sexta-feira, 11 de junho de 2010

Crise dos Alimentos

Apesar de ser militar, piloto militar, escolhi como tema de tese a Segurança Alimentar. O tema é muito amplo e complexo e requer atenção e acompanhamentos constantes.

Fazer a comida chegar ao destinatário de forma regular, segura e sustentável é um enorme desafio para todos os países, inclusive os ricos em função da suscetibilidade de ações dos crimes transnacionais, dentre eles bio-terrorismo (introdução de pragas e fungos) ou contaminação de lençóis freáticos que servem as grandes colheitas.


Contudo, o desenvolvimento econômico dos países emergentes, por mais incrível que possa parecer, conforme até o artigo abaixo saliente, também representa uma ameaça para a produção e para a regularidade do fluxo de alimentos para os países mais pobres.


Em alguns anos o problema irá se agravar em função da baixa disponibilidade de mananciais de água e a ação dos ativistas de meio-ambiente que impedem o avanço de fronteiras agrícolas, da mesma forma, regiões com dificuldades de acesso terrestre também tenderão da enfrentar dificuldades na variedade de sua produção agrícola. Todos estes fatores causam significativo impacto na equação da Segurança Alimentar.

O artigo abaixo é muito elucidativo e vale, além da leitura, arquivar para consultas futuras.





Demanda cresce, o clima atrapalha e o preço sobe
Emergentes crescem mais do que o esperado

combinação de cinco fatores principais desencadeou uma alta média de 57% nos preços dos alimentos entre 2007 e 2008. O trigo, por exemplo, subiu 130%. Outro produto fundamental, o milho, teve seu preço dobrado nos últimos dois anos. Para as pessoas que vivem no limiar da miséria, isso significa a fome. A gravidade da situação já chamou a atenção dos principais organismos internacionais: a Organização das Nações Unidas (ONU), o Banco Mundial (Bird) e o Fundo Monetário Internacional (FMI). A seguir, as causas apontadas pelas principais entidades para explicar o problema - que, segundo o Bird, pode fazer com que 100 milhões de pessoas recuem na linha que separa a pobreza da miséria absoluta em função do encarecimento da comida.


Países estão comendo mais (principalmente os emergentes)

Este pode ser considerado o principal fator para o surgimento da atual crise. A economia mundial cresceu 20% nos últimos 4 anos, aumentando o consumo de alimentos em países emergentes como China, Índia e Brasil, onde vive uma parcela de mais de 30% da população mundial. Uma mudança de padrão de consumo é suficiente, portanto, para uma alteração significativa na economia global. No ano passado, a China expandiu seu produto interno bruto em 11,4%. A Índia cresceu 9,6%. Não foi só isso. Além de comer mais, a população desses países está se tornando mais urbana. Ou seja, deixou de produzir o próprio alimento para comprá-lo no supermercado, o que torna necessário que se produza mais comida em larga escala para atender às cidadesO crescimento da renda dos trabalhadores nesses países fez com que mudassem seus hábitos de consumo e, por conseqüência, sua dieta. Trocaram carboidratos por mais proteínas no cardápio - basicamente carne, leite e queijos. Um bom exemplo é o do consumo de carne na China. Segundo dados publicados pela revista britânica The Economist, cada chinês consumia em média 20 quilos de carne por ano em 1985. Hoje, consome 50. Maior consumo de carne quer dizer maior consumo de grãos. Para produzir um quilo de carne bovina, são necessários 8 quilos de grãos.



Recordes sucessivos do preço internacional do petróleo
O preço do barril de petróleo aumentou 110% entre o o início de 2007 e abril de 2008, o que elevou o preço dos transportes e dos insumos, como fertilizantes a adubos. A interrupção da produção de petróleo na Nigéria, a contínua queda do dólar ante o euro e o temor pela crescente demanda da commodity na China fizeram com que o petróleo chegasse próximo à casa dos 120 dólares em abril de 2008. A China divulgou que importou um recorde de 4,09 milhões de barris por dia de petróleo em março do mesmo ano. Já Nigéria opera abaixo de sua capacidade por problemas de segurança. Dois oleodutos que alimentam um terminal-chave de exportação foram atacados por rebeldes e não puderam ser acessados pela Shell. As exportações de 169.000 barris ao dia foram suspensas por três meses após um ataque a um oleoduto. Aliada à crise mundial, a alta do petróleo foi responsável por dobrar o preço da tonelada dos fertilizantes. Além disso, algumas medidas tomadas pelos governos dos principais países produtores pressionam ainda mais os preços dos insumos. A Rússia impôs novas taxas à exportação, enquanto a China decidiu que os fertilizantes não possuem mais prioridade no sistema de transporte ferroviário, o que complica sua exportação. Além do preço dos alimentos, o alto custo do petróleo influencia também outros setores da economia, desencadeando uma inflação geral.



A ação dos especuladores e a queda acentuada do dólar




No caso do trigo, o preço cresceu também em função da especulação financeira. A crise global de crédito originada nos Estados Unidos fez com que os investidores procurassem os fundos de commodities como alternativa para ganhar dinheiro. Acabaram ajudando a jogar os preços para cima. Os alimentos são cotados internacionalmente em dólar. A especulação do mercado e a queda constante nos preços das ações são fatores que agravam ainda mais esse problema. A especulação retroalimenta o processo de alta no preço da comida. Outro fator que tem certo peso no problema: a cotação do dólar no mercado internacional caiu 37% nos últimos 6 anos. Isso também provoca a fuga para as commodities. 

Aumento da produção destinada aos biocombustíveis

O principal problema tem relação com o etanol produzido nos Estados Unidos. O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que a produção de etanol americana é responsável por metade do aumento da demanda mundial de milho nos últimos três anos. Isso aumentou o preço do milho e o preço das rações. Dessa forma, aumentam também os custos de produtos bovinos e suínos, já que o milho é usado em rações animais. De acordo com o Departamento de Agricultura, o mesmo ocorreu com outras colheitas - principalmente a soja - quando os produtores decidiram mudar seus cultivos para o milho. O relator especial da ONU para o Direito à Alimentação, Jean Ziegler, exagera: afirma que a produção em massa de biocombustíveis representa um "crime contra a humanidade" por seu impacto nos preços mundiais dos alimentos. Os críticos dessa tecnologia argumentam que o uso de terras férteis para cultivos destinados a fabricar biocombustíveis reduz as superfícies destinadas aos alimentos e contribui para o aumento dos preços dos mantimentos. O debate ecoou com força no Brasil. Como o etanol é uma prioridade do governo brasileiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula reagiu. Acusou Ziegler de não conhecer a realidade brasileira. No Brasil o etanol é produzido a partir da cana-de-açúcar. Dos 355 milhões de hectares disponíveis para plantio no país, somente 90 milhões seriam adequados à cultura de cana, que atualmente ocupa apenas 7,2 milhões de hectares (metade deles para a produção de açúcar). Em São Paulo, a plantação de cana ocupou o espaço de pastagens, nos últimos anos, sem que a produção de carne bovina tenha diminuído. Enquanto Ziegler ataca os biocombustíveis como um todo, outros representantes da ONU reconhecem que o problema não está no Brasil, mas sim nos EUA. E mesmo nesse caso há quem discorde da influência negativa no preço dos alimentos.



Fatores naturais que atrapalham a produção agrícola

Secas, enchentes, pragas e doenças nos rebanhos provocaram graves quebras de safra na China, na Europa e Austrália, reduzindo a oferta de comida. A Austrália, segundo maior exportador de trigo, teve forte seca. Projeções oficiais dão conta de uma redução de 10% nas chuvas até 2030, o que deve se traduzir na queda de 10% da produção de trigo, carne bovina, lácteos e açúcar, além de uma queda de 63% das exportações desse conjunto de commodities. Nos últimos três anos, o Brasil teve secas tão profundas no sul que perdeu 40 milhões de toneladas de grãos. Os estoques de milho, trigo e arroz, os cereais básicos para a alimentação do mundo, estariam em 70% das marcas de 1999.
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