domingo, 20 de junho de 2010

Feliz por nada

Martha Medeiros




Geralmente, quando uma pessoa exclama Estou tão feliz!, é porque engatou um novo amor, conseguiu uma promoção, ganhou uma bolsa de estudos, perdeu os quilos que precisava ou algo do tipo. Há sempre um porquê. Eu costumo torcer para que essa felicidade dure um bom tempo, mas sei que as novidades envelhecem e que não é seguro se sentir feliz apenas por atingimento de metas. Muito melhor é ser feliz por nada.

Digamos: feliz porque maio recém começou e temos longos oito meses para fazer de 2010 um ano memorável. Feliz por estar com as dívidas pagas. Feliz porque alguém o elogiou. Feliz porque existe uma perspectiva de viagem daqui a alguns meses. Feliz porque você não magoou ninguém hoje. Feliz porque daqui a pouco será hora de dormir e não há lugar no mundo mais acolhedor do que sua cama.

Esquece. Mesmo sendo motivos prosaicos, isso ainda é ser feliz por muito. Feliz por nada, nada mesmo?

Talvez passe pela total despreocupação com essa busca. Essa tal de felicidade inferniza. "Faça isso, faça aquilo". A troco? Quem garante que todos chegam lá pelo mesmo caminho?

Particularmente, gosto de quem tem compromisso com a alegria, que procura relativizar as chatices diárias e se concentrar no que importa pra valer, e assim alivia o seu cotidiano e não atormenta o dos outros. Mas não estando alegre, é possível ser feliz também. Não estando "realizado", também. Estando triste, felicíssimo igual. Porque felicidade é calma. Consciência. É ter talento para aturar o inevitável, é tirar algum proveito do imprevisto, é ficar debochadamente assombrado consigo próprio: como é que eu me meti nessa, como é que foi acontecer comigo? Pois é, são os efeitos colaterais de se estar vivo.

Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que não se cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por terem falhado, não se torturam por terem sido contraditórios, não se punem por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem.

Se é para ser mestre em alguma coisa, então que sejamos mestres em nos libertar da patrulha do pensamento. De querer se adequar à sociedade e ao mesmo tempo ser livre. Adequação e liberdade simultaneamente? É uma senhora ambição. Demanda a energia de uma usina. Para que se consumir tanto?

A vida não é um questionário de Proust. Você não precisa ter que responder ao mundo quais são suas qualidades, sua cor preferida, seu prato favorito, que bicho seria. Que mania de se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Você é o que é, um imperfeito bem-intencionado e que muda de opinião sem a menor culpa.
Ser feliz por nada talvez seja isso.
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Grato minha irmã Dária.

2 comentários:

  1. O fato de acordarmos a cada dia, ou seja, de estarmos vivos, já é motivo suficiente para estarmos felizes, pois cada dia que nos é concedido é uma oportunidade a mais que Deus nos presenteia para podermos tentar acertar o caminho pelo o qual devemos seguir.

    Durante o percurso da vida acabamos aprendendo a sempre valorizar mais as coisas que nos rodeiam do que aquilo que realmente nos pertence: a nossa essência, que é a verdadeira responsável pela nossa felicidade.

    Ao descobrirmos que a fonte da felicidade encontra-se dentro de nós, essa felicidade começa então a se expandir e se exteriorizar. Quando isso ocorre, começamos a transmiti-la àqueles que nos rodeiam e ao ambiente que nos cerca e até mesmo (porque não?!) àqueles que encontram-se separados de nós pela distância física, mas que de uma forma "inexplicável (?)" se encontram sintonizados com a gente e, por isso, conseguem sentir as energias positivas provenientes da felicidade que são emitidas através do pensamento.

    Os momentos de alegria são inconstantes, assim como os de tristeza. A vida é feita desses momentos inconstantes, constantemente. Acredito que FELICIDADE não significa sermos alegres o tempo todo, mas sabermos comemorar cada vitória alcançada e também sabermos aceitar os acontecimentos que nos deixam tristes, que servem como momentos de reflexão e de aprendizado para podermos reagir em seguida e seguir adiante com força e esperança de que conseguiremos nos manter bem a cada momento de tristeza e de alegria que acontecem diariamente.

    Felizes são as pessoas que aprendem a viver. Saber viver significa saber lidar com esses altos e baixos da vida. É saber não se deixar levar pelas ilusórias alegrias provenientes das coisas e pessoas superficiais ao nosso redor que poderão ser as causas logo após dos momentos depressivos, aos quais não devemos nos entregar. A depressão nada mais é do que uma espécie de revolta contra a própria vida. A partir do momento em que ocorre a auto-aceitação, os sintomas vão regredindo e a esperança de encontrar o caminho da própria felicidade ressurge. Esse caminho não é fácil de ser encontrado porque ele começa a partir de nós, o início dele encontra-se dentro de nós. Talvez esse lugar que vem de dentro seja o NADA a partir do qual, ao ser descoberto, transforme-se em TUDO o que necessitamos para encontrarmos a tão almejada felicidade que todos buscamos.

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