Quando por ocasião da primeira campanha de Lula, frei Beto vivia alardeando a quatro ventos que no Brasil havia mais de 50 milhões de miseráveis. Quando algum incauto, contra a corrente prevalente na época, lhe perguntava as fontes sob as quais ele se apoiava havia respostas lacônicas e quase moralmente incriminadores em direção ao repórter.
Dizia a meus amigos que era um exagero, pois éramos pouco mais de 180 milhões de pessoas e 50 milhões era quase um terço. Um terço que qualquer amostragem é extremamente significativo, representava um em cada três, ou seja, se andássemos nas ruas um terço era de miseráveis. Se eles não eram vistos nas ruas das cidades os argumentos eram o de que eles estavam no interior inacessível do país, ao que eu retrucava: Como então um terço está no interior e o interior é o que está produzindo grandes riquezas agrícolas e minerais, seriam os 50 milhões a mão de obra de tal pujança...
Enfim, desistia de elucidar a coerência nos argumentos pois a propaganda era muito forte. Pessoas que tinha como coerentes e sensatas usavam, fartamente, tais argumentos para incitarem o voto em Lula.
Vê-se, uma vez mais, pois até o frei, depois de Lula eleito adimitiu entre sorrisinhos cínicos, que havia exagerado mas que era época de campanha, que dados em nosso país, onde institutos de pesquisas estão permeados de ideologia, que dificilmente teremos dados concretos e críveis para se debruçar, em trabalhos científicos, para se ter uma melhor noção acerca do país que vivemos.
Pobreza no País é 35% menor que estimado, diz estudo
Por AE
São Paulo - A Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2008 e 2009, divulgada na semana passada, reservou uma surpresa ao economista Marcelo Neri, um dos maiores especialistas da área social no Brasil: o País tem 10,6 milhões de pobres a menos do que constava nas suas últimas estimativas, baseadas no resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2008. A diferença entre as duas pesquisas deve-se basicamente à inclusão, na POF, da economia de subsistência, a chamada "renda não monetária".
A diferença é muito grande, e significa que a pobreza no Brasil é 35% menor do que se pensava. Em vez de 29,8 milhões, resultado extraído da Pnad, são 19,9 milhões, a partir da POF. Neri, que chefia o Centro de Políticas Sociais (CPS), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro, observa que a comparação mais correta é do número da Pnad ajustado pela estimativa da população da POF, o que o leva para 30,5 milhões - ou 10,6 milhões a mais que os 19,9 milhões revelados pela POF.
"Isso significa uma diferença muito importante no custo de se acabar com a pobreza - ele cai aproximadamente pela metade", diz Neri. Na verdade, transferências perfeitamente focalizadas de R$ 11,2 bilhões por ano (um pouco menos do que o gasto com o Bolsa-Família) seriam capazes de acabar com a pobreza retratada pela POF. No caso do número de pobres que sai da Pnad 2008, aquele custo sobe para R$ 21,8 bilhões.
A linha de pobreza utilizada pelo pesquisador foi criada pelo Centro de Políticas Sociais, e equivale a uma média de R$ 140 de renda familiar per capita em janeiro de 2009. O valor varia de região para região do País, de acordo com o custo de vida. Essa linha de pobreza, na verdade, é relativamente baixa e, por vezes, os que estão abaixo dela são considerados miseráveis. Neri ressalva, entretanto, que, como linha de indigência, seria um pouco alta. A razão principal para a diferença entre o número de pobres nas duas pesquisas é o registro que a POF faz da economia de subsistência, ou "economia primitiva", como se refere Neri. Basicamente, trata-se do consumo que não passa pelo mercado e consiste primordialmente na agricultura de subsistência. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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