Apesar de discordar da natural visão eminentemente sindicalista da crise francesa, o autor do artigo abaixo faz um alerta importante sobre um risco que poderemos vivenciar principalmente por excesso de crédito em uma economia que não possui infra-estrutura adequada para sustentar uma explosão de consumo.
Quanto ao livro, Germinal de Emile Zolá, li em minha juventude e ele transmite muita amargura e miserabilidade humana.
O curioso é que, apesar da forte tendência ideológica no segmento da Educação, esta não foi uma obra de leitura obrigatória nas escolas e universidades. Valeria a pena ter sido para ajudar em nosso amadurecimento.
Agravando o problema
Antonio Neto - O Globo
Amigo e contemporâneo de Procópio Ferreira, o advogado Alcides Gentil, autor de “As ideias do presidente Getúlio Vargas”, lançado em 1939, revelou em seus escritos que o criador das leis trabalhistas no Brasil leu “Germinal”, de Emile Zola, antes de liderar a revolução de 30.
O movimento completou 80 anos no dia 3 de outubro, data do primeiro turno eleitoral.
“Germinal” revelou ao mundo os desencantos da vida dos operários das minas de carvão na França do século XIX. Jornalista, Zola trabalhou dois meses com os mineiros, para entender a realidade desses profissionais antes de elaborar seu detalhado texto, um clássico do naturalismo. Explorados por personagens avarentos, preguiçosos, gananciosos e comilões da burguesia francesa, os trabalhadores das minas de Montsou organizaram uma greve geral para protestar contra seu triste destino, no que se refere às péssimas condições de trabalho que tinham que enfrentar. Doentes, eles e suas famílias comiam mal e viviam endividados com os baixos salários que recebiam.
Liderados pelo protagonista Etienne Lartier — escritor e jornalista na ficção, tal como Zola na realidade — eles tiveram sua manifestação reprimida, mas não perderam as esperanças, e essa foi a grande mensagem que o autor quis passar em seu grande romance.
Zola nos remete diretamente a dois acontecimentos recentes que dominaram os meios de comunicação. O primeiro, o acidente causado pela falta de segurança e pelas más condições de trabalho impostas por uma mineradora privada no Chile, que quase vitimou 33 trabalhadores. O segundo é o levante dos operários franceses contra o retrocesso nos direitos sociais orquestrado pelo governo.
Embora distantes, o acidente no Chile e o movimento dos trabalhadores na França estão profundamente ligados. Ambos se originam da ganância do sistema. A busca pelo lucro maximizado vitima os mineradores e faz, na França, retroagir a aposentadoria para um modelo em que o trabalhador dedique a sua saúde para a empresa até que ela impeça o descanso digno e merecido.
As “reformas” na França e na Europa aprofundam ainda mais os efeitos da crise do continente.
Já vimos esse filme. Querem jogar nas costas dos trabalhadores o custo de uma crise que foi gestada e parida pela ação desenfreada da especulação financeira. Após uma fase de maquiagem na economia e das supostas ações anticíclicas dos países europeus, a verdade é que nenhuma reforma foi feita no sistema bancário e financeiro dos países centrais para impedir a livre ação dos conglomerados especulativos que causaram a crise de 2008.
Felizmente, os bons ventos do governo Lula e a luta das centrais sindicais impediram que o Brasil ingressasse nessa onda covarde e destrutiva que assola o velho mundo. Nós, sindicalistas, e todos os que concordam com a administração lulista conseguimos superar a crise e transformá-la numa marolinha porque fizemos o inverso, ou seja, fortalecemos os direitos, ampliamos os ganhos salariais e, com isso, maximizamos o poder do mercado interno, criando um ciclo virtuoso de emprego, renda e consumo.
Zola, os mineradores e a França nos trazem o alerta: ou aprofundamos os avanços que o Brasil vem consolidando, ou regressaremos para um tempo sombrio, que há pouco mais de uma década levou o Brasil ao abismo.
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