As esquerdas na América Latina passaram anos na confortável posição de criticar, na oposição, qualquer esforço de integração e de desenvolvimento que tentava-se lograr.
Após mais de vinte e cinco anos como maioria na expressiva quantidade dentre as mais de vinte mil cidades que compõem o elenco de zonas eleitorais, os partidos de esquerda defontram-se com a opção populista do Estado promover os bens e desenvolvimento sob o caro castigo de tornar bens e produtos exportáveis pouco competitivos e passarem a depender de vultosos aportes de investimentos externos.
Sob o mesmo perfil não logram êxito e passam para a maquiagem de números e índices aproveitando a baixa capacidade de governança das sociedades latinas.
O que se vê no exemplo dessa reportagem também é comum na Bolívia, Venezuela, Nicarágua, Guatemala e, via de regra em países do Mar do Caribe.
Não estivemos nem estaremos livres do mesmo fenômeno, basta dar-se tempo ao tempo.
Enfim, é um sinal do nosso peculiar e moreno jeitão de vivermos em democracia: criticou o partido de esquerda no poder, pau nele!!
Os pitboys de Cristina
O governo Kirchner contratou baderneiros para ameaçar funcionários públicos que não aceitam manipular estatísticas. Um dos brutamontes até acompanha a seleção argentina na África do Sul
Para a Copa do Mundo, cada seleção levou um pouco de seu país. Os brasileiros, por exemplo, levaram pandeiros para o pagode. Já a Argentina reservou 22 assentos do avião parabarrabravas, os membros das violentas torcidas organizadas. Entre os hooligans argentinos que acompanham a delegação na África do Sul está Ariel "Verme" Pugliese, a quem também coube servir de segurança do atacante Lionel Messi durante a fase eliminatória do torneio. Membro da torcida do Nueva Chicago, time da terceira divisão, Pugliese foi investigado em 2007 pelo homicídio de um torcedor do Tigre. Em outubro do ano seguinte, foi baleado em uma briga de torcida. As encrencas futebolísticas são apenas o hobby de Pugliese. Profissionalmente, ele faz parte de uma gangue de funcionários a serviço da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, no Indec (Instituto Nacional de Estatísticas e Censos, equivalente ao IBGE brasileiro), órgão público responsável pelo cálculo da inflação, do produto interno bruto (PIB), dos índices de pobreza e pela contagem da população. Os pitboys de Cristina têm a função de ameaçar e, quando necessário, espancar os colegas de trabalho que se negam a acatar as ordens do governo de falsificar estatísticas.
A maquiagem dos dados eco-nômicos começou em 2007, na Presidência do marido e antecessor de Cristina, Néstor Kirchner, com o objetivo de dar aumentos salariais aos servidores públicos com base em índices de inflação mais baixos que os verdadeiros. Pouco a pouco, todos os departamentos do Indec foram empastelados. "Ao falsear os dados de inflação, foi preciso adulterar as demais estatísticas", diz Graciela Bevacqua, que era a responsável pela medição dos preços e foi demitida em janeiro de 2007 por se negar a participar da maracutaia. A falsificação dos dados oficiais faz a situação da economia argentina parecer muito melhor do que de fato é. Segundo o Indec, o PIB cresceu 0,9%. Para as consultorias privadas, o que houve foi uma retração, estimada entre -3% e -4,4%. Oficialmente, a proporção de pobres no país é de 13,2%. Na realidade, está em 30%. A inflação dos Kirchner foi de 7,7% em 2009. A das estimativas independentes, de 15%. O desemprego segundo o Indec é de 8%. Os cálculos mais confiáveis chegam a 11%. A intervenção de Néstor e, agora, Cristina Kirchner no Indec não foi recebida com passividade pelos técnicos do instituto. Muitos, como Graciela, se rebelaram. Dos mais de 1 000 funcionários, cerca de 200 foram demitidos ou transferidos para funções irrelevantes. Em seu lugar, foram contratados 600 novos funcionários, fiéis aos Kirchner, entre os quais o grupo de 100 brucutus do qual Pugliese faz parte. Eles são conhecidos internamente como la patota.
Em abril passado, durante o lançamento de um livro em Buenos Aires com críticas à ingerência kirchnerista nos dados oficiais, Pugliese e seus comparsas agrediram os convidados, majoritariamente técnicos do Indec, com cadeiradas e empurrões. No cotidiano do instituto, os aspones da pancadaria cuidam para que os funcionários mais antigos obedeçam às orientações do governo. Quem sai da linha recebe ameaças verbais ou é alvejado com lixo e copos d’água nos corredores. Em 2008, um grupo de técnicos foi agredido ao tentar levar um abaixo-assinado ao ministro da Economia, ao qual o Indec é vinculado. "Os membros da patota estavam nos esperando dentro do prédio do ministério. Quando entramos, eles diminuíram a luz e começaram a nos bater", conta a socióloga Cynthia Pok, de 64 anos, ex-diretora da pesquisa permanente de domicílios do Indec. Cynthia precisou entrar na Justiça para não ser demitida, mas foi afastada do trabalho direto com as estatísticas. As ameaças não pararam. No mês passado, quando ela e outros funcionários chegaram ao trabalho pela manhã, encontraram os seus computadores destruídos. Obra da patota.
Os diretores kirchneristas do Indec rasgaram as metodologias científicas consagradas e inventaram novas, incluindo um programa de computador que elimina automaticamente os dados de qualquer produto cujo preço suba mais de 15%. Em maio de 2008, os técnicos do Indec iniciaram o censo agropecuário. A coleta de informações, que deveria durar dois meses, ainda não terminou. Para impedir que os técnicos mais antigos tenham acesso ao levantamento, foram erguidos tapumes de madeira no meio da sala de pesquisas. Só os funcionários pelegos podem entrar no espaço onde estão os computadores do censo atrasado. O resultado da falta de transparência no Indec é que as estatísticas publicadas pelo órgão deixaram de ser usadas por economistas, consultores, demógrafos e até burocratas do governo. "A manipulação de dados é tão ostensiva que se tornou impossível ter um retrato objetivo da sociedade argentina", diz o economista Javier Lindenboim, diretor do Centro de Estudos sobre População, Emprego e Desenvolvimento da Universidade de Buenos Aires (UBA). Para atender os empresários que precisam de informações críveis para planejar seus negócios, cinco consultorias privadas e a própria UBA coletam dados e divulgam índices de inflação de maneira independente. Em abril, o assessor de um deputado da oposição foi preso sob a acusação de entrar no Ministério da Economia para roubar estatísticas e vendê-las a consultorias. Os supostos compradores defendem-se dizendo que não se interessam por números produzidos pelo ministério. É tudo falso, mesmo.
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Métodos nazi-fascistas que até funcionam durante curto espaço de tempo. O que nos leva a perguntar: quando seremos a bola da vez?? No Brasil, a manipulação imoral já ocorre. No entanto, a ação das patrulhas pelegas ainda é localizado como em SP.Fernando.
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