outros a decidir. Foram culpados, é óbvio, os "especuladores internacionais", embora não se tenha identificado de maneira satisfatória, desta vez, quem seriam eles. A certa altura, denunciaram-se com ira santa as agências de rating sediadas nos Estados Unidos, que dão notas a países e empresas segundo a capacidade que têm de pagar suas dívidas, dentro de critérios que permanecem um perfeito mistério. Ao rebaixarem subitamente a avaliação da Grécia, elas estariam, segundo seus acusadores, "causando a crise", pois espalham o pânico nos mercados e fecham as torneiras de empréstimos para quem já está em dificuldade – ou tornam muito mais caro o dinheiro que pode sair delas. Curiosamente, não se questionou por que as notas da Grécia estavam entre as melhores do mundo até as vésperas de se saber que sua contabilidade oficial era uma piada. O problema das agências era ficarem dizendo que um país à beira da bancarrota mantinha plena capacidade de pagar o que devia – e não a sua decisão de mudarem a nota, quando perceberam o desastre. Na confusão, falou-se em "controles públicos" sobre as empresas de rating e até numa "agência europeia" para fazer o trabalho de avaliação. Nada se disse, depois, sobre como seria possível fazer a primeira coisa, e qual o propósito da segunda. Só dar notas altas a países da Europa?
A maior parte da pancadaria, naturalmente, caiu em cima dos próprios gregos. Foram acusados de gastar demais, endividar-se, falsificar números, mentir para as autoridades centrais da UE e não fazer nenhum esforço que gerasse, dentro de casa, o dinheiro necessário para pagar suas despesas. Por que os gregos podem se aposentar aos 53 anos? Por que têm 14º salário? Por que os bem conectados não pagam imposto de renda? Por que não vendem umas ilhas para pagar o que devem? De novo, aí, é indignação depois da porta arrombada. Todo mundo sabia que a economia da Grécia não produzia riqueza suficiente para pagar isso tudo, e mais uma Olimpíada, um novo metrô em Atenas, um aeroporto de última geração. Mas, enquanto a casa não caiu, preferiu-se olhar para o outro lado.
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