O artigo abaixo em poucos parágrafos esclarece pontos importantíssimos que nós precisamos para entender a complexidade que é um país chamado Brasil.
A questão não está na crítica. Eu estou feliz com a capacidade que este governo conseguiu melhorar o poder aquisitivo do cidadão ao mesmo tempo que tenta melhorar os serviços a ele disponibilizados.
Entendo, também, que ao promover o acesso à melhoria de vida precisa-se gastar sem retorno, como são os programas assistencialistas. Ver o cidadão emigrar de condições ruins de vida para deploráveis nos bolsões marginais de grandes cidades é uma lástima a ser evitada em pleno século XXI.
A questão que vejo, de forma incipiente, é que a China tem a vantagem de ser um país-continente milenar, que sofreu ao longo de muitos séculos dominações estrangeiras mas soube manter-se incólume e íntegra após expulsá-los e promover seu desenvolvimento de forma paulatina. Em uma sociedade preparada para sacrifícios em nome da família e coletividade, pensar, entender e aceitar os sacrifícios do desenvolvimento em longo prazo sem acesso de todos aos seus benefícios é bem mais fácil do que em um país novo, de pouco mais de quinhentos anos com uma forte influência religiosa e política estrangeira que não nos permite identidade ou unidade nacional de pensamento além do futebol, única instituições onde o cidadão vê, percebe, articula e entende da mesma forma, do Oiapoque ao Chuí.
Ademais, temos que contar com muito mais dificuldades de acesso, integração e união entre nossos entes federados do que a milenar China.
Apesar de ter algumas restrições a este governo, eu sempre me manifestei em favor do desenvolvimento e acesso à riqueza do cidadão brasileiro. Acredito que estes riscos valham a pena, pois, sobretudo, somos um povo solidário, e saber que o irmão do lado está melhorando de vida sempre nos dá prazer e alívio.
O Brasil não pode (ainda) crescer em ritmo chinês
Na Ásia, o PIB crescer 11% é ótima notícia. No Brasil, 9% é sinal de alerta de superaquecimento da economia.
Os números divulgados na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmaram que o Brasil experimenta os seus dias de China. O total de mercadorias e serviços produzidos pelo país (o produto interno bruto, PIB) cresceu 9% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2009, o maior valor para a série histórica iniciada em 1995. Entre as economias mais relevantes do planeta, apenas a China obteve resultado superior. Lá, ninguém celebrou nem franziu a testa. Aqui, houve comemoração. "Vivemos um momento de ouro no país. É um crescimento exuberante. Acho que o Brasil merecia e precisava disso", festejou o presidente Lula. Mas também preocupação. Falou-se em superaquecimento da economia e em crescimento não sustentável. O que esses termos significam?
Os ponteiros ao lado apontam para os números que explicam as limitações da economia brasileira. Imagine que os indicadores são os painéis de dois carros de competição, um chinês e um brasileiro. Se tomarmos os carros pelas economias dos dois países, assim que elas se aproximarem de um crescimento anual de dois dígitos, um ritmo bastante veloz, os pilotos condutores das políticas econômicas vão bater os olhos nos ponteiros e tirar suas conclusões. Vão bater os olhos primeiro no ponteiro que mede a inflação. O chinês vai ficar tranquilo - 3,1% de inflação não assusta. O brasileiro vai se inquietar ao ver a marca de 5,2% no acumulado até maio deste ano. A reação do chinês será pisar no acelerador. A do brasileiro vai ser oposta, e ele tentará reduzir o número de rotações por minuto do motor, desacelerando, portanto, a atividade econômica.
Quando os dois bólidos metafóricos forem para os boxes, os engenheiros e projetistas terão informações capazes de explicar por que o da China não apresentou problemas e o do Brasil se superaqueceu quando acelerou. Eles olharão os números dos ponteiros que medem a taxa de poupança e a taxa de investimento. A China poupa 54,3% de toda a riqueza nacional que produz e investe outros 44,4% dela. O Brasil poupa menos de 20% do seu PIB e investe também alguma coisa em torno disso. Quanto mais um país poupa, mais ele investe e mais rapidamente pode crescer sem inflação. Segundo cálculo do economista Octavio de Barros, diretor de Pesquisas Macroeconômicas do Bradesco, a taxa de investimento deveria subir a 22% do PIB para que o Brasil pudesse avançar 5% ao ano sem inflação. Conclui ele: "Como o crescimento estimado neste ano para o Brasil é de 7,7%, fica claro que estamos acelerando demais".
Um exemplo ajuda a entender a razão disso no nível da microeconomia. Digamos que uma determinada fábrica decide duplicar sua produção mas não tem poupança para investir em máquinas e tecnologia. Essa fábrica vai ser obrigada a comprar o dobro de matéria-prima, dobrar o número de empregados - ou duplicar as horas trabalhadas, pagando horas extras - e pôr as máquinas para produzir no dobro da velocidade. O resultado disso é mais produção? Sim. Mas ela é sustentável? Não, porque logo os fornecedores vão cobrar mais pela matéria-prima, já que a demanda aumentou; os empregados vão exigir aumento de salário; e, com o ritmo acelerado, as máquinas vão quebrar mais frequentemente e se desgastar precocemente. O exemplo vale para o nível macroeconômico - ou seja, a economia de um país. Os mesmos fenômenos que inviabilizariam a tentativa da fábrica que resolveu duplicar sua produção atuariam para tornar insustentável o esforço de um país que crescesse em ritmo incompatível com suas taxas de poupança e investimento.
Essa constatação leva os olhos dos engenheiros e projetistas para outro ponteiro - o que mede a produtividade. O da China marca 4%. O do Brasil mal saiu do zero - está em 0,3%. O aumento de produtividade significa fazer mais com menos insumos. Sem produtividade, não existe crescimento real - outro nome para crescimento sustentável. A produtividade de um país não aumenta sem poupança e investimento em educação e tecnologia. E por que o Brasil não investe mais? Por diversas razões. A mais ponderável é a "despoupança" do governo. Despoupar significa gastar mais do que se arrecada. Enquanto Brasília despoupar e Pequim poupar, os chineses vão nos ver pelo retrovisor.
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