O Estado de S. Paulo
"Não há razão para pensar que cada país fará alguma coisa diferente depois desse encontro." A frase do economista-chefe da Capital Economics define bem o resultado da reunião do G-20, em Seul. Os países que se sentirem muito prejudicados poderão adotar medidas para defender suas moedas. Uma autorização inócua, porque eles já estão fazendo isso sem ter que pedir autorização a ninguém ou estar sujeito a punições impossíveis de serem aplicadas.
Vão cria um tal índice para avaliar os componentes de valorização de uma moeda, pois ela pode estar desvalorizada mesmo que a cotação em relação a outras permaneça constante. Mesmo que se constate o que já se sabe, não há sinais de mudança. Tudo começa e acaba na decisão política dos governos de voltar a crescer, o que, no fundo, é a raiz da guerra cambial.
China promete. Neste sentido, se o presidente chinês, Hu Jintao, não aceita a desvalorização de sua moeda, pelo menos se comprometeu em intensificar o consumo interno, reduzindo a dependência das exportações. Na verdade, a China já vem fazendo isso, mas encontra sérios problemas como inflação, excesso de liquidez, migrações e tensões sociais. Até onde ela estaria disposta a fazer concessões para um mercado externo ainda ávido pelos seus produtos? E quem vai obrigá-la a isso?
O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Khan, foi muito preciso ao analisar o problema. "É um problema complicado. Não foi posto de lado, mas adiado por um tempo ilimitado." Até quando? Ele não diz, mas insinua, até que a situação se agrave muito. No fundo, dá para ir levando. Para eles, os EUA, a China, a União Europeia, sim. Mas para outros países, como o Brasil, não.
É hora de agir. Neste cenário em que ninguém faz nada até que o pior aconteça, há países mais indefesos que sofrem mais. O Brasil acertou em não tomar posição no confronto entre Estados Unidos e a China. Condenou os dois.
Eles estão errados ao defenderem interesses próprios, sem levar em conta o comum, mas não podemos fazer nada a não nos defender, sem contar com ninguém. Nesse clima de confronto, não há parceiros ou aliados, só adversários comerciais. Lula mudou o tom do seu discurso, e agora não poupou a China, não só pela manipulação cambial, mas também pelos subsídios às exportações. E pode apontar para a União Europeia, que só não faz guerra cambial porque não pode, mas acumula superávits comerciais igualmente danosos para o comércio com o Brasil.
Lula pode não entender muito de economia, mas foi muito feliz ao afirmar que não está tao preocupado com a desvalorização do dólar, mas com a valorização do real, uma consequência de outros fatores alheios à cotação internacional da moeda americana. Traçou uma espécie de agenda para o próximo governo ao dizer que o Brasil precisa voltar-se mais para o mercado externo.
Dilma. A preocupação de Dilma com a valorização do real, manifestada em Seul, foi também um bom sinal. Ela se afastou um pouco dos temas discutidos na reunião do G-20 para reafirmar que o câmbio é um problema também brasileiro. Tomará todas as medidas possíveis, além do que já está sendo feito. Mas aqui voltamos ao início, muito vai depender de ajustes fiscais severos que podem conter a taxa de crescimento.
Vamos sozinhos. Pode-se dizer que a conclusão do encontro do G-20 em Seul é que cada país vai continuar sozinho na defesa de seu mercado e sua moeda, mesmo assumindo não o compromisso, mas o propósito, de não agravar a situação. A consequência é que a economia global vai crescer menos e a saída da recessão será mais prolongada, o que provocará mais tensões comerciais.
O Brasil não tem nada a aprender com essa reunião do G-20. Já vinha fazendo o que eles estão recomendando agora. Só terá de administrar agora as consequências do sucesso. Nada mal, quando olhamos o que eles, os grandes, estão vivendo...
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