quinta-feira, 3 de junho de 2010

A Grécia é a ponta do iceberg

Nosso presidente vem defendendo um Estado forte e uma carga tributária elevada. Da mesma forma a CEPAL também assim define e expressa no documento que encerra o encontro multinacional. 


A questão está na insolvência que alguns países que não possuem a riqueza que nós temos que não tiveram de onde extrair meios, insumos e recursos minerais para colocar à venda no mercado internacional e atrair investimentos.


Convém, contudo, acompanhar que o Estado assistencialista é a maior causa da insolvência grega, só que este particular não vem sendo devidamente iluminado.






Em entrevista exclusiva a EXAME, o economista Nouriel Roubini descreve aquilo que considera o "castelo de cartas" das finanças globais




A popularidade do economista americano de origem turca Nouriel Roubini costuma oscilar na razão inversa da situação econômica mundial. Em momentos de euforia, o professor da Universidade de New York tende a ser visto como um chato de plantão, aquele cri-cri que busca problemas onde os outros veem soluções. Não à toa, ficou conhecido como Dr. Apocalipse. Mas, quando as crises previstas por ele se materializam, acontece o contrário. Sua fama atingiu o apogeu em 2008, durante o pânico causado pela quebra do banco americano Lehman Brothers. Roubini, que havia previsto o colapso, tornou-se uma espécie de economista popstar. Agora, em meio à crise que lançou o euro em incerteza, as palavras de Roubini, um velho crítico da união monetária europeia, voltam a ganhar peso. Para ele, a endividada Grécia é apenas a ponta do iceberg - e os problemas que abalam o país podem ser encontrados também em potências como Estados Unidos, Japão e Reino Unido. Segundo ele, as finanças governamentais são um castelo de cartas prestes a desabar. Uma boa notícia: o Dr. Apocalipse alimenta um cauteloso otimismo em relação à economia brasileira. Roubini viaja ao Brasil para participar da segunda edição do EXAME Fórum, no dia 31 de maio, com o tema "Brasil - A construção da quinta maior economia do mundo". Antes de embarcar, deu a seguinte entrevista a EXAME.
EXAME - No dia 10 de maio, as bolsas dispararam com o anúncio do plano de resgate europeu. Logo depois, o pessimismo voltou a toda. Qual é o problema com a Europa?
Nouriel Roubini - Dinheiro não é o bastante para resolver o problema europeu. Os países do sul da Europa estão endividados demais. A solução proposta no pacote é levá-los a um longo período de cortes draconianos e recessão. Isso só vai deixá-los ainda mais longe de atingir as metas de redução da dívida. A Grécia sairá dessa temporada recessiva com uma dívida ainda maior. Os problemas são muito sérios, e resolvê- los da maneira proposta pela União Europeia me parece ser uma missão impossível, além de politicamente inviável. Por isso os mercados reagiram mal: se nem 1 trilhão de dólares resolvem um problema, é sinal de que o imbróglio é realmente muito complicado.
EXAME - Mas havia uma saída melhor?
Nouriel Roubini - Países como a Grécia vão acabar tendo de reestruturar sua dívida ou mesmo deixar a zona do euro. Eles deveriam fazer isso logo, reconhecer que não há como pagá-la. Isso pode ser feito de maneira ordenada, como o Uruguai fez em 2003. Minha expectativa é que, em seis ou 12 meses, eles vão acabar percebendo que é impossível seguir no caminho atual. Os eleitores alemães também entenderão que não faz sentido gastar 140 bilhões de dólares para prevenir o que não é possível prevenir. Quanto mais organizado for esse processo, melhor. A Argentina empurrou o problema até que se viu forçada a dar o calote de maneira caótica em 2001, e foi um desastre. Minha sugestão é que se resolva isso logo para que o resultado seja mais à uruguaia, menos à argentina.

EXAME - O euro perdeu quase 15% de seu valor em relação ao dólar em 2010, e muitos preveem que as duas moedas caminham em direção à paridade. Ainda há esperança de que o euro venha a ser uma alternativa como moeda de reserva mundial?
Nouriel Roubini - A verdade é que o euro sai ferido dessa crise, que ainda nem acabou. Até os alemães estão nervosos com a moeda única. E a ideia de ter o euro como moeda de reserva mundial está em sério risco. Uma moeda de reserva não pode estar sujeita a riscos de liquidez ou de crédito como os vistos nas últimas semanas, com países- membros à beira do calote. O euro deixou de ser um porto seguro. Os investidores perceberam que, da maneira como a União Europeia está organizada hoje, o euro não tem condições de ser uma moeda de reserva.
EXAME - O senhor escreveu recentemente que a dinâmica da dívida mundial lembra o esquema Ponzi, do fraudador americano Bernard Madoff. Por quê?
Nouriel Roubini - Essa crise começou com um acúmulo de dívida no setor privado, uma bolha imobiliária em países como Estados Unidos, Reino Unido e Espanha, e levou ao colapso do sistema financeiro. Governos dos países ricos socializaram os prejuízos resgatando bancos e empresas quebradas e, para amenizar a recessão, começaram a gastar dinheiro público. O resultado disso tudo foi a multiplicação de governos insolventes. Agora, países mais fortes e instituições como o Fundo Monetário Internacional e a União Europeia estão repetindo o roteiro anterior e resgatando as nações com problemas. Mas a pergunta que fica é: quem vai resgatar a União Europeia e o FMI? Esse é um castelo de cartas.
EXAME - Quem olha os números do Orçamento americano percebe uma desconfortável semelhança com a Grécia. Na próxima década, estimase que os Estados Unidos terão um déficit de 9 trilhões de dólares, um recorde. A situação é sustentável?
Nouriel Roubini - A Grécia é apenas a ponta do iceberg. A situação americana não é sustentável e, pior, temos problemas semelhantes no Reino Unido, em outros países europeus e no Japão. Os países encrencados têm três opções. A primeira é dar um calote. A segunda é ligar suas gráficas e imprimir dinheiro, criando inflação. A terceira é cortar gastos, aumentar impostos e colocar a casa em ordem. O problema é que os políticos, notadamente os americanos, não parecem reconhecer o problema. Os democratas são contra cortes de gastos; os republicanos são contra qualquer aumento de impostos. E é preciso ir além, reformar a seguridade social e o Medicare (plano de saúde federal para idosos), por exemplo. Se não conseguirmos fazer isso, os Estados Unidos podem virar uma Grécia.

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