Correio Braziliense - 24/11/2010
Letras pretas em fundo amarelo recepcionavam os passageiros no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília, ontem, com um recado incômodo. “Aumento real ou greve”, dizia a faixa sustentada por três representantes dos quase 50 mil trabalhadores do setor aéreo brasileiro — tanto os de tripulação quanto os de terra. O protesto se repetiu em outros terminais importantes, como os de São Paulo e do Rio de Janeiro, como forma de pressionar os donos das companhias aéreas a atenderem as reivindicações da categoria. As principais são reajuste salarial de 15% e 30% de aumento sobre os pisos e o vale-refeição. “Até agora, a única coisa que recebemos foi uma proposta indecente de adiarmos nossa data-base, em 1º de dezembro, para abril. Que força teremos em abril, baixa temporada, para negociar?”, questiona Luiz Carlos Pereira, diretor do Sindicato dos Aeroviários.
Pereira destaca que, a partir dos resultados de uma reunião marcada para amanhã, no Rio de Janeiro, entre os sindicalistas e os patrões, a categoria começará a mobilização para paralisar. “Hoje (ontem) só estamos fazendo um protesto nos aeroportos, mas conforme os rumos da negociação pensaremos em operação padrão ou greve”, destaca Pereira. Por meio da assessoria de imprensa, o Sindicato Nacional das Empresas Aéreas (Snea) afirmou que as negociações estão sendo levadas a bom termo. A entidade destacou acreditar em um acordo consensual com os trabalhadores a exemplo do ocorrido nos últimos anos. Além dos protestos com faixas, sindicalistas distribuíram ontem uma cartilha de mobilização com o título “Trabalhadores oprimidos, patrões cada vez mais ricos”.
A manifestação dos trabalhadores não alterou a rotina dos voos. Dos 1.779 programados para decolar até as 17h de ontem, horário mais atualizado pela Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) até o fechamento desta edição, 8% estavam atrasados — média considerada normal. E 4,4% haviam sido cancelados. A companhia Avianca foi a recordista tanto no ranking de saídas fora do horário previsto quanto nos cancelamentos.
Para a veterinária Naia de Brito e Alves, que voltava de um intercâmbio de 10 meses nos Estados Unidos, o problema se deu com a Delta Airlines. O avião que a trouxe de Atlanta até Brasília saiu atrasado, e Naia acabou perdendo a conexão para São Luís, onde mora. Apenas com um vale-refeição de R$ 38 e tendo que esperar quase 10h para pegar o próximo voo, a veterinária registrou reclamação na Anac, foi encaminhada ao Juizado Especial instalado no aeroporto. Mas de nada adiantou. “Terei que entrar com um processo lá em São Luís”, lamenta.
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